Plano Safra 2024/25 fica aquém do esperado pelo setor produtivo

Lançado na última semana, o Plano Safra 2024/25 terá um volume de R$ 400,9 bilhões em crédito para os médios e grandes empresários e R$ 76 bilhões para a agricultura familiar. Apesar do volume ser maior que o disponibilizado no ano safra passado, o montante ficou aquém do demandado pelo setor, que solicitou cerca de R$ 570 bilhões, o que geraria um aumento de 31% no volume de recursos.
Além disso, houve questionamento quanto às taxas de juros, que em sua maioria foram mantidas iguais ao plano anterior. O setor queria redução, principalmente, pela queda da Selic. O seguro rural também não veio como o setor esperava.
O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, explica que somando os recursos dos planos safras da agricultura familiar e empresarial, na safra 2024/25 os produtos terão cerca de 9% a mais de recursos para investir na produção. O volume, conforme Lucchi, é insuficiente.
“A CNA havia solicitado ao governo – dentro daquilo que nós conseguimos levantar com nossas federações de agricultura – R$ 570 bilhões, ou seja, 31% a mais do plano anterior. Fizemos esse pedido devido ao momento, onde apesar dos custos de produção terem caído, as margens do produtor caíram muito mais. Enquanto o custo caiu, em média, 10%, a margem de algumas atividades chegou a reduzir de 25% a 35%. Então, o produtor está descapitalizado”.
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Crédito restrito
Lucchi destacou ainda, que há restrição de crédito no mercado, mesmo junto a instituições privadas. “O mercado privado está tendo mais restrição na oferta de crédito, devido à queda no preço das commodities e, principalmente, por muitos problemas climáticos. Então, tudo isso, tem deixado o mercado privado mais restritivo na oferta de crédito. Assim, precisávamos de um plano safra mais robusto, até para que o produtor seguisse produzindo e mantendo o pacote tecnológico para a próxima safra”.
O volume de recursos para a equalização dos juros também foi considerado insuficiente. “No ano passado, tivemos R$ 13 bilhões de recurso para equalizar as taxas de juros. Esse ano, foram anunciados R$ 16 bilhões e a CNA solicitou R$ 21 bilhões, que seria o montante adequado”.
Em tempos de adversidades climáticas, seguro rural terá menos recursos
Um dos pontos mais relevantes para o representante da CNA é o seguro rural, que também não foi divulgado como esperava o setor. “O ponto mais importante e não que não foi atendido é a questão do seguro rural. Para o seguro rural nós estamos com cerca de R$ 900 milhões, volume que caiu frente ao ano passado que era de próximo a R$ 1 bilhão. Foi anunciado R$ 210 milhões para o Rio Grande do Sul, em função dos problemas que o estado vem passando”.
Ainda conforme Lucchi, para atender a demanda do setor, seriam necessários, cerca de R$ 3 bilhões para 2024 e R$ 4 bilhões para 2025 para o seguro rural.
“Com o valor anunciado, vamos chegar a pouco mais de R$ 1,1 bilhão. De certa forma, o recurso não vai atender os produtores. O produtor vai seguir exposto como ocorreu nessa última safra, registrando muitos problemas com o clima e tendo que discutir renegociação de dívidas, perdendo, portanto, classificação com os bancos e tendo uma maior restrição na tomada de crédito”.
Recursos do novo Plano Safra vão atrasar
Além das demandas não atendidas, o acesso aos recursos demandará mais tempo. Isso devido ao período necessário para os trâmites e ajustes necessários para que os recursos cheguem na ponta final. De acordo com a assessora técnica do Sistema Faemg Senar, Aline Veloso, o ideal era que os recursos ficassem disponíveis já no início de julho.
“Esperávamos o lançamento do Plano Safra ainda em junho, justamente, para sinalizar ao setor e às instituições as linhas de créditos, especialmente, as taxas de juros e, efetivamente, as instituições financeiras conseguissem ofertar para produtor os planos já em 1º de julho, o que esse ano não vai acontecer. Agora, com o anúncio, há uma série de procedimentos antes da liberação dos valores para contratação. Até o momento, não tem estimativa ainda de quando vai acontecer. Pode haver atraso e comprometimento”.
Aline explica ainda que, no momento, produtores precisam dos recursos de custeio para compra de insumos e preparo do plantio, que tende a acontecer a partir de setembro e outubro, com a retomada das chuvas.
“A semeadura da safra acontece entre o final de setembro e outubro, quando as chuvas retomam. Mas, antes é necessário uma preparação, a compra dos insumos”.
Juros do Plano Safra ficam acima do esperado pelo setor agropecuário
Ao contrário do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), onde a redução dos juros em algumas linhas chegou a 50%, mesmo com a queda da Selic de 2023 para 2024, parte dos juros das linhas do Plano Safra 2024/25 para a agricultura e pecuária empresarial não reduziu.
Nas linhas voltadas para os médios e grandes empresários, houve manutenção dos juros frente ao ano plano anterior. A decisão, não agradou o setor, que esperava juros menores.
Em nota, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) ressaltou que “a importância do corte de 5% para 2,5% – uma redução que chega a 50% em algumas linhas de crédito, o que deveria seguir para todo o setor agropecuário brasileiro. O agro é um só!”.
Diante do Plano Safra 2024/25, a FPA alerta que há aumento de risco de endividamento do setor agropecuário. “O Plano Safra anunciado não traz novidades em recursos, não atendeu ao pedido dos produtores rurais para taxas de juros menores que pudessem ajudar na redução do custo de produção brasileiro e na diminuição do preço dos alimentos. A taxa Selic baixou 3,25%, mas os juros não foram reduzidos de forma equivalente. Um impacto diretamente no risco de inadimplência”.
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