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Obra de Fernando Sabino é revista

Projeto " Letra em Cena: Como ler Fernando Sabino" fará uma análise das obras do escritor mineiro; ingressos são gratuitos e devem ser retirados pelo Sympla
Obra de Fernando Sabino é revista
O escritor e editor Adauto Leva vai analisar a obra do centenário de Sabino | Crédito: Arquivo Pessoal

O Café do Centro Cultural Unimed-BH Minas será palco hoje, às 19h, da sessão do Letra em Cena: Como ler Fernando Sabino (1923 – 2004). O escritor e editor Adauto Leva vai analisar a obra do centenário mineiro que foi atleta da equipe de natação do Minas Tênis Clube, nas décadas de 1930 e 1940. O ator Glicério do Rosário vai fazer a leitura de textos de Sabino. A curadoria e apresentação do projeto são do jornalista José Eduardo Gonçalves. As inscrições gratuitas podem ser feitas no site da Sympla. A classificação é livre.

“A obra de Fernando Sabino se insere no momento de lúcida maturidade da literatura brasileira das décadas de 1940 e 1950 (nas palavras de Alfredo Bosi), em que despontaram escritores de tendências introspectivas, neo-realistas e focadas em conflitos internos das personagens e nas suas relações com o mundo em que vivem”, explica Adauto Leva. O nome de Sabino se insere na literatura nacional no mesmo momento em que escritores como Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Otto Lara Resende e Carlos Heitor Cony.

Segundo Adauto, a obra de Sabino é de suma importância para a literatura brasileira. “Ele é importante ainda por construir um texto tecnicamente muito rico, cheio de imagens e ritmo, imprimindo movimento às suas histórias”, observa o palestrante. Cabe ressaltar que o escritor “foi um formador de leitores com sua presença quase diária nos jornais e com as coletâneas de crônicas da série ‘Para Gostar de Ler’, que chegava a tiragens de 250 mil exemplares no fim dos anos 1970, além da inclusão de textos seus em livros didáticos. E poucos escritores deixam monumentos literários tão grandiosos quanto “O encontro marcado”, ressalta Adauto Leva.

“O encontro marcado”

Dentre as obras de Fernando Sabino, que publicou cerca de 50 livros entre romances, crônicas, infantis e novelas, destaca-se, para Adauto Leva, “O encontro marcado”. “É inegável que o grande livro de Sabino é “O encontro marcado”, seguramente e sem a menor sombra de dúvida. É neste livro em que ele atingiu o ponto mais alto da criação estética”, observa o palestrante. Sobre as crônicas, gênero muito marcante na carreira do mineiro, Adauto Leva atesta que “a grande obra de Fernando Sabino é seu conjunto inigualável de crônicas, que retrata de maneira precisa o tempo em que o escritor viveu.

Ainda que as crônicas de Sabino não tenham o lirismo das de Rubem Braga elas são o grande texto que ele escreveu e que ecoou junto aos leitores diários de jornais em várias cidades brasileiras (considerando uma época em que agências de notícias vendiam os textos dos grandes jornais das capitais para os pequenos jornais do interior)”, diz. Mas Adauto aponta que ““O grande mentecapto” é um romance muito bom, que envolve plenamente o leitor e é sempre um sucesso. Destaco, ainda, a sofisticação técnica das novelas de “A vida real” e de “A faca de dois gumes”, atesta.

Um dos recordistas em citações em redes sociais, Adauto Leva observa que uma das mais presentes é a do livro “O encontro marcado”, que em alguma edições da obra vem redigida na capa. “A citação condensa dois sentimentos muito fortes na juventude de qualquer época: a dúvida existencial do presente e a esperança de um futuro melhor. O final da juventude é o momento em que todo ser humano se depara com decisões impactantes e Sabino foi magistral em criar imagens de dificuldade e seguidas de recuperação: fazer da queda um passo de dança, fazer da procura um encontro”, entende o palestrante. Adauto ainda aponta para a sofisticação de Sabino na construção do pensamento. “Ele descreveu com muita elegância a cena patética da pessoa que tropeça e se reorienta com um movimento rápido, certeiro, como se a pessoa estivesse deslizando no salão de baile. E ainda deixou no ar a dúvida se esse passo de dança vai mesmo acontecer”, aponta.

Adauto aconselha para o leitor que não conhece a obra de Sabino começar pelo “O encontro marcado”, que tem texto acessível. “Mas se o leitor preferir começar por textos curtos e ir acrescentando páginas, eu sugiro alguns livros de crônicas, como “O homem nu” ou “Deixa o Alfredo falar!”, depois ler as novelas de “A faca de dois gumes” e “O grande mentecapto”, que é divertidíssimo, e enfim se deliciar com “O encontro marcado”.

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