Capitalismo Consciente comemora 10 anos com fórum nacional

Uma programação intensa – repleta de bons exemplos (e outros nem tanto) e de provocações sobre como conduzir a economia mundial para um modelo em que o lucro não seja pecado, mas que também preserve o meio ambiente e promova a dignidade humana – comemorou os dez anos do Instituto Capitalismo Consciente no Brasil.
O III Fórum Brasileiro do Capitalismo Consciente: Da intenção para a ação, realizado dia 20, em São Paulo, reuniu profissionais diversos, de diferentes setores da economia, que estão na linha de frente, buscando fazer negócios de forma mais consciente para promover a sustentabilidade em empresas de todos os portes. O objetivo é construir um futuro empresarial mais sustentável, ético e próspero.
O evento, de certa forma, foi um balanço das discussões realizadas ao longo de 2023 nos eventos preparatórios realizados nas filiais do Instituto – chamadas capítulos – em 11 cidades brasileiras. O propósito dos eventos regionais era dar luz às desigualdades que encontramos na sociedade, para as quais a iniciativa privada pode acolher e colaborar. Cada filial escolheu uma desigualdade para abordar regionalmente.
Em maio, foi a vez de Belo Horizonte realizar o seu Fórum Regional do Capitalismo Consciente, com o tema “Desigualdade na Educação”. Em todas as ações do ano, houve uma forte e transversal conexão com o 10º Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata sobre a Redução das Desigualdades.
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No painel “Não é porque é grande que é fácil. As falhas no caminho para o sucesso”, o CEO da Amil, Edvaldo Vieira; a CEO da Kimberly Clark Brasil, Andrea Rolim; e o CEO do Grupo Boticário, Fernando Modé, compartilham falhas e fracassos que não costumam ganhar muita atenção nas entrevistas e nos registros das trajetórias de sucesso. Foi uma conversa sobre bastidores, dificuldades e erros.
“O importante é a gente incluir a sociedade. Quando a gente coloca a estratégia, a comunicação interna é muito importante nessa jornada. É preciso demonstrar a intencionalidade na fala”, explicou Vieira.
A sensação de um “eterno” despreparo para lidar com o tema é outra dificuldade sentida entre as equipes pelas grandes empresas.
“A gente nunca sabe muito bem como lidar com pessoas que não são iguaizinhas a nós. Parece que os processos que estão preparados para isso, que a gente não discute o suficiente, apesar de ser uma agenda que a gente toca há muitos anos, de termos um número de mulheres enorme da organização e alguns processos que realmente protegiam a entrada de mais diversidade. Quando a conversa fica mais profunda, percebemos que pessoas ainda se sentem muito despreparadas. É papel nosso também ajudar nisso também. As coisas são mais delicadas do que a gente acha normalmente no mundo corporativo”, destacou Andrea Rolim.
Ainda na parte da manhã, o painel “Da intenção para a ação – Empreendedorismo de impacto. A beleza da transformação”, reuniu a fundadora da DaMata Makeup, Daniele da Mata – que tem foco em peles negras -, e a fundadora da Care Natural Beauty – linha de cosméticos ecológicos -, Patrícia Camargo De Divitiis. O mercado da beleza feminina é dos mais lucrativos, mas foi só nos últimos anos que esta indústria começou a se alinhar com a diversidade do público brasileiro e, além disso, com a sustentabilidade.
“Eu quero ver pessoas negras dentro de um lugar de escolha de decisão que vai olhar e falar se isso está aprovado ou não. Eu acho que essa chave que a gente tem que mudar. Já desenvolvemos produtos super bem no Brasil, mas a cadeia de valor tem sustentar do fornecedor até a liderança. Eu preciso de mais pessoas que trabalham dentro da área junto comigo. Para mim, hoje, trabalhar com beleza é algo muito poderoso. Estou disposta a continuar falando sobre isso porque tem muitas mulheres em conflito com a sua própria. A estética pode ajudar nisso”, analisou Patrícia De Divitiis.
