ESG entre os temas discutidos em evento anual do IBGC

O 24º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que aconteceu na última semana em São Paulo, teve como tema central “Governança em rede: conectando stakeholders”. O evento, no formato híbrido, teve como objetivo mostrar como a governança em rede é imprescindível para o mundo globalizado e hiperconectado. Neste cenário, a inteligência e ação coletivas são postas como condições indispensáveis para o atendimento às demandas ESG da sociedade e a perenidade das organizações.
Para isso, o congresso abordou a necessidade de os agentes de governança ampliarem o olhar para todo o sistema. Durante os dois dias (17 e 18 de outubro), o evento levantou, por meio de painéis e palestras, temas como a litigância climática e a responsabilidade dos administradores, bem como a importância de uma liderança que inspira e engaja as novas gerações, além de ESG e a relação com os stakeholders na estratégia do negócio.
Ainda fizeram parte da pauta, o mercado de carbono, alterações na lei societária e proteção dos investidores, governo e impactos da Lei das Estatais, flexibilização de regras nas bolsas de valores, direitos humanos, diversidade, novas competências para o conselho e o impacto da inteligência artificial nos negócios de hoje e do futuro.
O painel “Olhando para o final da cadeia: os “noholders“’, trouxe a história da “Meu Chapa”, logtech fundada em 2019, que é uma plataforma digital que faz a conexão de oferta de serviços de carga e descarga com uma base de profissionais cadastrados. De acordo com a Co-founder & CMO da Meu Chapa, Dora Ferreira, 60 mil profissionais fazem parte da plataforma.
“Três fatores são cruciais para que a relação com os “chapas” – profissionais que trabalham na carga e descarga de caminhões – seja boa. A nossa conversa precisa ser transparente; humanizada, por mais que a gente empregue muita tecnologia em todas as etapas; e respeitosa, por mais que isso pareça óbvio. São essas três características que trazem as pessoas para perto e nos ajudam a vencer o desafio de alinhar as expectativas dos chapas e da plataforma”, explicou Dora Ferreira.
Nessa mesma mesa, o líder de Relações Institucionais do Grupo Gaia – empresa exclusiva para investimentos de impacto -, Rodrigo Ferreira, destacou por meio do exemplo da “Meu Chapa” como os investimentos de impacto dependem da vontade da liderança das empresas.
“O nosso papel é atuar no investimento de impacto positivo. No Brasil estamos avançando, mas não na velocidade necessária. Para que isso seja possível, precisamos das lideranças das organizações, uma mobilização genuína das grandes empresas e investidores. Ainda estamos financiando o fim do planeta. A gente precisa de uma mudança radical de mentalidade para ver que o que hoje entendemos como ‘noholders’, na verdade são tão stakeholders como os demais”, afirmou Dora Ferreira.
Governança atrai investidores para o ESG
Para falar de Economia Exponencial, foi convidado o especialista em inteligência artificial (IA) e economia da Singularity e o CEO da Exonomics, Eduardo Ibrahim, começou pelo próprio conceito de economia exponencial: “teoria que analisa a influência e o impacto de tecnologias exponenciais, como inteligência artificial, biotecnologia, internet das coisas e blockchain, no desenvolvimento econômico mundial. Assim como suas consequências no mercado de trabalho, na distribuição de renda e nas relações de negócios”.
“Vivemos uma tempestade de mudanças e precisamos, de alguma forma, saber nos proteger. A pergunta é se a atual economia está preparada para esse desenvolvimento exponencial da tecnologia. Até aqui, trabalhamos com indicadores financeiros, como o PIB, por exemplo, não com indicadores econômicos. O que as tecnologias exponenciais fazem é a democratização de recursos. Esse é um pensamento contracultural. O mundo está migrando para uma economia de base tecnológica. Precisamos formar líderes AI Driven (orientados por inteligência artificial)”, pontuou Ibrahim.
O painel “ESG & Stewardship: o papel dos investidores” discutiu a relação entre os deveres fiduciários dos gestores de recursos próprios e/ou de terceiros na administração dos valores mobiliários sob sua gestão de forma diligente e transparente, e o desenvolvimento de uma mentalidade socioeconomicamente responsável e baseada na governança.
Para a conselheira do Banco Bradesco S/A, da Solví Essencis Ambiental S/A, e vice-chair da TCFD, Denise Pavarina, o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente e condições bastante distintas entre as grandes e as pequenas empresas.
“Há uma cobrança em cadeia e com isso a evolução poderá ser mais rápida. Existe um processo evolutivo. O maior desafio é o senso de urgência. Quando o ESG entra na matriz de risco das empresas a coisa anda mais rápido. Hoje, a agenda stewardship vem mais dos investidores. E se a empresa não responde a isso, parece que ela não está interessada no mercado de capitais”, avaliou Denise Pavarina.
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