Estudo da FDC traça panorama e perspectivas para a economia

As expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para este ano estão melhores que as previsões anteriores. É o que descreve o estudo “Economia Global e Brasil – panorama e perspectiva” publicado pela Fundação Dom Cabral (FDC). Esse otimismo está relacionado aos efeitos positivos das medidas adotadas pelo governo federal desde a pandemia. O desempenho da economia brasileira é favorável, até mesmo quando comparado com as maiores economias globais.
Já as previsões para o PIB global estão em baixa, mesmo com a retomada de crescimento da economia. Dentre os principais causadores desse cenário estão as altas taxas de juros derivadas das políticas monetárias adotadas pelos bancos centrais com o propósito de conter o efeito inflacionário.
Conforme o estudo, embora a atividade econômica global tenha um crescimento projetado para 2023 de aproximadamente 3% ao ano (a.a.), a economia mundial ainda enfrenta esses efeitos agravados pelo prolongamento da guerra na Ucrânia. O mundo vem apresentando um lento crescimento, com uma recuperação no primeiro trimestre e crescimento de 3,5% no segundo.
O relatório também diz que a economia dos Estados Unidos (EUA) segue com inflação muito alta, o que implica altas taxas de juros. Enquanto a Zona do Euro, segundo relatório Summer Economic Forecast da Comissão Europeia, deve apresentar um crescimento abaixo do esperado tanto para este ano quanto para o próximo. Assim como nos EUA, a inflação segue persistentemente alta no bloco europeu. Já a economia da China permanece abaixo do que era observado na última década.
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Além disso, a inflação global foi impulsionada pela demanda de bens no período pós-pandemia e o consequente aumento das demandas das principais commodities e fretes marítimos. Depois veio a subida de preços de energia provocados pela guerra na Ucrânia. Portanto, a inflação global continua elevada e os bancos centrais das principais economias permanecem determinados a promover a convergência da inflação para suas metas.
Como a política monetária opera com defasagem de tempo sobre a inflação, a maior parte dos efeitos da elevação das taxas de juros ainda não se materializou em sua totalidade. Em compensação, cabe considerar que tanto os fretes marítimos quanto os preços de commodities seguem em curva descendente.
No caso do Brasil, a situação é diferente dos demais países, com um movimento positivo de 2,9% em 2022 e com uma projeção próxima de 3% para 2023. Segundo especialistas, as exportações brasileiras podem seguir estáveis. No âmbito dos alimentos, a China continuará com forte demanda, isso porque, embora desacelere, permanecerá em crescimento com aumento da renda per capita. Já o minério de ferro, embora o preço tenha caído 9%, o volume exportado pelo Brasil aumentou 8%, o que implica baixo impacto sobre esse produto.
Atividade econômica no Brasil, segundo a FDC
A economia brasileira apresentou um desempenho acima das expectativas do mercado no primeiro semestre deste ano e, segundo o estudo da FDC, o mesmo deverá ocorrer com o crescimento anual. Esse resultado está ligado ao desempenho macro e fiscal mais favorável ocorrido durante os períodos de estresse econômico causado pela pandemia, pelo choque de inflação global e guerra na Ucrânia.
Essa boa fase também está sustentada nas reformas econômicas realizadas como as da previdência e a trabalhista, a autonomia do Banco Central, o marco regulatório do saneamento, a atualização regulatória do setor de gás. Além da aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, no âmbito da Câmara dos Deputados.
Para a FDC, todos esses fatores contribuíram para que a economia brasileira se tornasse mais resiliente. Porém, será preciso avançar visando à recuperação do grau de investimentos obtido em 2008 conferido pela agência de rating Fich.
O professor da FDC e responsável pelo estudo, Gilmar de Melo Mendes, lembra que naquela época, o País contava com um crescimento de 4% a.a. contra os 3% previstos para o final de 2023 e com uma dívida em torno de 50% do PIB contra os atuais 73%. “Os desafios da disciplina fiscal, continuidade das reformas, melhoria dos marcos regulatórios, privatizações e atração de investimentos continuam prioritários para o desenvolvimento desejado”, sinaliza.
O estudo ainda ressalta o atual momento de expectativa de desaceleração da inflação tanto para este ano quanto para 2024, o que demonstra a eficiência das medidas adotadas e as características de externalidades geradoras dos impulsos inflacionários.
De acordo com o Relatório de Inflação divulgado pelo Banco Central em junho deste ano, a melhoria da expectativa do mercado pode estar associada à redução da incerteza relacionada à situação fiscal e à percepção de que ficou menos provável uma possível elevação da meta de inflação para os próximos anos.
O Banco Central também revelou, em seu relatório de inflação de setembro deste ano, que a taxa de desocupação tradicional está no menor nível desde 2015. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) o indicador atingiu 7,8%.
Além disso, diferentemente do que ocorreu nos três trimestres anteriores, quando a contribuição para queda havia sido a retração da força de trabalho, nesse trimestre, encerrado em julho, o recuo da taxa de desocupação decorreu do crescimento da população ocupada.
Projeções para economia brasileira
Com essas perspectivas inflacionárias e, consequentemente, a subida das taxas de juros, as projeções macroeconômicas do PIB do Brasil para 2023 têm sido recalculadas pelas diversas instituições do mercado. No entanto, as previsões para o próximo ano seguem com variações em torno de 1,5%, assim como nas projeções do Fundo Monetário Internacional. Já o Banco Mundial, segue com sua expectativa próxima a 1,4% para 2024.
Isso indica uma política monetária com flexibilização, como já vem ocorrendo com expectativas da taxa Selic em patamares em torno de 12% a.a. ao fim de 2023 e expectativa de 9% a.a. ao fim de 2024. Porém, existe uma expectativa de aprovação do arcabouço fiscal no Congresso Nacional e, com isso, a realização de resultados mais favoráveis para o resultado primário.
Esse cenário de projeções mais favoráveis a partir deste ano está considerando um avanço nas reformas como também nos níveis de inflação e relação dívida pública/PIB. A prevalecer esse equilíbrio, essa projeção do Ministério da Fazenda se apresenta crível para o crescimento do país.
Conflitos pelo mundo
O atual conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas abriu uma nova frente de tensão global, que já estava intensificada, por conta da guerra na Ucrânia, dos conflitos comerciais entre EUA e China, das tensões no mar do Sul da China e também em torno de Taiwan. “Tudo isso distancia as possibilidades de paz e implica em aumento de tensões geopolíticas globais, inclusive com a preocupação de uma escalada nos conflitos e de forma específica a participação do Irã”, pontua Mendes.
Isso também pode acabar acarretando aumento nos preços de petróleo, o que, por sua vez, impulsionaria a inflação global, empurrando o mundo para uma recessão econômica. Em seu estudo, a fundação aponta que, embora seja cedo para avaliar o impacto completo, devido à singularidade deste conflito, já houve variações nos preços do petróleo nos estágios iniciais da contra-ofensiva de Israel, que depois retornaram aos níveis anteriores.
“De forma específica, a crescente inflação global e a centralidade nos temas da segurança energética e alimentar foram alguns dos vários impactos. Vimos que a esses temas foram adicionados um processo de desaceleração da globalização, bem como as várias tensões geopolíticas em curso já há algum tempo e agora acrescidas pelo conflito entre Israel e o Hamas”, sinaliza Mendes.
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