Retomando o bom caminho

Do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tanto gostava de exibir sua condição de ex-militar, mas deixando de lado o fato de que fora expulso do Exército, o que não se pode dizer é que a qualquer momento tenha disfarçado ou escondido suas verdadeiras intenções. Sonhava com uma posição vitalícia, tanto melhor se livre do incômodo de eleições, as mesmas que o levaram à Câmara dos Deputados por décadas e à cadeira de presidente da República, mas nas quais passou a enxergar fraudes que nunca comprovou. São fatos, hoje, de conhecimento pleno, tanto quanto as inúmeras ocasiões em que repetiu ameaças em que não faltaram referências ao “meu exército”.
Apesar dos maus modos e de um comportamento não raro tosco, o ex-presidente em essência não foi original em relação a outros que, no passado, com menor ou maior dose de sucesso, utilizaram expedientes semelhantes, encontrando abrigo em setores isolados e minoritário das Forças Armadas. O pecado verdadeiro dos militares, no passado como agora, tem sido na realidade o silêncio, permitindo assim que suas espadas pairem como ameaça – ou risco – permanentes. Poucos, pouquíssimos, falando muito em nome de uma maioria silenciosa, possivelmente envergonhada e sem perceber como tem sido usada e manipulada. Algo que vale também, e é fundamental que seja registrado, com relação aos acontecimentos de 1964.
Também naquela ocasião as Forças Armadas foram manipuladas por políticos que esperavam e desejavam que elas abrissem caminho. Não foi o que aconteceu, mas, passadas quase seis décadas, o entendimento deve ser outro. A atual geração de militares, especialmente os de alta patente, nada tem com acontecimentos pelos quais não tem qualquer culpa, não tendo porque assumir responsabilidades ou, até ingenuamente, a defesa do golpe. Embainhar as espadas para que elas fiquem onde devem ficar depende da compreensão da realidade, inclusive do cenário político em que a discórdia é semeada.
Tudo isso nos ocorre a propósito da mencionada alteração da legislação sobre o emprego das Forças Armadas em crises de segurança e ordem pública. Cabe lembrar, e para que fique bem clara a importância da discussão, que a baderna de 8 de janeiro em Brasília pretendia exatamente criar condições para operações de garantia da lei e da ordem e, dessa forma, para promover o golpe. Mudar, enterrar de vez este fantasma, não é e não pode ser questão política. O que está em risco e precisa ser defendido é o Estado e suas funções vitais, inclusive no que toca às próprias Forças Armadas na integridade de seu importante papel e responsabilidades.
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