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Operadora de Starbucks e Subway no Brasil pede recuperação judicial

Empresa citou problemas que se arrastam desde a pandemia e afirmou que RJ será necessária para reestruturar dívida de R$ 1,8 bilhão
Operadora de Starbucks e Subway no Brasil pede recuperação judicial

A SouthRock Capital, que opera as marcas Starbucks e Subway no Brasil, entrou com pedido de recuperação judicial na 1ª Vara de Falências do Tribunal de Justiça de São Paulo, ontem (31). O cenário econômico do País e as consequências da pandemia da Covid-19 foram apresentados como principais causas da crise econômica. Porém, na noite desta quarta-feira (1), a Justiça de São Paulo negou a solicitação.

Em sua decisão, o juiz Leonardo Fernandes dos Santos, da 1ª Vara de Falências de São Paulo, pediu uma perícia prévia sobre a documentação apresentada pela companhia. E para a realização da perícia, o magistrado nomeou a empresa de administração judicial Laspro Consultores. Ele determinou a apresentação do laudo em até sete dias corridos.

O juiz também alegou ser necessária a “constatação da situação da empresa in loco, de modo a saber suas reais condições de funcionamento”. A SouthRock Capital já informou que “irá recorrer desta decisão inicial e não definitiva”.

O pedido de recuperação judicial

O pedido judicial, elaborado pelo escritório TWK Advogados, comunicou uma dívida de R$ 1,8 bilhão. O fundo de investimentos ainda opera outras marcas no Brasil, como a TGI Fridays, o centro de gastronomia Eataly, em São Paulo (SP), e a Brazil Airport Restaurants, que opera multimarcas de alimentos e bebidas nos aeroportos do País.

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Apesar de controlar também a Subway no Brasil, a marca de sanduíches não foi citada no pedido. De acordo com nota enviada pela assessoria da SouthRock, “por uma decisão de negócios, tomada em conjunto com os parceiros comerciais, a marca Subway não faz parte do pedido de Recuperação Judicial”.

Ainda conforme o pedido apresentado à Justiça de São Paulo, a empresa, comandada pelo investidor Ken Pope, entrou com pedido de recuperação judicial no estado paulista alegando ser a praça onde são realizadas as operações comerciais que geram a maioria das receitas da empresa e onde estão situados os ativos mais relevantes. A empresa também alega ser a cidade o local onde residem os atuais ocupantes de cargos diretivos do grupo.

O pedido alega ainda que a economia brasileira tem se caracterizado por seu baixo grau de confiança e alta instabilidade, bem como pela volatilidade das taxas de juros e constantes variações cambiais que desequilibram o mercado e atingem fortemente o empreendedor brasileiro. Fatos agravados, pelas consequências da recessão econômico-financeira dos últimos anos, em função do período de pandemia da Covid-19, quando a empresa diz ter observado queda de 95% nas vendas, além de ter suportado grande inadimplência por parte de seus parceiros comerciais.

Nos anos subsequentes, a empresa alega que continuou sofrendo queda nas vendas, registrando redução de 70% em 2021 e 30% em 2022, impossibilitando a recomposição do fluxo de caixa. A SouthRock também ressalta no pedido que o setor de varejo foi um dos mais afetados pela crise sanitária (e econômica) já que diversos insumos utilizados para a confecção de seus produtos tiveram o preço alterado para um patamar jamais praticado, bem como foram afetados pela desvalorização da moeda corrente nacional ao longo do período, ampliando, desse modo, os custos em toda a cadeia de produção, de forma que o público não conseguiu manter o mesmo patamar “outrora de consumo para determinados produtos”, atesta o documento.

Por fim, a empresa alega ter feito o pedido não só para “proteger o seu interesse privado, mas também, e principalmente, para garantir a continuidade de sua atividade empresarial e, por conseguinte, manter os postos de trabalho, a produção de bens, a geração de riquezas e o recolhimento de tributos, atendendo, assim, à função social da empresa”, informa o documento.

Procurada para prestar esclarecimentos, a SouthRock disse, em nota, que enquanto esses ajustes estruturais estão sendo implementados, “todas as marcas continuarão operando e entregando os produtos exclusivos e as experiências únicas que cada uma delas oferece aos consumidores que visitam suas lojas todos os dias”.

Eles informam, também, que a empresa segue comprometida em continuar trabalhando em estreita colaboração com seus parceiros comerciais para criar as condições necessárias para seguir desenvolvendo e expandindo todas as suas marcas no Brasil ao longo do tempo.

Crédito: Adobe Stock

Ainda em nota, a SouthRock afirma que a reestruturação já começou, com o apoio de consultores externos e stakeholders. E que o trabalho deve continuar para proteger financeiramente algumas de suas operações no Brasil atrelado a decisões estratégicas para ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica.

