Sonhando mais alto

São verdadeiramente impactantes os números divulgados na semana passada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio relativos ao desempenho do comércio exterior brasileiro no ano passado. O superávit chegou a US$ 98,8 bilhões, um novo recorde que representa também mais que o triplo do valor alcançado em 2011, com as exportações somando US$ 339,7 bilhões enquanto as importações ficaram em US$240,8 bilhões. Ao apresentar os dados, o vice-presidente Geraldo Alckmin, também titular do Ministério, destacou que as vendas brasileiras no exterior tiveram expansão maior que a média mundial no mesmo período. Quase um terço das exportações, ou US$ 105,6 bilhões, teve como destino a China, com incremento de 16,5%, enquanto as vendas aos Estados Unidos e União Europeia registraram queda de 1,5% e 9,1%, respectivamente. À frente das exportações brasileiras permanece o agronegócio, com US$ 81,5 bilhões, ou incremento de 9%, seguido da mineração com US$ 78,8 bilhões e alta de 3,5% na comparação com o ano anterior.
Na direção contrária, na composição das importações brasileiras em 2023 o destaque fica por conta da indústria de transformação, que totalizou US$ 218,4 bilhões, um dado que retira parte do brilho dos números agora apresentados. Traduzindo, nas vendas brasileiras tem peso decisivo produtos primários, de baixo valor agregado, acontecendo o oposto com relação às compras do País no exterior, realidade que ajuda a explicar também o processo de desindustrialização que o País enfrenta. Uma competição desnivelada e em que produtos chineses, de eletrônicos, passando por automóveis e vestuário até chegar à mais variada quinquilharia, vão ocupando espaços que antes pertenciam à produção local. E estamos falando apenas das transações formais, aquelas que podem ser contabilizadas e assim aparecer nas estatísticas agora apresentadas. Faltaria somar, para que o quadro final ficasse mais perto da realidade, tudo que entra no País ilegalmente, na forma de contrabando principalmente via Paraguai.
São considerações que absolutamente não ofuscam o desempenho do agronegócio brasileiro, hoje com papel decisivo na composição da economia local, além de levar o País a figurar, com destaque, entre os maiores produtores globais de alimentos. Só não nos parece aceitável – e usando como exemplo o próprio setor – que o Brasil seja o maior produtor de café do mundo, enquanto a condição de primeiro processador do grão pertença à Alemanha, que não tem um único pé de café plantado. Nas últimas duas décadas o agronegócio brasileiro deu salto de gigante, o que está bem evidenciado nos números agora apresentados, com ganhos de produção e produtividade que representam também a base, ou alicerce, para novo avanço. Sonhamos alto e acertamos. Que seja este o impulso na direção do beneficiamento, da industrialização e agregação de valor, fechando-se dessa forma o círculo capaz de elevar a economia brasileira ao patamar dos países desenvolvidos, com pleno aproveitamento de suas vantagens competitivas, que não tem paralelo.
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