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Produtos próximo ao vencimento viram negócio e evitam o desperdício

Evitar o desperdício e proporcionar economia no bolso do consumidor tem sido o propósito de empresários que têm apostado na venda de produtos prestes à vencer
Produtos próximo ao vencimento viram negócio e evitam o desperdício
A Delícias do Leite hoje é uma rede com 13 lojas na Região Metropolitana de Belo Horizonte e com grandes perspectivas de crescimento no setor varejista | Crédito: Delícias do Leite/Divulgação

Evitar o desperdício de alimentos e proporcionar economia no bolso do consumidor. Este é o propósito principal de empresários que têm apostado na venda de produtos próximos ao vencimento como oportunidade de negócio. Aplicativos, farmácias e supermercados já oferecem produtos próximos de vencer com descontos que podem chegar a 80% do preço original.

Quem garante é o diretor da ‘Delícias do Leite’, Flávio Magela, atuante nesse mercado há 10 anos. Hoje, ele e o sócio administram 13 lojas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com a contribuição de 200 colaboradores e esperam inaugurar mais duas lojas ainda este ano.

Foi o cunhado e sócio de Flávio que, impressionado com o descarte da indústria onde trabalhava, quem teve a ideia de comercializar os produtos. Magela conta que esse mercado sempre existiu, mas que eles foram pioneiros no formato varejista. “Nós fomos os primeiros a abrir a loja no formato varejista, informando e oferecendo para o cliente produtos nestas condições”, disse.

E a ideia deu certo. Só no ano passado, a empresa cresceu 100%, passando de 6 para 12 lojas físicas. “A gente fica feliz em poder contribuir com a sociedade. Além de resolver o problema do excedente da indústria, a gente dá oportunidade para as famílias consumirem mais”, afirma.

A loja é abastecida, principalmente, pela produção excedente de indústrias parceiras. No ano passado, após o Natal, a empresa de Magela comprou três carretas de chester, o equivalente a 25 mil unidades da ave típica da época do ano. “Nós vendemos 25 mil unidades em três dias. O que antes do Natal estava sendo vendido por R$ 90, nós conseguimos ofertar por R$ 29,90”, relembra.

Aplicativos também aproveitam a oportunidade

O propósito de contribuir com a redução do desperdício de alimentos, também foi a motivação principal do CEO da b4wast, Luciano Kleiman. Ele e a equipe original do projeto do aplicativo identificaram esta “dor” dos supermercados como ponto de partida para a realização do negócio: conectar varejistas que se interessam em reduzir o desperdício a consumidores dispostos a pagar mais barato por produtos próximos a vencer.

Há 3 anos, Kleiman tirou o projeto do plano das ideias e criou o aplicativo que pudesse unir os dois lados. O próprio nome do app já quis mostrar a que a empresa se propõe: “antes do desperdício”, tradução em português do nome b4wast.

“Nosso negócio é transformar lixo em receita. A gente proporciona benefício para quem compra, permitindo a ampliação do poder de compra; benefício para o planeta, ao contribuir com a queda do desperdício de alimentos e da emissão de carbono e para as empresas, evitando a perda em 50% daquilo que era descartado”, explica Kleiman.

Estatística

De acordo com o empreendedor, existem, hoje, no Brasil, 100 mil supermercados que faturam em média R$ 450 bilhões por ano. Desse montante, 2% são perdidos por vencimento ou maturação natural dos alimentos. São cerca de R$ 8 bilhões, em média, que são jogados no lixo anualmente. Dessa forma, ele percebeu que o desperdício era uma grande oportunidade de negócio.

O aplicativo hoje atua, principalmente, nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro. Com tímida atuação em Belo Horizonte, o objetivo principal da empresa é ampliar o mercado na capital mineira e quadruplicar de tamanho até 2024. Hoje são 130 lojas parceiras vendendo para as três capitais. Em Minas, a rede de Supermercado Dia e o aplicativo Nana Delivery são os principais parceiros.

Desde a criação, o aplicativo foi responsável por evitar o desperdício de 1,5 mil tonelada de alimentos, a emissão de 1,2 mil tonelada de dióxido de carbono na atmosfera e a economia de R$ 7 milhões para os consumidores.

Luciano Kleiman mostra app b4wast, que conecta quem quer comprar e quem quer vender | Crédito: b4wast/Divulgação

Rede Supernosso faz parceria com foodtech contra o desperdício de alimentos

A rede de supermercados Supernosso é outra que entendeu que é melhor vender produtos com desconto do que descartá-los. A rede acabou de fazer parceria com uma foodtech, a Food to Save. “O trabalho deles sempre nos chamou muita atenção. E ficamos muito felizes quando soubemos que eles expandiram para a praça de Belo Horizonte e por isso, fomos a primeira rede de supermercado a conversar com eles para realizar a parceria e executar este trabalho de combate ao desperdício de alimentos”, diz Edimilson Anacleto, diretor executivo do Grupo Supernosso.

Para o gestor, o desperdício vai na ‘contramão’ do cenário de insegurança alimentar do País. “No Brasil é desperdiçado 41 mil toneladas de alimentos por dia, o que vai na contramão da insegurança alimentar”, diz Anacleto.

Ele conta que a ação vai de encontro à preocupação que a rede Supernosso tem com as questões de ESG (sigla em inglês que significa responsabilidades social e ambiental e governança). “O que antes era descartado e transformado em lixo, agora, pode estar na mesa de alguém para ser consumido, dentro de todas as questões legais”, afirma.

A rede começou a adotar a prática no setor das padarias e com a parceria vai ampliar para outras categorias de produtos. “Nossa expectativa está elevada após os primeiros testes. Em breve, agregaremos outras categorias com este mesmo propósito de evitar desperdício de alimentos”, ressalta.

A rede, que começou a adotar a prática no setor de padarias, expandirá ação a outras áreas | Crédito: Supernosso/Divulgação

O que diz a lei

Vender produtos próximo ao vencimento não é proibido. O que não pode acontecer é a venda de produtos com prazo de validade vencido. Esses, de acordo com informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não podem ser expostos à venda e não devem ser consumidos.

A Anvisa estabelece parâmetros para a indústria considerar a data de validade dos alimentos. O prazo de validade é o intervalo de tempo no qual o alimento permanece seguro e adequado para consumo, desde que armazenado de acordo com as condições estabelecidas pelo fabricante.

De acordo com a nutricionista Ana Eloiza Machado, na prática, um alimento vencido não é recomendável consumir. Porém, ela explica que após a validade, não quer dizer que você não possa consumir, existe uma margem de segurança. Tudo vai depender do estado do produto e das condições de armazenamento.

“Não necessariamente o produto estará estragado assim que passar a data escrita na embalagem, mas aquele é o período máximo em que a indústria garante que ele esteja bom para o consumo, se for armazenado corretamente”, explica.

A nutricionista ressalta ainda que a data preestabelecida é um parâmetro. “Tudo vai depender das condições do alimento e do armazenamento. Comidas estragam antes de vencer, assim como estão em estado consumíveis após o vencimento. Cabe ao consumidor avaliar e fazer a opção”, explica. Ela alerta ainda, que nem sempre os sinais de deterioração são visíveis, então, o mais prudente é não arriscar.

Cabe ressaltar, mais uma vez que, no caso das empresas mencionadas nesta reportagem, os produtos vendidos estão próximo à data de vencimento, mas não estão vencidos.

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