Os ajustes, segundo a nota, incluem a revisão do número de lojas operantes, do calendário de aberturas, de alinhamentos com fornecedores e stakeholders, bem como de sua força de trabalho tal como está organizada atualmente.

A reportagem procurou a consultoria Galeazzi & Associados que a SouthRock havia contratado para organizar sua reestruturação, mas eles alegaram que a diretoria e o CEO da empresa estão envolvidos em projetos, e que não iriam se pronunciar. 

O escritório responsável pela elaboração do pedido, TWK Advogados, também não retornou até o fechamento desta edição.

O Tribunal de Justiça de São Paulo informou, por meio de sua assessoria, que os documentos nos autos são de acesso restrito às partes e seus advogados e que somente as decisões judiciais ficariam disponíveis, com exceção dos processos em segredo de justiça. E que os magistrados não podem se manifestar sobre processos em andamento, já que são impedidos pela Lei Orgânica da Magistratura.

Atuação da SouthRock no Brasil

O fundo de investimentos possui, atualmente, 187 lojas próprias do Starbucks no Brasil e ainda opera outras marcas de alimentos e bebidas no País como quatro lojas da rede americana TGI Fridays, e o centro de gastronomia Eataly, em São Paulo (SP), que conta com mais de 8 mil produtos, seis restaurantes, cafeterias, confeitarias, sorveteria e a maior adega de vinhos italianos da América Latina.

Além das redes de restaurantes internacionais, exerce atividades por meio das marcas Brazil Airport Restaurantes – com 25 lojas localizadas nos maiores aeroportos internacionais localizados nas principais capitais do País (São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Brasília/DF, Florianópolis/SC e Belo Horizonte/MG); e Brazil Highway – com 6 estabelecimentos nas principais rodovias do estado de São Paulo.

Fundada em 2015, a SouthRock lançou uma abordagem de proprietário/operador para o desenvolvimento de marcas de alimentos e bebidas no Brasil com o compromisso de desenvolver uma sólida cultura de empreendedorismo inclusivo com seus colaboradores e, ao mesmo tempo, promover a expansão de marcas globais locais alinhadas aos seus valores.

Crédito: Adobe Stock

Em 2017, inaugurou a Brazil Airport Restaurants para atuar nos maiores e mais movimentados aeroportos do Brasil. Em 2018, a SouthRock tornou-se a Master Licensee (Master Licenciada) das prestigiadas e mundialmente conhecidas Starbucks e TGI Fridays no Brasil.

Em 2019, a Starbucks expandiu sua operação para além do eixo São Paulo-Rio, alcançando clientes também em Santa Catarina, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. 

Ainda em 2019, criou-se o SouthRock Lab, com o propósito de acelerar o avanço tecnológico e aprimorar a experiência física e digital dos clientes por meio das marcas operadas pelo grupo. Por fim, em 2022, a SouthRock passou a operar o renomado centro gastronômico Eataly, localizado em São Paulo (SP).

Pedidos de recuperação disparam no Brasil

Os últimos dados divulgados pelo Serasa mostram que o número de pedidos de recuperação judicial no Brasil e em Minas dispararam. No mês de setembro de 2023 foi inclusive registrado um novo recorde nacional: 136 pedidos de recuperação judicial, um aumento de 94,3% em comparação ao mesmo período do ano passado. De setembro de 2022 até setembro de 2023, foram 1.242 requerimentos. Os números de outubro ainda não foram divulgados.

O professor no curso de Ciências Contábeis no Ibmec, Gustavo Tomaz de Almeida, ressalta que Minas segue a tendência nacional. Ao confrontar o número de solicitações de janeiro a setembro de 2023, com o mesmo período do ano anterior, há um crescimento de 47,7% no volume de requisições na esfera judicial – correspondente a um adicional de 31 solicitações – e de 33,3% no âmbito extrajudicial. Já Belo Horizonte apresenta índices ainda maiores com um crescimento de 50%, totalizando 8 requisições a mais em relação a 2022.

O coordenador do curso de Ciências Contábeis, também do Ibmec, Walter Morais, explica que são diversas as motivações para o aumento dos pedidos. “Calote de clientes, aumento de custo de aluguel, custo do crédito, redução do poder de compra”, são alguns dos fatores que contribuem com o volume, explica Morais.

Além disso, ele ressalta o aumento dos juros pós-pandemia (inflação e Selic), que encarece as dívidas, colocando o Brasil entre as 40 principais economias com os maiores juros reais do mundo. A apreensão em relação ao texto final da reforma tributária, o que desencoraja investimentos do curto e médio prazos, e os casos de má gestão financeira de algumas corporações fecham o “pacote” de motivações para resultados negativos.

*matéria atualizada às 20:30h do dia 01/11/2023

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