No mundo dos delírios

Em breve o mundo se curvará ao Brasil, por conta da solução encontrada para dar fim à população sem teto, aos moradores de rua. Coisa de um daqueles geniozinhos de Brasília, os mesmos a quem não foram ensinados que não existe almoço de graça. Falamos de uma deputada federal que conseguiu aprovar em regime de urgência projeto determinando que cada empresa com mais de 100 funcionários terá que destinar cota de 3% dos empregos que oferece para moradores de rua. Resolve um problema, em tese, mas cria outro, já que, se o projeto chegar a ser transformado em lei, o que felizmente é improvável, faltará moradores de rua para tantos empregos. A conta é bem simples: existiriam no País, hoje, aproximadamente 100 mil pessoas “em situação de rua”, como por aqui preferem dizer os burocratas e assemelhados, um contingente que precisaria ser aumentado pelo menos 5 vezes, uma vez que segundo as contas do IBGE existem 17 milhões de pessoas trabalhando em empresas com mais de 100 funcionários, o que significa que seriam necessárias 510 mil moradores de rua apenas para que a cota seja cumprida. E sem falar de um cadastro a ser feito, definindo quem preenche ou não as condições para entrar na cota.
Resumindo, estamos diante do mais completo dos despropósitos, mesmo que se admitisse boa intenção na autoria do projeto. E não é tudo que deveria ser levado à mesa das discussões antes que a aprovação em regime de urgência fosse aceita. Tempo para lembrar que estamos em um país em que o numero de desempregados beira os 10 milhões de indivíduos e em que a informalidade alcança pelo menos 40% de quem tem um lugar para trabalhar, para garantir seu precário sustento. Como passar do sonho à realidade ninguém explica, da mesma forma que não lembram que as chamadas “obrigações acessórias” oneram despropositadamente as folhas de pagamentos, fazem crescer a informalidade e, para completar reduzem a competitividade.
Não, definitivamente não estamos diante de mais um milagre brasileiro, de algo que possa produzir admiração ou inveja lá fora. Estamos sim diante de mais uma evidência das proporções do descolamento entre a realidade e as ilusões com as quais se tenta preencher o espaço político. Poderia existir, no caso, ate mesmo alguma dose de boa intenção, porém chama mais atenção a falta de conhecimento, a virtual incapacidade de enxergar a realidade no seu todo. Ou estaríamos, simplesmente, expostos a mais uma fake news?
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