Heleno nega ter visto minuta golpista

Brasília – O general Augusto Heleno, um dos ministros mais próximos de Jair Bolsonaro (PL), afirmou ontem à CPI do 8 de janeiro que não tentou convencer o ex-presidente a “sair das quatro linhas” da Constituição e declarou que nunca viu nenhuma minuta golpista.
Heleno também negou que tivesse participado da reunião narrada pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid à Polícia Federal em que Bolsonaro teria discutido um golpe de Estado com ministros militares e comandantes das Forças Armadas.
“Nunca ouvi falar na minuta de GLO, minuta do golpe. O presidente da República disse, várias vezes, que jogaria dentro das quatro linhas, e não era minha missão convencer o presidente a sair das quatro linhas. Pelo contrário”, afirmou.
O general foi convocado para a sessão de ontem. Na segunda-feira (25), o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que ele deveria ir à CPI, mas poderia ficar em silêncio para não produzir provas contra si mesmo.
O ex-ministro disse que, apesar de ser militar, ocupava cargo de natureza civil e “não era chamado para reuniões da cúpula militar”. Heleno também tentou desqualificar o acordo de delação de Cid. Segundo ele, ajudantes de ordens não sentavam com comandantes. “Isso é fantasia”, disse.
Integrantes da CPI rebateram a declaração do general e resgataram uma foto de 2019 que mostra Bolsonaro, Heleno, Cid, o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e os ex-comandantes das Forças Armadas Edson Pujol (Exército), Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) e Ilques Barbosa (Marinha).
Diferentes minutas golpistas circularam no entorno de Bolsonaro após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma delas – que autorizava o ex-presidente a instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) – foi encontrada no armário do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
Outro documento localizado pela PF no celular de Cid decretava Estado de Sítio e Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Em delação premiada, o ex-ajudante de ordens citou ainda uma minuta entregue pelo ex-assessor Filipe Martins para convocar novas eleições e prender adversários.
Heleno foi aplaudido ao ser questionado pela relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre a declaração dada a manifestantes no final do ano passado de que “bandido não sobe a rampa”. Sem citar Lula, o ex-ministro disse que continua achando isso “até hoje”.
No depoimento de ontem, o general também rebateu Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, e afirmou à comissão que houve transição entre os dois governos e “nada ficou sob o tapete”.
Em mais de uma ocasião, Gonçalves Dias afirmou que não houve transição entre as duas pastas e que confiou no ex-número dois de Heleno, general Penteado. Ele também manteve no cargo o general Feitosa, chefe da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial.
“Teve a liberdade de conversar com quem quisesse, de estabelecer quem ele queria manter no GSI, quem ele queria trocar. Teve absoluta liberdade de fazer todas as trocas que julgasse necessárias”, disse. (Thaísa Oliveira)
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