Entrevista exclusiva: ‘Inovação só existe com inclusão’, diz presidente da Unimed-BH

Para comemorar os dez anos da criação do seu Centro de Inovação, a Unimed-BH está evoluindo para um hub de inovação aberta e novos negócios em saúde, em um formato inédito para o setor no Brasil. O anúncio aconteceu, ontem, durante a sétima edição do Talks Unimed-BH. O Horizontes Hub tem como objetivo antecipar a aplicação de novas tecnologias digitais, inteligência artificial e desenvolver novos negócios em saúde.
Foi na sede da cooperativa, no bairro Funcionários (região Centro-Sul), que o presidente da Unimed-BH, Frederico Peret, recebeu, com exclusividade, o Diário do Comércio. A conversa franca e objetiva tratou, além do Horizontes Hub, sobre atendimento remoto, diversidade e inclusão, qualidade assistencial e sustentabilidade do negócio e outros planos da Unimed-BH.
O lançamento do Horizontes Hub marca os 10 anos do Centro de Inovação da Unimed. Qual o significado desses 10 anos e o que muda na estratégia de inovação da Unimed-BH a partir desse lançamento?
São 10 anos de uma ideia muito pioneira de colocar a inovação na pauta estratégica do cooperativismo. Hoje ela já está no Brasil. Tanto o sistema Unimed, quanto todo o sistema cooperativista já tem motores de inovação muito interessantes e que estão crescendo, mas há 10 anos isso não era uma realidade. Eu acho que foi muito acertada essa iniciativa de fazer um centro de inovação. Ele vem sendo muito produtivo. Conseguimos produzir mais de 30 modelos de Inteligência Artificial, também começamos a trabalhar a telemedicina, gerando todo esse motor de impulso assistencial na Covid-19 e também agora na dengue. Mais de 30% dos atendimentos de urgência foram feitos por meios digitais nessa epidemia recente. Isso foi essencial para que a gente pudesse promover acesso para os clientes.
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O cooperativismo tem um novo um novo olhar sobre o planejamento estratégico, sobre a forma de construir os processos internos. Muito do que a gente fez nesses anos todos foi impulsionar o negócio, trazer novas formas de pensar, mais criativa, mais inovadora para recriar e cocriar processos internos. Agora é o momento de crescer. Foram muitas lições aprendidas. É importante que, para dar esse salto para o futuro da cooperativa, a gente trabalhe outras frentes de inovação mais transformacionais. Não só impulsionador do negócio atual, mas que a gente traga novos negócios para dentro do ecossistema. Era fundamental que a gente evoluísse para um hub de inovação mais aberto que é o Horizontes. Então, ele vem agora para ser, claramente, uma evolução do nosso modelo de inovação, mas como uma visão não só de continuar incrementando os nossos processos internos, como, também, trazendo a inovação já disseminada em todas as áreas da cooperativa.
Esses dois motores são muito importantes: uma frente de transformacional em que a gente pode trazer modelos mais avançados e novos negócios. Vamos ter o nosso ambiente e a oportunidade de trazer parceiros de mercado, empresas que trabalham tecnologia e inovação, além do potencial de sermos investidores, de trazer aqui para dentro startups e outras empresas nas quais podemos investir e podemos trabalhar para criar esses processos que a Unimed-BH necessita para o seu desenvolvimento no longo prazo.
Como o Horizontes vai funcionar e como poderá gerar novos negócios?
Não podemos perder o foco na visão do nosso negócio, que é a operação do plano de saúde e da cooperativa como um todo. Muitas iniciativas vão ser traduzidas com o objetivo de continuar esses processos. Temos conversado com empresas de mercado que estão ligadas à inteligência artificial – além da parceria que a gente já tem com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), através do Centro de Inteligência Artificial – que desenvolvem projetos que vão ser aplicados no dia a dia da cooperativa.
Outro ponto são os processos transformacionais que, claro, vão se agregar aos processos já existentes, mas de uma forma mais célere. Então, por exemplo, existe uma preocupação muito grande com a sazonalidade, com a mudança climática. Precisamos saber como isso afeta os negócios no ramo da saúde. Quando eu trago isso para um ambiente de inovação aberta, eu tenho a capacidade de trazer empresas que já têm soluções ou que estão desenvolvendo soluções mais rápido do que eu poderia. Depois da pandemia, prever os eventos extremos que vão impactar a saúde e até para o próprio funcionamento da cooperativa enquanto empresa é fundamental. Prever epidemias, a possibilidade de eventos extremos, como por exemplo, ondas de calor que possam afetar a nossa carteira de clientes, o funcionamento do nosso serviço, para que possamos antecipar as nossas operações, para orientar o cliente sobre o que aqui vai acontecer. Como ele vai prevenir os seus agravos pra saúde e também que eu possa organizar a minha rede assistencial para dar conta de uma demanda em uma situação extrema. Tem situações que eu tenho que, inclusive, mudar a conformação da empresa como, por exemplo, em caso de chuva extrema, deixar parte dos colaboradores em casa ou que eu tenha que usar mais a telemedicina.
E aí vem a terceira vertical, a de novos negócios que é exatamente a oportunidade de trazer tecnologias que vão se somar às duas iniciativas anteriores, ou seja, melhorar as nossas operações, trazer novas operações customizadas e também a oportunidade de investimento trazendo para cá empresas em que possamos investir e ajudar a desenvolver. Atuar como um verdadeiro hub para que essas empresas possam, também, ser apresentadas ao mercado como oportunidade de investimento para eventuais novos sócios. É um novo modelo de negócio que já existe em outras cooperativas tanto no Brasil quanto fora.
Quem pode participar, startups do Brasil inteiro?
Sim. Vamos fornecer espaço para empresas parceiras que estejam formatando projetos conosco. O Horizontes não é só um conceito virtual, é também um conceito físico. Teremos uma área junto à sede, em Belo Horizonte, com um estúdio para avaliação de novas tecnologias que estão ligadas à saúde como, por exemplo, vestíveis, novos aparelhos que possam ser usados para monitoramento ou para transitar no mundo “figital”. Estamos lançando, por exemplo, junto com o Horizontes Hub, um novo conceito que veio de um projeto nosso que é a “jornada do cooperado”. Ela tem uma parte que é uma revisão que estamos fazendo e já trazendo um novo conceito de como serão os consultórios médicos no futuro. É o que chamamos de “Consultório 2030”. Vai ser, por exemplo, possível um médico ou uma empresa que queira conhecer esse modelo de uma nova forma de relacionamento num ambiente dos consultórios médicos ver o modelo num protótipo que estamos desenvolvendo.
Outras cooperativas ou redes de hospitais vão poder participar do Hub lançando desafios em conjunto com a Unimed?
Sim. Já temos uma visão bastante interessante a partir dos projetos que desenvolvemos ao longo desses dois anos na UFMG. A diferença é que, como escola, são editais próprios para as concorrências públicas acadêmicas. Alguns desses desafios são embasados em ideias que nós lançamos. