Opinião

O futuro da indústria automobilística

A indústria automobilística do século XXI encontra-se em um momento de transição profunda, moldado por inovações tecnológicas, preocupações ambientais e alterações nos padrões de consumo. No Brasil, essas transformações e os desafios que elas trazem são potencializados pela política protecionista que historicamente marcou a indústria automotiva nacional.

De um ponto de vista econômico, a transição para os veículos elétricos, que emergem como uma resposta à necessidade de redução nas emissões de gases do efeito estufa, requer investimentos robustos em pesquisa, desenvolvimento e adaptação de infraestruturas. Além disso, novos modelos de negócios, como o compartilhamento de carros e o uso de aplicativos de transporte, desafiam a demanda tradicional por automóveis individuais, reformulando o panorama econômico do setor.

Porém, no contexto brasileiro, esses desafios são ampliados pela política protecionista que, segundo levantamento da Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a produção acumulada de veículos entre 1957 – 2022 está na casa de 91,0 milhões montados no Brasil. Entretanto a estrutura tarifária, projetada para proteger a indústria nacional, acaba inflacionando os preços dos automóveis produzidos internamente e restringindo a competição. O resultado é uma indústria menos incentivada à inovação e à melhoria da qualidade dos veículos bem como uma profunda crise evidenciada pela paralização recorrente de diversas fabricas por conta da falta da demanda pelos consumidores.

Juridicamente, a indústria também se depara com grandes desafios. A legislação precisa se atualizar constantemente para lidar com novas realidades, como a dos veículos autônomos e elétricos. As regulamentações precisam garantir a segurança dos usuários, a responsabilidade em caso de acidentes e a compatibilidade com as normas ambientais.

Segundo o Anuário da Indústria Automobilística Brasileira de 2023 da Anfavea, a importação de autopeças cresceu cerca de 234% entre o período de 2020 a 2022, o que evidencia a necessidade das montadoras em importá-las, o que é prejudicado pelo protecionismo que aplica altas tarifas de impostos na importação de peças e veículos. Esse pseudoprotecionismo da indústria nacional encontra-se em completa contradição, uma vez que de acordo com o mesmo levantamento a participação dos tributos sobre automóveis no preço ao consumidor, no Brasil, representa 27,3% do preço do veículo, enquanto a média dos países europeus os impostos representam algo em torno de apenas 16,94%, e ainda no Japão a porcentagem é de 9,1 e finalmente podemos encontrar uma participação tributária nos Estados Unidos, especificamente no estado da Califórnia uma participação de míseros 6,8% de tributos no preço do veículo; sendo uma diferença gritante de mais de 20% a tributação entre um mercado protecionista brasileiro e o mercado liberal americano.

Uma maior liberalização do mercado automotivo brasileiro poderia se tornar a chave para alavancar e salvar a indústria. Com menos barreiras à importação de peças e veículos prontos, o mercado interno poderia se beneficiar da competição, o que resultaria em melhores preços e maior qualidade para os consumidores. Ao mesmo tempo, isso incentivaria as fabricantes nacionais a inovar e melhorar seus produtos para competir também no mercado internacional, potencializando a evolução da indústria. Além disso, a facilitação na importação de veículos elétricos e híbridos poderia acelerar a adoção destas tecnologias no Brasil.

É fundamental que o futuro da indústria automobilística brasileira seja delineado com uma visão estratégica e integrada, capaz de equilibrar proteção da indústria nacional e competitividade global, inovação e segurança, crescimento econômico e sustentabilidade. O caminho é complexo, mas, com os passos certos, e uma reforma tributária adequada o Brasil pode dirigir em direção a uma indústria automobilística mais dinâmica, moderna e sustentável.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas