Após atentado, Trump ganha força e comércio entre Brasil e EUA pode ser impactado

O atentado contra o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no último sábado (13), pode dar ainda mais força para sua campanha à Casa Branca. Um novo mandato do Republicano deve ter impactos na relação entre Brasil e EUA, porém, especialistas consultados pelo Diário do Comércio divergem sobre como e em qual intensidade a mudança no governo norte-americano pode afetar nossa economia.
Alguns analistas acreditam que as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos não devem ser tão afetadas. Entretanto, outros já ponderam que a relação entre um governo Republicano e um Democrata pode, sim, gerar um pouco mais de entraves nas relações de comércio entre os dois países.
Para o professor de direito internacional e coordenador da escola de direito da Skema Business School, Dorival Guimarães Pereira Júnior, o governo de Donald Trump já tinha demonstrado, quando foi presidente, que privilegia os aliados, negociando diretamente sem passar por entidades internacionais e é esperado que isso volte a acontecer, assim que Trump for reeleito.
“Trabalhando em um cenário de governo Lula é natural que não tenhamos a mesma proximidade com os EUA que tínhamos no governo Bolsonaro, mas isso não quer dizer que não haverá trocas comerciais. Normalmente, entre governos republicanos, há menos entraves no comércio internacional do quê entre governos democratas e republicanos”, disse Pereira Júnior. O especialista explica que em governo republicanos as barreiras econômicas e tarifárias tendem a ser menores.
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No último sábado, o candidato sofreu uma tentativa de assassinato e, segundo o professor, a ação só trouxe um avanço do favoritismo do Donald Trump e a constatação de que, provavelmente, acelera o que será o resultado das eleições norte-americanas, ainda neste ano. “Trabalhando com esse cenário é mais fácil imaginarmos quais seriam as alianças, pois, com um governo republicano, temos algumas questões que são base. Uma questão é a liberdade maior em termos econômicos e de relações internacionais e econômicas, que sejam menos focadas no sistema internacional e nas organizações internacionais”, salientou.
Para o professor de Economia da Fundação Dom Cabral (FDC), Carlos Primo Braga, com relação às implicações econômicas de uma vitória do Trump nas eleições dos EUA, ao olharmos a plataforma de governo, temos que ser cuidadosos. “Uma coisa é a retórica, outra coisa é o que ele realmente vai fazer. Mas se ele fizer o que está anunciando, por exemplo, colocar uma tarifa de 10% em cima de todos os produtos importados e tarifas de 60% sobre os produtos chineses, isso certamente vai gerar implicações inflacionárias em todo o mundo”, observou.
Estamos em um momento em que a provável eleição do Trump vai criar muitas tensões no mercado financeiro internacional, projetou ele. “No primeiro mandato de Trump, ele teve relações muito complicadas com a Europa. E, tudo isso pode, naturalmente, levar a um aumento de fricções geopolíticas ao redor do mundo. E duas coisas devem acontecer, mais inflação, mas ao mesmo tempo, o dólar deve se fortalecer. Isso pode parecer irônico, mas é porque o dólar continua a ser a moeda de reserva mundial. Quando aumenta a instabilidade na economia todo mundo corre para a moeda norte-americana”, apontou Braga.
Com Trump nos EUA a relação será mais complicada
Sobre a relação comercial que se desenha para o Brasil, o professor destaca que o antagonismo político ‘certamente não facilita’. “O governo de Joe Biden, do Partido Democrata, é mais próximo dos sindicatos e o Biden, sem dúvida nenhuma, um dos presidentes mais amigáveis aos sindicatos que sempre tiveram eleitores importantes para ele durante ao longo da sua carreira política. Certamente, com o Trump vamos ver uma relação mais complicada, pois em termos de prioridades do governo Trump, eu não acho que o Brasil estará no topo da lista de qualquer forma”, considerou ele.
O professor adjunto de Economia do Ibmec e consultor a curto prazo (STC) do Banco Mundial, João Gabriel de Araújo, não acredita que as relações internacionais deverão ser afetadas de forma objetiva com Trump no governo dos EUA, até porque o momento que estamos vivendo já vem ocorrendo muito mais tensões internacionais há algum tempo. Entretanto, a questão da polarização política afeta qualquer país.
“O caso mais recente foi quando o presidente da Argentina, Javier Milei, veio visitar o Brasil e não fez agenda oficial com o governo brasileiro. Casos assim afetam de forma significativa as relações comerciais entre os países. Por um lado, uma visão neoliberal e por outro uma visão de esquerda e isso sempre vai afetar as relações comerciais, seja onde for”, avaliou.
Todo país tem que resguardar a sua soberania. Enquanto políticos, eles devem ter as suas polarizações, mas isso não deve afetar as negociações internacionais dos interesses soberanos do próprio país, destacou Araújo. “Uma vez que isso passe a afetar a soberania do país, as relações comerciais soberanas desses países, isso sim pode causar danos muitas vezes irreversíveis à própria entidade nacional. O Brasil tem sido bastante diplomático com relação a isso e creio que não vamos ter um desgaste muito grande e, possivelmente nem haverá, pois o Brasil nunca foi um país problemático, mesmo com a polarização que temos aqui”, considerou.
Comércio bilateral com os EUA cresceu 5,1% no primeiro semestre
O comércio Brasil-EUA atingiu US$ 38,7 bilhões no primeiro semestre de 2024, crescendo 5,1% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da pesquisa Monitor do Comércio Brasil – EUA, da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil). Houve alta em 8 dos 10 principais produtos exportados aos EUA pelo Brasil nos primeiros seis meses de 2024, com destaque para combustíveis de petróleo (+202,1%); petróleo bruto (+108,3%); café (44,6%); celulose (21,2%); e aeronaves (+11,9%), que seguem como o terceiro principal item de exportação.
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