Sem barragens e com bioamassa: mineração e siderurgia miram sustentabilidade

Os esforços do setor produtivo em busca de práticas sustentáveis junto ao meio ambiente são inúmeros e variam de atividade para atividade. A mineração, com empenho relacionado à extinção das barragens de rejeitos, e siderurgia, pela substituição do carvão mineral pelo vegetal, têm investido e buscado alternativas.
De acordo com o gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Thiago Rodrigues Cavalcanti, a siderurgia mineira, em especial, mantém o protagonismo que se aventa para a legislação e a matriz energética nacional.
“Enquanto o mundo ainda depende do carvão mineral para a alimentação dos altos-fornos, aqui temos o uso de biomassa que vem, basicamente, do eucalipto. Só em Minas são mais de 2 milhões de hectares de floresta plantada. Isso contribui não apenas para o clima, mas também para a vegetação do Estado”, ressalta Cavalcanti.
O especialista lembra que para cada hectare plantado em Minas Gerais, há a preservação de mais 0,7 hectare de vegetação nativa. Além disso, o Estado possui um terço de seu território coberto por vegetação nativa. É a maior cobertura vegetal do País para além dos estados que compõem a Floresta Amazônica.
E mesmo no Quadrilátero Ferrífero, onde se concentra a maior parte da produção minerária do Estado, um dos setores mais afrontados quando o assunto é preservação do meio ambiente, essa cobertura, conforme o gerente de Meio Ambiente da Fiemg, chega próxima aos 70%. E a área ocupada pela atividade é de apenas 3%.
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Barragens
Por falar em mineração, é inevitável abordar o tema meio ambiente no setor sem recordar os rompimentos das barragens de rejeitos de Mariana (2015), na região Central, e Brumadinho (2019), na RMBH. Ambas as tragédias derramaram milhões de metros cúbicos de lama com rejeitos da mineração, devastaram cidades e ceifaram centenas de vidas.
O episódio de Fundão, da Samarco Mineração, especialmente, é considerado, inclusive, a maior catástrofe ambiental já ocorrida no Brasil. O colapso da estrutura ocasionou o extravasamento imediato de aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e sílica, entre outros materiais. Outros 16 milhões de metros cúbicos continuaram escoando lentamente. Após percorrerem 22 quilômetros no rio do Carmo, alcançaram o rio Doce, deslocando-se pelo leito até desaguar no Oceano Atlântico, alcançando o Espírito Santo.
Quatro anos depois, um episódio semelhante, com o rompimento da barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão da Vale, em Brumadinho. A capacidade da estrutura era de 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos e a lama derramada atingiu, dessa vez, a região do Rio Paraopeba, comprometendo, inclusive, o abastecimento de água na região.
E como a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) faz captação de água para tratamento na bacia do Paraopeba, chegou-se a falar em desabastecimento na Capital. Cerca de 30% dos recursos hídricos direcionados aos domicílios de Belo Horizonte foram impactados e a mineradora teve que construir um novo sistema de captação.
Mineração “verde”
Fato é que, após os rompimentos, a mineração evoluiu no mundo inteiro e, especialmente, no Brasil e em Minas Gerais. Desde então, legislações foram revistas e protocolos de atuação lançados a fim de aprimorar a atividade e evitar que tragédias do tipo voltem a ocorrer.

A nível mundial, há, por exemplo, o Padrão Global da Indústria sobre Gestão de Rejeitos (global industrial standard tealing management – GISTM), protocolo lançado em 2020. E o Padrão MAC’s Towards Sustainable Mining (TSM), canadense. Ambos possuem caráter voluntário no Brasil, mas o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) orienta e incentiva a adoção por parte das mineradoras.
Nacionalmente, as leis também evoluíram. E em Minas, foi primeiramente instituída uma lei estadual, que evoluiu para âmbito nacional com a revisão da Política Nacional de Segurança de Barragens. Sem contar resoluções dos órgãos de fiscalização como a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e a Agência Nacional de Mineração (ANM).
De acordo com Cavalcanti, apenas entre 2019 e 2022, o setor investiu quase R$ 17 bilhões em segurança de barragens, novas tecnologias de filtragem de rejeitos para disposição a seco e descaracterização das estruturas.
“Em 2022, diversas mineradoras assinaram um termo de compromisso com o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) destinando mais de R$ 500 milhões para a fiscalização das barragens. Ou seja, existe um esforço conjunto para mitigar qualquer impacto que possa existir neste sentido. As empresas buscam a evolução, até porque, em Minas, o setor responde por 5,4% do PIB. É uma atividade extremamente importante para o Estado, que gera cerca de 300 mil empregos e contribui com bilhões em impostos todos os anos”, conclui.
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