Duas novas exposições são atrações em Inhotim

O Instituto Inhotim está com uma nova exposição e uma obra comissionada como parte de sua programação artística de novembro. Foi inaugurado o último ato do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, Quarto Ato – O Quilombismo: Documentos de uma Militância Pan-Africanista, em curadoria conjunta com o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) na Galeria Mata. Já a obra “Giro” (2023), da artista Luana Vitra (foto), está exposta na Galeria Marcenaria.
Inhotim e Ipeafro iniciaram uma parceria inédita em 2020 e inauguraram em dezembro de 2021 a primeira exposição dentro do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra. O Quarto Ato traça um panorama da vida de Abdias Nascimento (1914-2011), tendo como eixo Xangô, orixá da justiça, presença forte no pensamento, no discurso e nas pinturas do artista.
Dividida em oito núcleos, a exposição percorre as múltiplas realizações do poeta, dramaturgo, ator, escritor, artista e político Abdias Nascimento. Sob a perspectiva da resistência e criatividade quilombista, ele inaugurou novas lógicas de produção, cultura e vida, para além de seu tempo.
“O quarto ato, que se dedica ao quilombismo, conceito que permeia a vida, a obra e a prática desse artista e intelectual, é o fechamento desse projeto que reverencia todo um legado. Ao longo desses três anos da presença de Abdias no Inhotim, observamos suas ideias extravasarem para outras mostras, para a estrutura da instituição. Esta exposição sinaliza o último ato do programa, e apresenta a consolidação da produção de Abdias como marco da cultura brasileira e internacional”, explica Douglas de Freitas, curador coordenador do Inhotim.
O ciclo de exposições Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra ressalta a perenidade da trajetória de Abdias, trilhada no ativismo e no combate ao racismo. “Nesta parceria, avançamos nas discussões sobre as questões relacionadas à presença do povo preto nos museus. Ainda que o trajeto seja longo e os desafios constantes, hoje podemos afirmar que Inhotim caminha em direção a construir um espaço mais amigável à pessoa negra, resultado das iniciativas a partir da presença do legado de Abdias Nascimento no museu”, afirma Julio Menezes Silva do Ipeafro, jornalista, pesquisador e co-curador da mostra.
“Ao longo da parceria, tivemos o privilégio de caminhar rumo à materialização de sonhos. Ao idealizar o Museu de Arte Negra a partir de 1950, Abdias Nascimento e seus companheiros vislumbravam a transformação do conceito de museu. Em oposição à instituição excludente e inerte do etnocentrismo europeu, eles propunham valorizar a pessoa e a arte dos excluídos, e que estes tomassem as rédeas e definissem seus rumos, para interagir em pé de igualdade na construção de espaços vivos e dinâmicos. O Ipeafro tem o mesmo sonho ao levar adiante o legado de Abdias. A parceria com o Inhotim abriu espaços para novas dinâmicas em direção à justiça, princípio de Xangô que preside este Quarto Ato. Esperamos que esses espaços continuem a crescer no Inhotim, no mundo das artes e na sociedade como um todo”, relata Elisa Larkin Nascimento, diretora do Ipeafro e co-curadora da mostra.
Nova vocação
“Giro’ (2023), de Luana Vitra, está sendo comissionada especialmente para a Galeria Marcenaria. A obra da artista dá início a uma nova vocação para esta galeria, que passa a receber exposições temporárias no Inhotim, assim como as galerias Lago, Fonte, Mata e Praça.
Entre os elementos materiais de “Giro”, estão vasos de cerâmica feitos em parceria com Benedikt Wiertz do Ateliê Xakra, também localizado em Brumadinho, e Alex Santana (Cerâmica Santana). Outro diálogo com o entorno é que as pedras usadas no trabalho foram coletadas no próprio Inhotim. A obra apresenta peças em cobre, produzidas por Aitam Camilo (ArteTude). No trabalho, a artista questiona sobre a nossa relação com a paisagem, principalmente a de Minas Gerais.
A obra se relaciona com diversos aspectos da vida de Luana, artista plástica, dançarina e performer. A multiartista foi criada em Contagem, cidade industrial que fez seu corpo experimentar o ferro e a fuligem, e gestada entre a marcenaria (pelo pai) e a palavra (pela mãe, professora).
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