Para Renault, a transição será mais longa no Brasil
São Paulo – O Brasil participará da onda da eletrificação de veículos, mas em uma transição que será mais longa que regiões como Estados Unidos e Europa e que precisa da volta do imposto de importação sobre carros elétricos e fim de incentivos federais regionalizados, afirmou na sexta-feira o presidente da Renault no país, Ricardo Gondo.
A tese foi defendida pelo executivo em um momento em que rivais da China como BYD, GWM, Chery e JAC voltam a incomodar uma indústria local de veículos que segue firme na aposta da queima de etanol como alternativa de descarbornização, apesar de suas matrizes na Europa e Estados Unidos já terem desenvolvido uma série de alternativas elétricas para seus produtos.
“Ainda compensa investir em combustão no Brasil”, afirmou Gondo citando a tecnologia de 20 anos dos motores flex. “O motor térmico (a combustão) vai continuar tendo melhorias em eficiência energética”, disse o executivo durante evento da Renault que apresentou o lançamento do segundo automóvel elétrico da marca no País, o Megane E-tech.
Pode parecer um contrassenso, mas para Gondo o lançamento de um carro 100% elétrico, importado da França, ajuda a empresa a entrar em um segmento do mercado de alta margem, o de SUVs eletrificados, enquanto segue apostando na convivência de múltiplas tecnologias de motorização no Brasil, com ênfase nos híbridos flex.
Até agora, o único carro elétrico da Renault no Brasil era o compacto Kwid lançado no ano passado, importado da China, que é vendido no país por cerca de R$ 140 mis e que segundo ranking da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) vendeu duas unidades em agosto. Enquanto isso, o veículo elétrico mais vendido no mês passado foi o hatch BYD Dolphin, com 371 unidades, vendido por cerca de 150 mil reais.
Diferente do Kwid, o Megane E-tech é um utilitário mais voltado para o consumidor de alta renda, chamados de “early adopters” pelo executivo. O preço do carro é de cerca de R$ 280 mil.
“Defendemos que as montadoras que seguem investindo no Brasil tenham um prazo de transição, que o mercado (de elétricos) não seja aberto, mas que possua cotas o que permitiria seu desenvolvimento”, disse Gondo.
A expectativa do setor é que o governo federal emita nos próximos dias medida que encerrará a isenção sem prazo definido do imposto de importação sobre carros elétricos adotado a partir do governo de Dilma Rousseff. A medida deve trazer cotas de importação sem a taxação de 35%, algo que o presidente da Renault Brasil defende que sejam definidas com base no atual nível de produção de cada montadora.
Fábrica na Bahia
A BYD negocia há meses com o governo da Bahia para instalar uma fábrica de carros no Estado e tem citado promessa de investimentos de 3 bilhões de reais. GWM tem um plano de investimentos no Brasil de 10 bilhões de reais e prevê início de produção de sua fábrica no interior de São Paulo em meados de 2024.
A Renault, por sua vez, está concluindo investimentos de R$ 2 bilhões realizados nos últimos dois anos em recursos que incluíram preparação de seu complexo fabril no Paraná para uma nova plataforma de veículos que além de carros com motores a combustão, “permitirá termos eletrificação”.
Gondo não disse quando a Renault pretende fabricar um carro eletrificado no Brasil.
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