Economia

“Pedra de Toque”

“Pedra de Toque”
Crédito: Freepik

“O jornalista talentoso busca a verdade como uma espada que corta tudo”. Mário Vargas Llhosa in “Estado de S.Paulo”, 17/12/23 – p. A17.

Quem viveu nos anos 1950/1960 por certo se lembra de um noticiário pelo rádio chamado “Repórter Esso”. Sua credibilidade era tão grande que quando alguém duvidava de alguma informação, comentava em seguida “mas deu no Repórter Esso”. Aí as dúvidas se dissolviam. Havia então confiança no Repórter e na imprensa em geral: rádio, jornais, revistas e a incipiente televisão com seus noticiários locais.

Hoje é difícil de acreditar em certos canais de televisão que insistem em apresentar a versão dos fatos do ponto de vista da emissora ou do jornal, sem se preocupar com a objetividade deles, contrariando a recomendação que abre esse texto.

O “Estado de S. Paulo” trouxe a derradeira coluna “Pedra de Toque” de Mário Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura, traduzida em dezenas de jornais pelo mundo afora e publicada originalmente no jornal espanhol “El País”, na qual ele traz uma lição de jornalismo. O escritor está com 87 anos de idade e quer se dedicar de forma exclusiva à literatura. Neste último texto, ele comenta como a orientação editorial inicial daquele jornal de publicar apenas a verdade “nua e crua” dos fatos resultou no sucesso do “El País”.

O peruano dá uma lição de honradez e admite que a realidade objetiva, muitas vezes política, complexa e diversa, pode mudar com rapidez, mas o repórter não pode desviar suas informações do momento por causa do desejo do editor, adotar a ideologia dele pra agradá-lo, se quer fazer carreira e ser reconhecido como alguém confiável. O jornalista precisa da confiança, da credibilidade de seus ouvintes ou leitores e aquelas uma vez perdidas, perdidas pra sempre. Como no samba “não dou exemplos pra não dar o que falar”.

Ao ler o texto de Llosa, lembrei-me do Repórter Esso e a inevitável comparação entre a nossa atual mídia em geral e em especial aos grandes noticiários dos canais de televisão e jornais impressos que estão a perder a público e se tornaram motivos de chacota nas redes sociais por falta de credibilidade. Os profissionais mentem por recomendação editorial e/ou relatam apenas o que interessa ao dono da empresa. Eles não estão interessados em apurar os fatos objetivos da notícia. Publicam-na e distorcem-na sem pudores e sem ruborizar para agradar o chefe.

Outrora esses mesmos noticiários representavam uma opinião merecedora de todo crédito. Agora se desmancham na audiência e no absurdo da insistência de transmitir uma ideologia que a avassaladora maioria dos brasileiros não acredita mais. Com essa repugnante atitude, todos perdem, até eles. Noticias fakes e políticos mentindo em entrevistas são divulgadas na tentativa de enganar a audiência e são vistos pelo público esclarecido como execrável manipulação de uma população que já não crê nos políticos e duvida de tudo.

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