Editorial

Reflexões oportunas

Reflexões oportunas
Crédito: Gil Leonard/Imprensa MG

Qualquer pessoa que ocupe posição de destaque, não importa se no setor privado ou público, deveria aprender como uma de suas primeiras lições a não falar de improviso ou responder a quem quer que seja por impulso. Muito provavelmente, diria o ex-presidente José Sarney, o primeiro dos mandamentos do que ele próprio chamou de “liturgia do cargo”. Uma lição da maior importância, mas nos últimos tempos posta de lado em nosso País, onde a pressa de falar, de responder ou até de ocupar espaços tem gerado sucessivos incômodos, e isto para não colocar a questão em termos mais severos.

Caso recente do governador Romeu Zema, que, com toda certeza, se tivesse refletido um pouco mais não teria dito o que disse, ou pareceu dizer, sobre as relações entre o Sul-Sudeste e o Norte-Nordeste do País. Querendo ou não alimentou uma polêmica antiga e botou fogo na fogueira de antigas incompreensões, chegando em consequência até a ser acusado de estar propondo algo que pudesse ser definido como uma redivisão territorial do País, naquela velha arenga de ricos de um lado, pobres de outro, ou do Brasil que trabalha e do Brasil preguiçoso. Zema, bom mineiro que é, a estas alturas já deve ter reconhecido que perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Ou de pensar duas vezes antes de entrar em estrada tão sinuosa, feita de ignorância combinada com enorme dose de preconceitos. Para o futuro, na sua condição de governador de Minas Gerais e, mais, de candidato a candidato à Presidência da República espera-se que ele não repita o mesmo erro.

Até para que a questão possa ser discutida em termos mais próprios e devidos, tarefa que claramente merece muita atenção. Não estamos falando de valores, estamos longe da ideia de quem trabalha mais ou quem trabalha menos. Estamos falando sim que a representação política entre estados e as diversas regiões do País carece de melhor equilíbrio e de verdadeira proporcionalidade. Sem isso cria-se uma espécie de vazio, ou distorção, que se mostra perigosa e disfuncional e da qual não faltam exemplos. Trata-se sim de corrigir desequilíbrios, algo devido e que a todos deveria interessar, num processo em que naturalmente faz mais quem pode mais para que todos ganhem no final.

Não é, absolutamente, o que temos visto na prática, sendo suficiente lembrar em apoio a esta ideia que se fosse diferente as desigualdades já teriam sido reduzidas. Tudo isso passa pela representação política e deveria levar a população do Norte-Nordeste a refletir melhor sobre a qualidade de seus representantes na esfera federal, abrindo espaços para claríssima manipulação em seu desfavor. Esse é, e deveria ser, o ponto.

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