Melhor adiar comemorações

Desde a última quarta-feira, segundo dia útil de 2024, está valendo o limite de 100% – ao ano! – para cobrança de juros sobre dívidas financiadas através de cartões de crédito, fato apontado como saudável avanço. Para quem chega ao País sem conhecer seus hábitos e costumes poderá parecer absurda a reação diante de cobrança nessa escala, significando que uma dívida não paga pode dobrar a cada ano.
Não será o caso de quem sabe que até terça-feira e durante longos anos dívidas não pagas e roladas com cartões de crédito estavam sujeitas a taxas anualizadas que iam além dos 400%. Houve um progresso, cabe reconhecer, mas igualmente concordar com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) quando afirma que “vai continuar a buscar soluções para uma efetiva redução dos juros que beneficie especialmente a população de renda mais baixa”.
Buscar uma “efetiva redução dos juros” prossegue sendo, para o País, um esforço tão necessário quanto urgente, cujo resultado poderá ser um dos melhores indicativos de que a economia local trocou a insanidade por condições mais saudáveis, seja para o atendimento das necessidades básicas da população, seja para a consolidação e crescimento dos negócios. Tudo isso significa disponibilidade de crédito e condições de acesso viáveis, dando fim à ideia de que para obter crédito no Brasil o interessado em primeiro lugar tem que ser capaz de provar e comprovar que não precisa dele.
Nessa perspectiva, o que se pode concluir é que nos falta ainda um longo caminho a percorrer, inclusive para que as mudanças agora festejadas sejam percebidas na perspectiva da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs), que num primeiro momento se limitou a informar que “analisa os impactos da nova resolução com os associados”. Mais não disse, muito menos se deu ao trabalho de alinhar argumentos para tentar explicar e defender a situação anterior da qual não se tem notícias de nada semelhante em nenhum lugar do planeta.
Eis porque na perspectiva das autoridades públicas, quer queiram ou não têm a maior parcela de responsabilidade além da obrigação de corrigir o que está errado, o entendimento mais apropriado deve ser o de que a reversão está apenas começando. Quem sabe para trazer de volta ao centro das discussões questão levantada pelo saudoso ex-vice-presidente José Alencar Gomes da Silva quando recomendava que as taxas de juros no Brasil precisavam reencontrar “patamares minimamente civilizados”.
Quem entender que taxa de 100% ao ano para cartões de crédito devam ser festejadas saberá que ainda estamos muito distantes do ponto de equilíbrio, do aceitável.
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