Estudo inédito traz impressões dos trabalhadores

A União Geral dos Trabalhadores (UGT), uma das principais centrais sindicais no País, acaba de realizar o maior estudo em ambiente digital sobre as relações de trabalho no Brasil. O estudo – o primeiro do tipo organizado por uma central sindical brasileira, organizado pela consultoria de comunicação LLYC Brasil – analisou mais de 1,2 milhão de menções sobre as relações trabalhistas no Brasil entre janeiro de 2021 e janeiro de 2023. O estudo revelou uma realidade, em parte de desesperança e desalento, e de outra parte de aptidão pela mobilização por uma situação menos precária em relação à forma atual das relações de trabalho.
O levantamento avaliou percepções de diversos públicos, entre trabalhadores formais e informais, de diferentes categorias profissionais e identificou que mais da metade (58,58%) das menções sobre a situação do trabalho no Brasil apontam temas como direitos trabalhistas, precarização do trabalho, uberização e saúde mental como as principais preocupações dos trabalhadores hoje no país.
Entre as conversas na temática da uberização e precarização, há uma percepção negativa sobre a terceirização de serviços e o crescimento no número de trabalhadores autônomos e MEIs. Isso coloca em pauta um debate pertinente ao discutir se o aumento destes índices pode ser visto como um crescimento do empreendedorismo ou como um reflexo da precarização no trabalho no Brasil.
Os dados do estudo ainda mostram que os trabalhadores reconhecem, mas discutem o papel das organizações sindicais. Do universo pesquisado em que estão as comunidades com viés positivo, o levantamento identificou mais de 30 mil perfis. Esse universo atingiu mais de 320 milhões de menções, que foram impactadas por conversas pró-organização sindical. Também do mesmo universo, 27,1% das menções indicam posição contrária a formas de financiamento da organização, como a contribuição sindical. Para 3,3% das menções que falam sobre a situação do trabalho no Brasil, a defesa dos trabalhadores é papel central da organização sindical, o que aponta para a necessidade de uma renovação do movimento sindical independentemente das novas formas de trabalho na proteção e na garantia dos direitos.
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As menções e as conversações sobre a realidade do trabalho no Brasil apontam que os trabalhadores consideram-se desprotegidos, pelas organizações de fiscalização do trabalho, pelas empresas que modulam a forma e as condições laborais e pelas organizações sindicais, cuja função seria a de exercer a mediação dessa relação. No Twitter, quase metade das menções (48,45%) que comentam sobre as relações de trabalho no Brasil – seja discorrendo sobre empregos informais, trabalho em aplicativos ou novos modelos laborais – falam sobre direitos trabalhistas.
“S” do ESG
Em um momento em que as organizações empresariais do mundo todo (inclusive do Brasil), independentemente da atividade ou do setor em que atuam discutem suas adesões à agenda ESG, temas como a precarização do modelo laboral no País, identificada no estudo feito sobre o universo de redes com mais de 1,2 milhão de menções, não têm espaço no pilar “S”. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indicam que a taxa de precariedade do trabalho no último trimestre de 2022 alcançou 51,6%, apontando um crescimento relativo de 9,8% desde o último trimestre de 2015 (Pnad Contínua).
O estudo promovido pela UGT trouxe uma tarefa nova para o sindicalismo brasileiro: participar, juntamente com as companhias – de forma proativa e voluntária -, de uma reorganização necessária e urgente do modelo de trabalho adotado pelas empresas no Brasil, integrando-o ou devolvendo-o ao “S” da agenda ESG. Esse papel fiscalizatório das organizações sindicais, mas que também pode ser consultivo, tem o objetivo de reduzir quanto possível o nível da precariedade laboral, que fora revelado pelos novos dados do IBGE, mas que também brotam no primeiro estudo promovido pela UGT sobre as percepções do mundo do trabalho identificados no universo das redes sociais.
A forma precária desse novo trabalho atinge diversas categorias profissionais, mas afeta com grande impacto a juventude brasileira. Com o estudo, a UGT avalia que se tornou urgente a mobilização dos jovens em busca de uma condição laboral menos precária, que respeite direitos.
Geração T: campanha alerta contra precarização
Com base no estudo inédito, a UGT decidiu criar uma campanha nacional para apoiar e mobilizar a nova geração de trabalhadores brasileiros por um novo modelo laboral e um novo ambiente para o desenvolvimento do trabalho nas empresas. A Geração Trabalhadora, Geração T, reúne trabalhadores de todas as idades, cor e raça que estejam hoje em quaisquer das formas de trabalho atuais, seja informal, formal, autônomo ou o chamado empreendedor.
“Há uma dissonância entre a cultura ESG promovida no mercado de trabalho, principalmente por grandes empresas, e os milhões de trabalhadores informais, impactados pelos efeitos da uberização, pejotização e pelas longas jornadas do teletrabalho. Nesse sentido, a campanha Geração T quer provocar a discussão e como os sindicatos podem ajudar a reduzir essa forma de desigualdade social no País”, afirma David Zaia, vice-presidente da UGT.
O crescente número da atividade autônoma dependente de aplicativos, associado também à reforma trabalhista de 2017, que flexibilizou as relações de trabalho entre empregado e empregador, contribui para a redução dos direitos trabalhistas.
Para trazer mais informações sobre a campanha Geração T e ampliar a divulgação do estudo inédito, foi criado um hotsite exclusivo, que conta com informação e conteúdos relacionados ao universo do trabalho e discussões sobre ampliação e proteção dos direitos dos trabalhadores. Há também conteúdo nas páginas da Geração T nas redes sociais.
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