Editorial

Um triste espetáculo

Um triste espetáculo
Crédito: Lula Marques/Agência Brasil

Como regra geral, as comissões parlamentares de inquérito, com seu nome e rituais que sugerem pompa e seriedade, têm servido muito mais para desnudar as mazelas do parlamento brasileiro que propriamente para aprimorar suas atividades. Se exemplos aviltantes podem ser recolhidos e exibidos ao longo do tempo, denotando, quase sempre, desvio de funções e o mais absoluto desapreço a tudo aquilo que se deve esperar das atividades parlamentares, mais recentemente todos os limites foram ultrapassados. Estamos falando, especificamente, de duas comissões, aquelas instituídas com clara e assumida inspiração da oposição, uma para investigar os acontecimentos do dia 8 de janeiro, quando as sedes do Legislativo, Executivo e Judiciário em Brasília foram invadidas e depredadas, outra para apurar as atividades – e possível má conduta – do Movimento dos sem Terra.

Durante as seções, que agora estão chegando ao final, brasileiros que se deram ao trabalho de assistir às seções e depoimentos, conviveram com um espetáculo de nenhuma seriedade, que com propriedade poderia ser chamado de verdadeiro circo. E armado exclusivamente para exibir espetáculo de nenhuma seriedade, colocando em dúvida a integridade do próprio parlamento ou, melhor, de muitos de seus integrantes. No todo, um tristíssimo espetáculo, denotando a baixa ou nenhuma qualidade de alguns dos artistas que lá se apresentaram com o rótulo de oposicionistas, papel legítimo e necessário infelizmente trocado por provocações gratuitas e num procedimento tão baixo que nem mesmo os regimentos da Câmara e, especificamente, das CPIs foram respeitados.

Está chegando ao fim aquilo que, muito provavelmente, de pior já foi visto na Câmara dos Deputados.

Um espetáculo deprimente, chocante para os mais desavisados e, se produziu algum efeito, com toda certeza o maior deles foi desacreditar “artistas” que não merecem sequer ser nominados. Para a oposição, muito claramente, foi um tiro no pé a canhestra tentativa de transformar os atacados, no dia 8 de janeiro, em autores, supostamente empenhados numa manobra que ninguém foi capaz de explicar a quem poderia beneficiar. E o mesmo pode ser dito acerca da CPI dos Sem Terra, da qual não se sabe nem mesmo se terá, como de costume, um relatório final.

Resta esperar que o papel de cada um nesse circo tenha sido anotado e não caia no esquecimento. Resta esperar que os abusos e desvios praticados tenham servido pelo menos para evitar que eles se repitam. E, porque não, esperar que para o futuro as próprias CPIs sejam repensadas, para que ganhem afinal a importância que nunca tiveram.

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