Alimentos para todos

Dentre os paradoxos brasileiros, que não são poucos, chama atenção um dos mais recentes, que coloca o País entre os maiores produtores mundiais de alimentos, aí incluídas as proteínas animais, enquanto é também campeão de desperdício, embora tenha também enorme contingente de pessoas subalimentadas. Um péssimo indicador que poderia ser zerado se o País fosse capaz de fazer o milagre de acabar com o desperdício. Houvesse mais realismo nas decisões políticas e na gestão pública, estaria pronta, ao alcance, a fórmula capaz de dar ao programa Fome Zero caráter tão amplo quanto definitivo.
Começando pelo começo, é evidente, acabando com as perdas que começam na colheita, passam pelos sistemas precários de armazenamento e se completam no transporte. Considerando somente o alimento não processado, as estimativas acusam perdas que podem ficar entre 20% e 30% de uma produção – de grãos –, que na presente safra deve chegar a 320 milhões de toneladas. Mais um recorde de sucesso e, ao mesmo tempo, outro de fracasso. E ainda não é tudo para a parcela da produção que chega ao mercado varejista, aí incluídos frutas, verduras, legumes e outros, a parcela que termina no lixo é ainda maior.
Inclusive de alimentos em perfeitas condições, mas que, por conta de pequenos defeitos que nada afetam seus valores nutricionais, são considerados impróprios para o consumo. Não certamente para quem não tem o que comer.
O ciclo ainda não está fechado. Pesquisas recentes, conduzidas pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), em parceria com empresa privada, indicam que cada família brasileira joga fora, por ano, alimentos, processados ou não, de valor pouco superior a um salário mínimo. O volume de comida jogada no lixo supera também a renda nacional per capita nacional. A pesquisa, envolvendo todos os estratos sociais, concluiu que 82% dos entrevistados admitiram ter descartado alimentos no mês anterior. E quanto melhor o nível de vida, maior o desperdício, comum a 89% dos integrantes das classes AB. Interessante notar que a dificuldade em conservar alimentos aparece como a principal causa do descarte.
O mesmo acontece com alimentos processados em restaurantes e similares, cuja produção não pode ser conservada ou reaproveitada. Uma realidade muito provavelmente pior do que ocorre em países ricos, onde é maior o nível de consciência. São, concluindo, questões que precisam ser conhecidas e, sobretudo, reconsideradas, no entendimento de que a solução para a fome pode estar mais perto do que se imagina.
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