As guerras, os negócios e o exercício da liderança consciente

Recentemente li um artigo do Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, que me trouxe profundas reflexões e me inspirou a escrever este. No texto, intitulado de “Tempos de Guerra, Tempos de Liderança”, Carlo Pereira aborda o momento tão desafiador pelo qual passa a humanidade. Não bastasse ainda estarmos nos curando das cicatrizes da pandemia da Covid-19, vemos estarrecidos eclodir guerras e conflitos ao redor do mundo. Sem falar naquelas que já existiam faz tempo e nem estávamos sabendo, reclusos em nossas bolhas, distantes de outras realidades.
Em 2022, a escalada das tensões entre a Rússia e a Ucrânia teve o pior desfecho: a invasão russa e o surgimento de um conflito armado convencional e de grande escala no coração da Europa, que permanece até hoje, 600 dias depois que, incrédulos, acompanhávamos seu início.
Neste mês de outubro, fomos impactados pelo início de mais um conflito armado, entre Hamas e Israel.
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Mês passado o Azerbaijão iniciou uma ofensiva contra as forças armênias dentro de Nagorno-Karabakh. Em março foi o Sudão. No continente africano foram sete golpes militares nos últimos três anos com consequências terríveis para a população, já tão fragilizada e vulnerável. Atualmente são dezenas de países vivendo conflitos e mais de 25% da população global vivendo sob esta violência.
De acordo com dados da Acnur, agência da ONU para refugiados, pelo menos 108,4 milhões de pessoas em todo o mundo foram forçadas a deixar suas casas nestes últimos tempos. Entre elas estão 35,3 milhões de refugiados. O Fórum Econômico Mundial já havia alertado em seu Global Risks Report de 2023, que os confrontos geopolíticos e a migração involuntária estavam dentre os dez riscos mais severos nos próximos dois anos.
Guerras impactam profundamente a humanidade, não apenas no que se refere à violência das batalhas e a desestabilização das economias ao redor do mundo, mas principalmente atingem a essência do tecido social e humano, criando profundas cicatrizes e traumas, muitas vezes incuráveis.
Não faz o menor sentido continuarmos usando nos negócios uma linguagem carregada de analogias de guerra, como por exemplo, faca nos dentes, sangue nos olhos, combate, batalha, inimigo, dentre outros termos frequentemente utilizados sem a devida reflexão sobre o que de fato eles representam.
E qual o papel das lideranças empresariais e dos negócios em momentos tão devastadores como os que estamos vivendo?
Nos últimos anos é possível observar que crescem as expectativas em relação ao papel social das empresas e este papel transcende as questões relacionadas à responsabilidade social corporativa e filantropia. Empresas podem e devem gerar valor sustentável e de longo prazo para todos os seus stakeholders, mas para isso é necessária uma profunda mudança na forma como os negócios são geridos e também um novo perfil de liderança, muito mais consciente de seu papel como agente de transformação e dos negócios como alavanca para construção de uma sociedade melhor.
Quando empresas muitas vezes são maiores que países inteiros em termos de riqueza e estão onipresentes no cotidiano das pessoas, é urgente a adoção de uma postura mais responsável e humanitária.
Lideranças de negócios devem considerar não apenas os impactos diretos e indiretos dos conflitos e guerras nos negócios, como, por exemplo, as questões relacionadas à cadeia de abastecimento, os mercados de ações ou a própria força de trabalho. Homens e mulheres que estão liderando negócios, sejam eles de pequeno ou maior porte, têm um papel fundamental na construção de uma cultura organizacional e valores associados à ética, integridade, paz, cooperação e humanidade. E isto pode ser feito no cotidiano das empresas, como por exemplo, por meio do pagamento de salários dignos, da construção de relações de confiança com clientes e fornecedores, do cuidado com o meio ambiente e com as pessoas e, sobretudo, na construção de um negócio que gere impacto positivo para a sociedade ao mesmo tempo que gera lucro.
Não é possível negócios prosperarem em uma sociedade que fracassa e as lideranças empresariais podem realizar muito em suas áreas de influência na construção de uma sociedade mais justa e pacífica.
A abordagem do Capitalismo Consciente traz como um dos pilares na construção de um negócio consciente, o conceito de liderança consciente. Lideranças conscientes se esforçam para exercer um impacto positivo por meio das empresas em que atuam. Dão amostras cotidianas de várias das mais admiradas qualidades dos seres humanos e acreditam firmemente no trabalho como uma oportunidade de contribuir para a construção de um futuro melhor para todos.
Este perfil de liderança usa seu poder e influência para mobilizar e engajar pessoas em torno de uma causa, de um propósito. Constroem culturas de confiança, integridade, amor e cuidado, onde as pessoas, sejam eles colaboradores, clientes ou fornecedores se sentem verdadeiramente parte de algo maior.
Diante de tudo isso, chega de usarmos uma linguagem no mundo dos negócios carregada de analogias de guerra.
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