Saiba quais são os principais efeitos gerados pela queda na taxa de juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, na última quarta-feira (2), cortar em 0,5 ponto percentual (p.p.) a taxa de juros (Selic). Com isso, a taxa básica de juros do Brasil passou para 13,25% ao ano. Veja quais são os principais efeitos dessa que é a primeira redução dos juros no País desde 2020.
O economista e colunista do DIÁRIO DO COMÉRCIO, Guilherme Almeida, explica que essa redução na taxa básica de juros tem um impacto direto nos financiamentos e concessões de crédito, seja para pessoa física ou jurídica.
Porém, ele ressalta que esse impacto será bastante tímido e limitado no curto prazo. Já que existem outros fatores, além da taxa Selic, que os bancos consideram na formação dos juros cobrados aos consumidores, como o risco da operação, que pode ser traduzido pela inadimplência.
“De forma geral, hoje, a inadimplência e o comprometimento de renda das famílias e das empresas seguem elevados e isso representa risco para as operações. Então, as taxas de juros praticadas na ponta continuarão elevadas, ainda que ocorra, no curto prazo, uma redução pequena, decorrente dessa queda de 0,5 ponto percentual por parte do Banco Central”, explica.
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Já o economista e CFO da Somus Capital, Luciano Feres, diz que essa redução pode impactar no acesso da população a empréstimos mais baratos. E que assim, o povo investe mais. “A mensagem para o mercado é extremamente positiva. Agora é o melhor momento de investir. O corte é apenas o começo desse movimento e as bolsas já operam em alta”, sugere.
O especialista em educação financeira e diretor de novos negócios da Multimarcas, Fernando Lamounier, afirma que esta redução na taxa Selic interfere em diferentes investimentos como a renda fixa e variável, pois gera uma menor rentabilidade. “Isso faz com que os investidores busquem outras opções mais rentáveis, porém, arriscadas como a Bolsa de Valores”.
Lamounier também afirma que a decisão do Copom tem potencial de gerar mais empregos, assim como a redução de preços, já que o acesso a créditos mais baratos serve como motivador para que as empresas passem a investir mais em equipamentos e contratações, afetando diretamente no custo das operações e colaborando com a diminuição dos preços ao consumidor final.
“O consórcio também se torna uma alternativa para aquisição de outros bens, como a casa própria, visto que quanto maior a taxa, maior o valor dos financiamentos imobiliários, tornando a modalidade cada vez mais atrativa ao substituir juros por taxas de administração”, afirma.
Já Almeida lembra que a redução nos juros cobrados ao consumidor final não se dá na mesma magnitude observada na Selic. “Se o BC reduziu 0,5 p.p. não quer dizer que as taxas de juros praticadas no mercado vão cair na mesma medida. Elas vão cair a depender das estruturas e das operações das instituições financeiras”.
Ele completa que o grande ponto dessa redução está na perspectiva para os próximos meses, já que esse foi o primeiro de uma possível agenda de cortes da instituição financeira. “O BC já tem margem para reduzir um pouco mais a taxa de juros e, é claro, que essa redução tem que ser feita com parcimônia. O banco tem que acompanhar também as expectativas dos agentes do mercado e esse cenário de incertezas”, pondera.
Almeida acredita que o cenário de redução em 0,5 p.p., sinalizado pelo BC na reunião desta quarta-feira, tem grandes possibilidades de se concretizar. Ele ainda revela que a redução de juros também está na perspectiva do Banco Central para os próximos anos, com uma taxa Selic esperada de 9% a 10% em 2024. “Com essas reduções nós teremos boas perspectivas para a retomada do crédito”, afirma.
O economista e colunista do DIÁRIO DO COMÉRCIO conclui que os resultados dessa redução podem ser resumidos na facilitação no acesso ao crédito por parte das empresas e das famílias. “Lembrando que isso deve ocorrer de forma responsável para que as famílias não entrem novamente em um ciclo de autoendividamento, autocomprometimento da renda e termine em um cenário de inadimplência”, ressalta.
Já para Feres, o principal efeito gerado pelo corte de juros é a mensagem transmitida pelo BC sobre o fim do ciclo de alta da Selic e do controle inflacionário. “Isso gera uma expectativa para o mercado inteiro, à medida de manter a taxa juros altos era técnica para controlar a inflação. A mensagem central é que o BC entrou em alinhamento com o governo e entende que o mercado consegue aderir à taxa de juros e isso é muito bom”, relata.
Efeitos da redução da taxa de juros no mercado imobiliário
O CEO da plataforma AluOK e especialista em assuntos imobiliários, Eduardo Luiz, conta que a taxa de juros atual de 13,25% ainda não oferece condições para uma melhora no desempenho do mercado imobiliário no curto prazo. Segundo ele, a redução pode ser vista como uma sinalização de que haverá juros mais baixos daqui para frente.
Luiz lembra que durante os anos de 2021 e 2022 foi observada uma redução na ordem de 19% no volume de concessão de créditos devido à alta taxa de juros. Portanto, se essa tendência de redução dos juros se manter para os próximos meses, o mercado imobiliário, que sofre com uma grande carência, poderá registrar um crescimento no número de compradores novamente.
O especialista no setor imobiliário ainda destaca que o mercado não está, necessariamente, em crise. Na visão de Luiz, o que está ocorrendo no setor é uma crise de acesso ao crédito. “O mercado imobiliário não tem dificuldade em ter demanda, ele tem dificuldade em ofertar um produto que o comprador tenha condições de adquirir, principalmente, quando a gente está falando de financiamento”, afirma.
Já o economista e CFO da Somus Capital acredita que os setores de construção civil e das startups serão os mais fortalecidos com esse corte. No caso da construção, Feres explica que a população conseguirá financiar imóveis, o que irá garantir o crescimento do setor. Enquanto as startups serão beneficiadas, pois exigem grandes quantidades de dinheiro.
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