A política minúscula

A Constituição de 1988 foi para o País o produto final de um processo de acomodação que teria possibilitado, com um tanto de ingenuidade e outro de esperteza, uma transição indolor da ditadura para a democracia. Há quem considere que o resultado foi o possível, não necessariamente o melhor. A trilha seguida nesses últimos 30 anos positivamente confirma as avaliações mais críticas, sobretudo porque, a rigor, além de remendada, a nova Constituição permanece obra inacabada, faltando regulamentação em alguns de seus pontos críticos. Temos visto, e à custa de experiências dramáticas, que os resultados não foram os prometidos, muito menos os desejados.
Um deles é o pluripartidarismo exacerbado, idealizado como destinado a dar abrigo a todas as correntes ideológicas e de pensamento, que definitivamente não se consumou como a ambiciosa experiência democrática. Bem longe disso, na realidade, uma vez que coalizões verdadeiras nunca foram consumadas, com a engenharia política idealizada apenas servindo para possibilitar arreglos que definitivamente jamais produziram bons resultados, enquanto serviram para alimentar distorções que fariam corar donos de virtudes que andam esquecidas, mesmo que absolutamente obrigatórias.
Tem sido assim em cada um dos governos que sucederam o regime de exceção e, pior, numa progressão em que não mais é percebido qualquer vestígio de pudor. Como bem sabe o atual presidente da República, a ilusão da governabilidade, da criação de uma base política minimamente estável e coerente, custa cada vez mais caro e os balcões em que fidelidades são prometidas e negociadas estão abertos à luz do dia, como se tudo não passasse de uma rotina própria da democracia.
Assim, e a troco de muito pouco, quase nada, ministérios são criados apenas para que possam ser distribuídos aos aliados de conveniência, contrariando a lógica mais elementar da gestão pública num quadro de déficit crônico e crescente. Nada mais parece importar, uma vez que nas contas do governante que distribui favores não pode escapar a ameaça de um impeachment, possibilidade que costuma ser lembrada como se também não passasse de uma das peças do jogo. Nada a estranhar, portanto, que nesse momento esteja sendo negociada a presidência e mais 12 vice-presidências da Caixa Econômica Federal, conforme antecipa o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, hoje a peça principal das articulações que mantêm o governo de pé.
E tudo com tamanha naturalidade que até mesmo a expressão “de porteira fechada”, que parecia esquecida, voltou a circular.
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