Impacto do Brics no mercado de exportação brasileiro
Davi Maciel*
O Brasil, como membro fundador do Brics, grupo que engloba Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, tem experimentado profundas transformações em seu cenário de exportações nos últimos anos. Essas transformações são impulsionadas, em grande parte, pela política externa adotada pelo bloco. Recentemente o grupo anunciou que Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita são os novos integrantes e agora juntos representam 29% do PIB Global e 46% da população mundial.
Historicamente, a Europa e os EUA dominaram as relações comerciais do Brasil. No entanto, com a formação do Brics e as políticas subsequentes de integração, o Brasil expandiu e diversificou significativamente seus parceiros comerciais. A China, por exemplo, tornou-se um dos principais destinos das exportações brasileiras, principalmente de produtos agrícolas e minérios.
O ex-ministro da Economia Paulo Guedes, em uma conversa com um ministro francês, em agosto de 2022, já destacava essa mudança na dinâmica comercial do Brasil, onde o mesmo citou que o comércio, no início do século, com os europeus e com a China era de 2 bilhões de dólares respectivamente. Hoje em dia, segundo ele, o Brasil comercializa 7 bilhões de dólares com a Europa, mas com a China já são 120 bilhões, salientando a crescente relevância do gigante asiático nas relações comerciais do Brasil.
A postura do Brasil em diversificar suas relações comerciais não se dá apenas em função de números. Há uma clara estratégia ideológica em curso, na qual o País busca fortalecer laços com nações emergentes e explorar oportunidades em mercados em rápido crescimento, como o chinês. A política externa do BRICS tem enfatizado a redução de barreiras comerciais entre os países membros. Isso resultou em um comércio mais fluido e em condições mais favoráveis para a exportação de produtos brasileiros, especialmente commodities, para outros países do Brics.
A criação de alguns mecanismos financeiros pelo Brics visa financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países do bloco. Esse mecanismo, além de fornecer financiamento, tem potencial para alavancar projetos que podem incrementar a capacidade exportadora do Brasil.
Recentemente, a cúpula do grupo trouxe à tona um tema que tem gerado intensas discussões: a criação de uma moeda de referência própria para o comércio internacional. A proposta, apresentada sugere a formação de uma moeda comum para ser usada nas transações comerciais entre os países membros, sem a necessidade de recorrer ao dólar ou outras moedas dominantes.
A criação de uma moeda de referência para o Brics é uma ideia ambiciosa que reflete a crescente influência do bloco no cenário global. Para o Brasil, a implementação bem-sucedida dessa moeda pode significar uma maior estabilidade e crescimento nas exportações. No entanto, como qualquer iniciativa econômica de grande escala, vem com sua cota de desafios. Alguns benefícios são, redução de vulnerabilidades, uma vez que a dependência do dólar e outras moedas fortes tem seus riscos, dado que flutuações nessas moedas podem afetar negativamente as exportações e importações. Uma moeda comum do Brics poderia oferecer um certo grau de blindagem contra essas oscilações.
Entretanto, a implementação prática de uma moeda envolve desafios logísticos, desde sua valorização, emissão, até sua aceitação no mercado global. O processo pode ser longo e complexo. Ainda mais quando observamos as desigualdades econômicas entre os países do Brics que têm economias em diferentes estágios de desenvolvimento e estabilidade. Uma moeda comum pode ser afetada por crises econômicas em qualquer um dos países membros, o que poderia impactar negativamente as exportações brasileiras. Bem como aceitação global também poderá gerar tensão e consequências. Recentemente, em agosto de 2023, a bolsa de valores do Brasil registrou um recorde 13 dias de quedas consecutivas em razão da retirada de capital estrangeiro do Brasil, que pode significar receio dos investidores em relação às políticas econômicas e tributárias adotadas pelo novo governo.
A influência da política externa do Brics no mercado de exportação brasileiro é inegável. Ela tem permitido ao Brasil diversificar seus mercados, reduzir dependências históricas e posicionar-se de forma mais assertiva no cenário global. Contudo, como toda estratégia de integração, apresenta seus desafios e deve ser feita com cautela e sabedoria. O sucesso brasileiro no cenário de exportações dependerá de como o país navega por essas oportunidades e desafios, buscando sempre consolidar e expandir sua presença no mercado global.
*Economista e consultor de M&A
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