Ibovespa deve registrar alta nos próximos meses, avalia o mercado

Agosto não tem sido um mês positivo para a B3. Entre 1º e 17 de agosto, o Ibovespa – principal índice da Bolsa de Valores brasileira (B3) – registrou a maior sequência de resultados negativos da sua história, encerrando o dia 17 com 13 quedas apuradas.
Apesar da queda de 5,71% acumulada até 17 de agosto, no ano, porém, a Bolsa continua em alta, de 4,78%. Especialistas apontam que momento é de cautela, mas mantêm projeções de o índice fechar no azul neste ano.
Especialistas acreditam que o movimento é gerado por diversos fatores, desde uma correção técnica, após resultados positivos nos últimos quatro meses, até a influência do mercado internacional, com resultados chineses aquém do esperado, juros e inflação elevados na Europa e Estados Unidos.
O especialista da Valor Investimentos, Paulo Luives, explica que a sequência de quedas, realmente, chama a atenção pela continuidade do movimento, depois de uma puxada muito forte que a bolsa apresentou nos últimos quatro meses.
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“Mas, quando a gente observa o fundamento em si, econômico e para os mercados, a gente vê que o que está acontecendo é mais uma correção técnica do que uma mudança de fundamento que tem jogado o mercado para baixo”.
Esse movimento técnico de correção, segundo Luives, se dá justamente por uma alta mais forte do mercado nos últimos quatro meses. Agora, o mercado entra em um cenário de espera e pode até lateralizar nos próximos meses.
“O início de ciclo de cortes da Selic parece que já está precificado. Aquele fluxo que vai vir agora, com a Selic rendendo menos – de investidor pessoa física, dos fundos e, principalmente, dos fundos de pensão – ainda deve ser mais gradual. Isso porque, agora que estamos começando a ver os resgates parando nos fundos de ação. E esse fluxo voltando, a gente tem espaço, justamente, para o fluxo de investimento em renda variável realmente retomar de maneira mais forte”.
Olhando para as empresas, Luives explica que os resultados ainda estão apresentando, agora, no segundo trimestre, reflexos de uma realidade de juros elevados.
A estimativa é que estes resultados se repitam no terceiro trimestre. Uma possível reação, deve acontecer somente no último trimestre do ano.
“Eu acho que a gente começará a ver, talvez, a partir do quarto trimestre, as empresas reportando resultados melhores e já refletindo essa queda de juros. Em especial, as empresas que têm maior grau de alavancagem e de endividamento. Isso porque, com a Selic caindo, o custo de endividamento também diminui e, consequentemente, reflete em um lucro esperado maior”.
Ainda segundo Luives, o movimento de agora, realmente, é de aguardar um pouco mais, principalmente, para quem tem baixa exposição em renda variável e tem perfil para isso.
“Talvez, seja um momento interessante para começar a se posicionar, dado essa correção que a gente já viu na Bolsa, mas, de fato, é um movimento que é mais técnico do que efetivamente de fundamento. Óbvio que existem fatores externos que acabam impactando a gente aqui e o externo, eu acredito, que é um dos principais riscos que a gente tem para que a B3, talvez, não performe tão bem quanto se espera”.
Fatos externos impactam no Ibovespa
Entre os fatores externos que podem impactar na B3 de forma negativa estão a situação da China, no que se refere ao mercado imobiliário, e da Europa e dos Estados Unidos, ainda em compasso de alta de juros.
“Mas, via de regra, parece ser mais um comportamento técnico mesmo de correção após uma alta muito expressiva do que uma mudança de fundamento de fato”, disse.
Para o analista de investimento da Mirae Asset, Pedro Galdi, o movimento de queda sequencial do Ibovespa foi anormal, mas existem explicações para isto.
“Vale destacar que não é só nossa bolsa que está sofrendo nos últimos dias. A inflação ainda segue pesada nos EUA e na Europa e o Fed, após dar uma pausa no aumento de juros, sinaliza a possibilidade de novo aumento do juro em setembro. Isto influencia o humor global do mercado financeiro e o fluxo de capitais”.
Ainda segundo Galdi, a China está dando claros sinais de desaceleração, com indicadores econômicos abaixo do esperado e com preocupações com o setor imobiliário.
“A Evergrande (gigante chinesa de construção), que apitou em 2021, dá sinais de que pode ir à falência e outras incorporadoras estão mostrando prejuízo. Isso pode prejudicar outros setores, como bancos”.
Em relação ao cenário nacional, Galdi destaca que o arcabouço fiscal está atrasando e ruídos políticos voltaram ao radar.
“Além disso, há um fluxo de investidores estrangeiro saindo da B3 todo dia e temos as férias de verão no hemisfério norte, o que explica a nossa baixa liquidez diária. Tudo isto explica este momento negativo em nossa bolsa de valores. Mas, ainda acreditamos em um Ibovespa a 120 mil a 130 mil para o final do ano”, explicou.
A assessora na iHUB Investimentos, Gabriele de Souza Silva, ressalta que o Ibovespa está enfrentando a sua mais longa série de resultados negativos já registrada em sua história.
“Até 17 de agosto, foram contabilizadas 13 quedas consecutivas. Essa sequência de resultados desfavoráveis na bolsa representa um marco significativo, sendo a mais extensa desde 1968, quando o índice foi estabelecido”.
Segundo Gabriele, uma das possíveis razões para esse movimento de queda do Ibovespa pode estar relacionada à realização de lucros por parte dos investidores.
Além disso, segundo ela, é pertinente mencionar a importância de identificar uma nova pauta relevante capaz de impulsionar o mercado em direção a uma nova direção.
“O desempenho da bolsa brasileira refletiu as quedas observadas nas bolsas de Nova York, especialmente nos setores de consumo e tecnologia, que foram os mais impactados. Movimentos bruscos no mercado financeiro tendem a gerar desconforto entre os investidores, especialmente os menos experientes ou cautelosos. Em momentos como o atual, a fragilidade do nosso mercado fica evidente quando comparada com outras economias globais de escala similar”.
Neste contexto, Gabriele explica que a incerteza prevalecente nas principais economias mundiais amplia a necessidade de cautela.
“Isso tem levado investidores a aproveitarem as oportunidades oferecidas pelos títulos do tesouro, buscando momentos propícios para alocar recursos em ativos mais seguros”.
O início do ciclo de redução da taxa de juros, segundo Gabriele, pode apontar para uma possível tendência de migração de investimentos da renda fixa para a bolsa de valores. Isso se deve à expectativa de crescimento resultante da diminuição da atratividade da Renda Fixa no Brasil, impulsionada pela queda da taxa Selic. Essa perspectiva de corte na taxa básica de juros deve persistir nas próximas reuniões do Copom.
“No entanto, apesar desse cenário, observamos ainda a alta da inflação nos Estados Unidos e a recente diminuição do rating do país nos últimos dias. Como resultado, há insegurança global sobre os títulos de países mais arriscados, fazendo os investidores migrarem para o tesouro americano, oferecendo tanto a possibilidade de uma rentabilidade superior como de um ambiente percebido como mais seguro”.
Em momentos de grande incerteza no mercado, é comum que os investidores busquem proteção por meio da migração para o dólar, o que consequentemente afasta investimentos da bolsa brasileira.
“Apesar das incertezas de curto prazo, mantém-se o otimismo para o final do ano de 2023, muito por conta da sub precificação dos ativos brasileiros em comparação com sua média histórica”.
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