A conta do capitalismo consciente
Amparado por quatro pilares, o sistema do Capitalismo Consciente entende que os negócios são bons quando criam valor, são éticos quando se baseiam na troca voluntária, são nobres quando podem elevar nossa existência e são heroicos quando tiram as pessoas da pobreza e criam prosperidade.
Princípios do Capitalismo Consciente
Liderança consciente
As organizações espelham as ações e a personalidade do indivíduo que está no topo. Esse é o tipo de pessoa que outras pessoas querem seguir, um líder autêntico e aberto. Líderes conscientes são justamente aqueles que inspiram lealdade e alta performance consistente em suas equipes.
Orientação para stakeholders
Líderes conscientes sabem a importância de levar em consideração todos os seus stakeholders. Portanto, sua empresa nunca vai se tornar uma marca premium focando apenas os acionistas. Os fatores realmente importantes para o sucesso do negócio a longo prazo são os funcionários e os clientes e, muitas vezes, também os fornecedores e a comunidade. Cuide deles e eles cuidarão de você.
Cultura consciente
Uma cultura baseada em valores é aquela que é clara e direta sobre como as pessoas devem agir e atuar. Quando uma cultura não é definida e aplicada, os envolvidos não estão se movendo na mesma direção. Isso causa ruídos e desorientação. Assim, é preferível deixar uma posição-chave vazia do que contratar alguém que não esteja 100% alinhado com os valores e a missão de sua empresa.
Propósito maior
Uma empresa deve estar no negócio para fazer mais do que apenas ganhar dinheiro. Grandes líderes percebem que, para obter sucesso a longo prazo, você deve fornecer valor verdadeiro. Isso vem de pessoas apaixonadas se inspirando em seu trabalho. Quão inspirador é o propósito da sua empresa? Você gostaria de trabalhar para uma empresa cuja missão é “entregar o máximo valor aos acionistas”? Não se trata de vencer sempre, mas de fazer o seu melhor sempre.
Atualmente no Brasil o ICCB tem 5.410 embaixadores pessoa física, 487 embaixadores certificados, 228 empresas associadas e 76,3 mil seguidores nas redes sociais.

Durante o III Fórum Brasileiro do Capitalismo Consciente, a mesa “Como pagar essa conta? A visão do mercado financeiro junto ao Capitalismo Consciente”, discutiu o que é necessário para alavancar capital pela via do capitalismo consciente. Responder a pergunta “A conta do investimento de impacto pesa em quais bolsos e de que forma?” foi a proposta do evento para o head of Beta Strategies & Responsible Investimet of Itaú Asset Management, Renato Eid ; para a diretora do Programa Avançado em ESG da Women in Innovation Brazil, Vanessa Reisner; e para o fundador do Movimento Black Money, Alan Soares.
A ideia era, a partir das diferentes perspectivas da área das finanças, entender como o mercado financeiro enxerga este caminho, passando por temas como blended finance, green bonds, investimentos em sustentabilidade, desafios, oportunidades e resultados.
“Acredito que a gente pode aliar lucro e propósito a partir do momento em que a sociedade obtenha a consciência para isso. As empresas que trabalham com compliance, também precisam lucrar, porém as que não trabalham com propósito social, elas acabam maximizando os lucros e mantendo a população em uma situação de miséria. Então, a sociedade precisa se conscientizar para que os consumidores cobrem dessas empresas que exploram a natureza para que elas mudem ou que os consumidores troquem as empresas das quais eles consomem”, pontuou Soares.
Movimento Minas 2032
O Capitalismo Consciente está alinhado com o Movimento Minas 2032 (MM2032) – pela transformação global. Liderado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO -, que é um dos parceiros regionais do Instituto. E a presidente e diretora editorial do DIÁRIO DO COMÉRCIO, Adriana Muls, é uma das conselheiras do Capítulo Minas Gerais do ICCB.
O MM 2032 propõe uma discussão sobre um modelo de produção duradouro e inclusivo, capaz de ser sustentável, e o estabelecimento de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos ODS, promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2015.
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