Práticas ESG estão ao alcance das pequenas empresas

As práticas ESG – sigla em inglês que significa environmental, social and governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização – estão ao alcance de qualquer negócio, indiferente de porte, segmento ou condições financeiras.
“Os empresários precisam ficar atentos porque esse tema está em todo lugar e pode representar oportunidade de negócios”, alerta o analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), Agmar Campos.
A decisão de compra, por exemplo, está cada vez mais pautada pela temática, relatório da PwC (PricewaterhouseCoopers) confirma esse comportamento, já que 77% dos investidores institucionais pesquisados disseram que planejam parar de comprar produtos não ESG nos próximos dois anos.
Além disso, conforme a empresa de pesquisa Nielsen, 75% dos millennials (pessoas nascidas de 1981 a 1995) afirmam mudar seus hábitos de compra para favorecer produtos ecologicamente corretos e a maioria está disposta a pagar mais por este tipo de produto, quando comparados a seus concorrentes mais baratos.
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Campos ressalta que as empresas de maior porte, há algum tempo, publicam relatórios de sustentabilidade apontando o que têm feito em relação a temas como meio ambiente, transparência, diversidade e inclusão social em suas equipes, entre outras pautas relacionadas às questões sociais, ambientais e de governança corporativa. Ele acrescenta que a ampliação da agenda de sustentabilidade/ESG tem levado essas corporações a exigirem de fornecedores e clientes a adesão às mesmas pautas ou a temas semelhantes.
“Há duas formas de as empresas pequenas se inserirem no universo das práticas ESG, seja pela demanda das grandes empresas, como fornecedores, ou ainda para atender à demanda dos consumidores, que pensam ESG como um fator de diferenciação na hora de adquirir produtos e serviços”, observa.
O analista do Sebrae Minas aconselha que o empreendedor analise os pontos vulneráveis no seu negócio, os impactos que são negativos e que precisam ser corrigidos, bem como os pontos positivos, do ponto de vista da sustentabilidade, que precisam ser mantidos e até maximizados e divulgados.
Ele alerta que as empresas não devem fazer divulgação falsa sobre sustentabilidade, o chamado greenwashing (do inglês, “lavagem verde”). “Isso vai prejudicar a imagem da empresa”, frisa.
O especialista ressalta que o Sebrae está atento ao tema e a essa oportunidade para os pequenos negócios, por meio de diversas iniciativas, que podem ser encontradas no site do Sebrae, bem como no Sebrae Play, além das consultorias, que podem ajudar o empreendedor a implementar as práticas ESG.

Modelo resulta em reconhecimento internacional
As práticas ESG (ou AGS, traduzido para o português, que significa práticas ambientais, de governança e sociais) são cada vez mais importantes para os negócios, destaca o produtor e um dos sócios da empresa AgroBeloni, Fernando Nogues Beloni.
E ele entende do assunto, já que a propriedade rural, localizada em Patrocínio, no Alto Paranaíba, conquistou no fim de 2021 a certificação de primeira fazenda de café regenerativo do mundo.
A propriedade foi reconhecida pela certificadora britânica Control Union, empresa britânica presente em diversos países, que atestou que o café é produzido com boas práticas agrícolas e o uso da tecnologia aliada ao manejo responsável, garantindo alta produtividade da lavoura em harmonia com o bioma do Cerrado.
Beloni explica que o certificado valida práticas realizadas há mais de três anos, com foco no aumento da saúde do solo, estímulo à biodiversidade, controle da emissão de gases de efeito estufa e sequestro de CO2. “Temos essas práticas há muitos anos, quando sequer era usada essa sigla, pois são questões que sempre foram importantes para nós”, destaca.
O empresário explica que a busca pela certificação foi incentivada por meio da comercialização do seu café pela Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer) a uma empresa francesa que mostrou interesse pela certificação.
Ele conta que a certificação não teve impacto imediato nos negócios. “Na ocasião, ainda era algo novo. Agora, é que está acontecendo o boom, estamos recebendo a visita de vários clientes de fora do Brasil”, diz.
A agricultura regenerativa se baseia em processos de produção que restauram o solo, melhoram a biodiversidade entre os polinizadores naturais (abelhas e borboletas) e aumentam a captação de carbono no solo, obtendo dessa forma benefícios ambientais duradouros.
Os cafés possuem também a certificação Rainforest, que comprova protocolos sustentáveis com o meio ambiente e atitudes responsáveis e legais com colaboradores, mercado e consumidores. Além do café, a AgroBeloni produz batata, cebola e grãos. “Um dos nossos pilares é a diversificação”, frisa.
Beloni, que é a terceira geração de agricultores da família, conta que os desafios fazem parte do negócio. “Eles só são diferentes dependendo da fase do negócio, no começo a gente tinha que dar conta de tudo, de todas as etapas. Hoje, contamos com uma boa equipe. Aí, é necessário saber contratar, treinar e manter a equipe motivada”, diz.
Ele acrescenta que trabalhar com a agricultura traz os mais diversos desafios, já que a produção depende do clima, que varia, além da questão dos preços de insumos e das cotações do valor do produto. “São diversas variáveis no negócio”, observa.
Fazenda no Alto Paranaíba produz café e preserva o ambiente
A Fazenda Reserva Heitor, em Patos de Minas, na região do Alto Paranaíba, tem a produção de café pautada pela sustentabilidade. “Desde o início a ideia sempre foi produzir bons cafés em harmonia com o ambiente onde a fazenda estava inserida”, destaca a proprietária e gestora do empreendimento, Mariana Velloso Heitor.
Ela conta que os primeiros pés de café foram plantados junto com as primeiras árvores da fazenda. “Meus pais sempre entenderam que para produzir era necessário cuidar também do capital social e ambiental da fazenda. O que mudou de lá para cá é que surgiram novos estudos e tecnologias para melhorar a nossa produção e gerar ainda menor impacto, e nós estamos sempre abertos a conhecer e adotar novas práticas e ideias conforme tudo vai evoluindo”, diz.
Mariana Heitor ressalta que hoje é usado o termo agricultura regenerativa, que nada mais é do que as práticas que são adotadas pela fazenda há alguns anos. “Entendemos que não é possível apenas sugar do solo e da planta, é preciso cuidar”, frisa. Ela acrescenta que o principal desafio das práticas ESG é entender e acompanhar tudo que acontece, se atualizar e saber mensurar o que é possível encaixar dentro da realidade da fazenda.
A gestora conta que a fazenda conta com ajuda do agrônomo Caio Lazarini, por meio do Educampo, que é um programa do Sebrae que oferece consultoria agronômica especializada. “O Caio nos ajuda com o manejo agrícola e também com a parte econômica do negócio, nos auxiliando nas tomadas de decisão”, diz.
Para ela, a adoção de práticas ESG mostra a seriedade do trabalho para os clientes e os fornecedores. “É a certeza de que, consumindo o nosso produto, o cliente estará na ponta de uma cadeia organizada e compromissada com seus valores. Somos uma fazenda certificada internacionalmente, que adota práticas pensando no futuro”, ressalta.
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