Cia. Luna Lunera estreia espetáculo na Capital

A Cia. Luna Lunera está de volta aos palcos com um espetáculo inédito. O grupo mineiro estreia “Aquela que eu (não) fui”, amanhã, às 20 horas, como parte das comemorações do aniversário de dez anos do CCBB BH. A peça acontece no Teatro I, que foi inaugurado em 2013 pela Cia. Luna Lunera, com a estreia do espetáculo “Prazer”, um dos maiores sucessos da companhia. A montagem segue em cartaz até 25 de setembro, de sexta a segunda-feira, às 20h. Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), e podem ser adquiridos em bb.com.br/cultura ou na bilheteria do CCBB. Clientes Banco do Brasil com cartão Ourocard pagam meia-entrada.
“Aquela que eu (não) fui” tem dramaturgia assinada por Diogo Liberano (RJ) e se estrutura em quatro capítulos, que recebem os olhares de quatro direções: Vinícius Arneiro (RJ), Marina Arthuzzi (BH), Lucas Fabrício (BH) e Isabela Paes (BH), integrante do grupo. A assistência geral de direção é de Zé Walter Albinati, também membro da companhia. Em cena, a atuação de Cláudio Dias e Marcelo Soul é somada com a participação das atrizes Joyce Athiê e Renata Paz.
O espetáculo transita em torno de fragmentos das trajetórias de personagens – que podem aparecer novamente ou não a cada capítulo – que se deparam com situações nas quais se instala algum tipo de ruptura, de mudança, pequena ou grande transformação, determinada seja pelos desejos das personagens ou alheia à vontade delas. A peça lança um olhar poético e reflexivo sobre um recorrente estado de insatisfação que costuma nos acometer e sobre as possibilidades de se acolher o que se sente.
“No entanto, não tentamos dar conta de uma trajetória linear das personagens, nem mesmo apontar uma versão como oposta a outra, mas sim uma versão transformada a partir de um acontecimento, uma mudança, uma decisão. Nas entrelinhas, o espetáculo aborda também a disponibilidade, ou não, frente a mudanças, a forma como cada qual lida com o que provoca algum movimento”, explica a atriz Joyce Athiê.
Colocar-se em movimento é algo a que a Cia. Luna Lunera não se furta. Faz parte da trajetória do grupo a busca de novos caminhos para lidar com a composição, improvisação e a construção da cena, no intuito de uma pesquisa continuada, dialogando com o tempo, com o hoje. “Construímos um caminho até aqui e esse movimento no início de um novo processo vem com perguntas antigas: como abordar o texto, como lidar com o corpo, como olhar para o outro e construir diferente, como compor a cena com outras ferramentas? Na busca da crítica do nosso trabalho, nos fazer olhar para os vícios, nos tirar do conforto”, afirma o ator Cláudio Dias.
No processo de criação deste novo trabalho, a companhia mineira não só experimentou outros métodos em sala de ensaio, como também convidou novas parcerias. Renata Paz, atriz de vasta trajetória na pesquisa dos teatros negros na cena belo-horizontina, veio, ao lado de Joyce Athiê, engrandecer o processo e a cena. “Além da minha admiração pessoal, artística e profissional com a estética e escolhas da Luna Lunera, acompanho há bastante tempo este trabalho, tenho o Marcelo Soul enquanto referência de ator negro, que me acolhe junto ao grupo com muito carinho e respeito mútuos”, ressalta a atriz.
Na direção e na dramaturgia, criadores de dentro e fora do estado vieram somar ao espetáculo e imprimiram não apenas suas marcas como também novos desafios para a companhia. Em “Aquela que eu (não) fui”, a Luna Lunera abre mão da escrita colaborativa que marca sua trajetória e convida Diogo Liberano, um dos dramaturgos mais inventivos das últimas gerações. Porém, não se trata de um processo clássico em que se trabalha com um texto pronto, já que o elenco veio conhecendo o texto a cada capítulo entregue, cada qual contendo sua própria linguagem, dispositivos, ritmos e estrutura.
“Um dos conceitos do nosso projeto era que as quatro perspectivas de direção mantivessem a diversidade de suas assinaturas, de linguagem e de estética, de modo autônomo, diferentemente de uma direção compartilhada. Isso nos provocou, tanto no que se refere à atuação quanto à proposição de cenário, figurino, iluminação”, contextualiza Zé Walter Albinati, assistente de direção da montagem.
A escolha de uma direção a cada capítulo potencializa ainda mais esse desafio criativo para o grupo, que se deixou permear por diferentes estímulos, poéticas e visões e versões de mundo. “Considerando que o espetáculo possui quatro diferentes diretoras e diretores, temos o desafio de criar uma obra polifônica por essência a partir destes múltiplos olhares, mas que, ao mesmo tempo, dê conta de apresentar um discurso coerente e coeso”, analisa Marcelo Soul.
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