A cultura de valores como base para resultados sustentáveis
Ter uma boa estratégia empresarial continua sendo uma das maiores prioridades das empresas. Pensar estrategicamente é fundamental para alcançar o sucesso empresarial, especialmente em um ambiente tão volátil como o atual, sendo a mudança a única constante.
O modo clássico de gestão nos levou a acreditar, por décadas, que o único caminho possível para se criar uma estratégia sólida envolvia a análise cuidadosa do ambiente externo e interno da empresa, discriminando oportunidades, ameaças, pontos fortes e vulnerabilidades. Nesse contexto, pessoas atuavam como meros executores dessas diretrizes.
Hoje, vivemos a era do Management 3.0, onde o elemento humano e a colaboração são protagonistas, apoiando-se em métodos ágeis, mais autonomia para gerir as atividades e otimizá-las conforme identificam-se pontos de melhoria.
No entanto, essa nova perspectiva ainda é adotada por poucos. A grande maioria das empresas insiste em se apoiar na forma tradicional de gestão. Isso se dá por conta de uma crença que, ao meu ver, emperra a sustentabilidade dos negócios: acreditar que resultado é um fim, o foco central da estratégia.
O resultado como fim acaba se tornando a desculpa perfeita para que todo tipo de incoerência seja cometido em nome dele. Com todos os desafios de escassez presentes no mercado, grande parte das empresas insiste em priorizar o acionista (ou proprietário) como o único stakeholder a ser diretamente beneficiado.
Defendo que o resultado é essencial, mas deve ser consequência natural de uma cultura sustentada por valores que inspirem comportamentos e decisões que, uma vez aplicados, farão com que o lucro seja uma consequência orgânica e natural.
Em outras palavras, uma cultura sustentada por valores e princípios, como ética e respeito, será capaz, se bem aplicada, de inspirar as pessoas a ações sustentáveis, sejam eles colaboradores, fornecedores ou consumidores. Essa é uma tendência irreversível e para aqueles que ainda não entenderam esse novo modus operandis, a conta chegará, é somente uma questão de tempo.
Uma prova irrefutável dessa tendência é a revisão do conceito de governança corporativa pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), uma das maiores referências em governança no Brasil e no mundo.
Na recém-divulgada 6ª edição do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, destaca-se o seguinte (2023, p. 15): “a definição, a ampla divulgação e a vivência diária de um propósito favorecem a geração e proteção de valor tangível e intangível, contribuindo para a reputação da organização, a confiança e o engajamento de todos os stakeholders”.
Cabe destacar que os valores e o propósito de uma empresa estão intimamente relacionados. O propósito é a razão pela qual a empresa existe e o que ela busca alcançar, enquanto os valores são os princípios éticos e morais que guiam as ações da empresa para alcançar seu propósito.
Essa guinada na forma de se enxergar os negócios vai ao encontro do Capitalismo Consciente, um movimento global que tem como finalidade elevar a consciência das lideranças empresariais para práticas baseadas na geração de valor para todos os stakeholders.
Um dos quatro pilares do Capitalismo Consciente é cultura consciente. Esse pilar tem como finalidade a aplicação dos valores das empresas e sua incorporação na prática, gerando impacto positivo em todos os stakeholders.
O Capitalismo Consciente defende que a cultura representa o espaço onde reside a riqueza e a complexidade das pessoas e onde o aspecto humano é prioridade, devendo prevalecer a transparência, a ética e o respeito.
Mais do que nunca, podemos afirmar que o pensamento que reinou no mundo dos negócios durante décadas está em franco processo de mudança. Ainda há tempo para que todos se reorganizem, redefinam suas estratégias e prioridades. Mas essa mudança precisa começar já, antes que boa parte das empresas fique fora do mercado por não ter tempo suficiente para se adaptar.
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