Editorial

Apenas a reparação

Apenas a reparação
Crédito: Freepik

O Papa Francisco visitou Marselha, na França, no final de semana com o objetivo específico de conhecer e se solidarizar com os imigrantes, vindos do Oriente Médio e da África do Norte, que vivem na cidade. Simbolicamente o chefe da Igreja Católica abraçou todos os imigrantes, centenas de milhares deles, que vivem em países europeus, fugindo da miséria, das guerras que não têm fim e da insegurança. Muito provavelmente, a maior tragédia do nosso tempo, com aspectos comparáveis ao Holocausto na Segunda Grande Guerra, a ponto de fazer o Papa chamar o mar Mediterrâneo de o maior cemitério da Europa.

Uma referência aos imigrantes que, sempre em condições sub-humanas, não conseguiram completar a travessia e pereceram na sua caminhada para a esperança.

São visitantes, para a maioria dos europeus, absolutamente indesejados e, a rigor, sem um esforço que nada indica que possa estar sendo cogitado, não tem como ser abrigados, muito menos integrados em condições minimamente satisfatórias. Mais uma vez a miséria humana, tanto das vítimas como de seus algozes, parece ser naturalizada como algo inevitável e sem que se perceba, como deseja o Papa, que poderia ser muito diferente. Os imigrantes, os vivos e os mortos, não procuraram seu destino, não cavaram as próprias sepulturas, apenas tentaram escapar do pior e acabaram transformados em evidente estorvo para os povos ditos civilizados.

De uma forma ou de outra tudo isso está custando muito caro aos países europeus e nada indica que essa conta possa parar de crescer. Não, pelo menos, enquanto não houver o entendimento de que é necessário criar condições para que os deserdados, ou apátridas, possam voltar para as casas, suas terras e o que possa ter restado de suas famílias. Eles vivem as consequências de seu passado, de toda sorte de dominação e intervenções, que aconteceram justamente pelas mãos dos europeus, agora convidados a pagar a conta. Bem poderiam fazê-lo da maneira mais inteligente, talvez como um convite à penitência.

Ninguém, em lugar algum, quer deixar sua casa, suas terras, sua cultura e quando se movimentam são empurrados por forças adversas, certamente mais fortes que o risco da travessia em embarcações precaríssimas. Seria mais inteligente, além de certamente mais barato, devolver a essa gente o que lhes foi tomado. Segurança, autonomia e condições de sobrevivência, em condições que serão viáveis se houver suporte dos países europeus, ou dos antigos colonizadores. Será mais uma questão de esperteza do que de reparação, muito menos algum tipo de favor.

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