Mudanças nos parcelamentos sem juros podem reduzir o consumo

As discussões do Banco Central em relação ao sistema atual de financiamento por cartão de crédito – que permite aos correntistas parcelar compras em mais de 10 vezes sem juros – e de medidas para mudarem a modalidade, estão trazendo apreensão ao setor do comércio.
A redução de parcelas pode impactar no poder de compras dos consumidores e, consequentemente, no desempenho do setor varejista. Já em relação ao rotativo, mudanças nas taxas de juros, que hoje podem superar 1.000%, são bem-vistas.
Diante do desafio, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG) fez um estudo sobre o Cartão de Crédito. A modalidade é considerada essencial para o setor, principalmente, por estimular o consumo e permitir a aquisição de bens de maior valor agregado parcelados.
Mudanças no parcelamento, podem prejudicar tanto os consumidores, quanto os comerciantes, principalmente, os de menor porte. O economista da Fecomércio, Gilson Machado, explica que a possibilidade de mudança repentina no cartão de crédito, modalidade criada na década de 1990, levanta questionamentos.
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“As alterações no cenário podem acarretar impactos negativos no mercado, inclusive, podendo causar perdas no desempenho da atividade econômica nacional. Resolvemos elaborar o estudo porque as conversas sobre o assunto começaram a ganhar destaque. Começaram a falar sobre o rotativo do cartão, sobre o parcelamento e falando que isso é um grande problema para o endividamento das famílias. Nós fomos conferir os números e verificar o que, de fato, vem acontecendo com o cartão de crédito”.
Segundo Machado, ações que causem restrição do parcelamento ou desestimulem as compras parceladas vão influenciar de forma negativa no poder de compra do consumidor e gerar reflexos adversos diretos sobre o setor varejista, repercutindo por toda a cadeia econômica.
A mudança no número de parcelas permitidas não é apoiada pela entidade. Na visão do economista, seria interessante haver modificações nas taxas de juros do crédito rotativo, que estão em patamares que dificultam o cumprimento das obrigações por parte dos consumidores, gerando um ciclo negativo.
O estudo da Fecomércio mostrou que as taxas de juros no crédito rotativo para cartões de crédito pré-fixados entre diferentes instituições, podem ultrapassar 1.000% ao ano.
“É importante olhar para o rotativo do cartão, cujas taxas são muito altas. Caso o consumidor tenha uma emergência e não consiga quitar a parcela em sua totalidade, ele cai no rotativo. Com as taxas muito elevadas, a dívida tende a aumentar de forma expressiva, podendo impactar até mesmo para que ele honre. É preciso normatizar essa parte, que hoje é muito específica de cada banco”.
Movimentação dos cartões de crédito
O economista da Fecomércio, Gilson Machado, explica que nos últimos anos, houve um aumento expressivo na emissão de cartões de crédito, porém o nível de ativação se manteve. As emissões saíram de 184 milhões em 2018, antes da pandemia, para atuais 431 milhões em 2022. No mesmo intervalo, as ativações saíram de 54% para 48%.
“Isso é um fator relevante, porque vemos uma crescente na emissão de cartões. Chegamos no final de 2022 com cerca de 209 milhões de cartões de crédito ativos no Brasil. Essa alta se deve à chegada das fintechs e à pandemia, quando as pessoas passaram a usar mais o meio de pagamento para realizarem as compras, principalmente, pela internet”.
O estudo também mostrou aumento nas transações feitas pelo cartão de crédito. Segundo os dados da pesquisa, o volume de transações realizadas por meio do cartão de crédito, em 2022, cresceu 65% frente a 2019, quando se iniciou a pandemia, chegando a 4,39 bilhões de transações. Frente a 2021, a alta ficou em 16%.
Quanto ao padrão de uso, parcelamentos, o mesmo se manteve praticamente inalterado desde 2011. Os pagamentos parcelados em sete ou mais vezes, apresentaram pequena variação saindo de 1,7% em 2011 para 1,4% em 2022.
Já os pagamentos em uma parcela, saíram de 78,3% em 2011 para atuais 87,2% em 2022.
“Os pagamentos à vista tiveram um aumento significativo de quase 10 pontos percentuais ao longo da última década”.
Analisando os parcelamentos por valor, a pesquisa mostrou que, nos últimos anos, a representação das transações em 2 e 3 parcelas, bem como em 4 a 6 parcelas, diminuiu, atingindo 17,6% e 14% em 2022, respectivamente, ante 23,3% e 17,9% em 2011.
Já as transações em uma parcela aumentaram em relação aos anos anteriores, representando 52,7%, ante 47,4% em 2011. Alta também nas transações em sete parcelas ou mais, que encerram 2022 com o índice de 15,7%, frente a 11,4% registrado em 2011.
Machado ressalta que a proporção nos parcelamentos por valor se manteve praticamente a mesma, não apresentando variação muito significativa.
Mas, quando se olha o movimento crescente na emissão de cartões de crédito e no número de transações – o que significa que houve um aumento do volume de crédito disponível no mercado – o endividamento das famílias pode ser ampliado.
“Ao dar mais poder de compra para as famílias, o endividamento pode crescer. Por isso, são necessárias políticas que tendem a trazer uma gestão financeira para as famílias. Não adianta a gente fazer mudanças, que trarão impactos preocupantes para o mercado, para o varejo”.
Ainda segundo Machado, decisões que impactam o varejo têm relações diretas com o desempenho da atividade econômica do País. “Não vemos como positivas as mudanças nos parcelamentos. Vemos como importante, mudanças no rotativo, que tem uma taxa muito alta”.
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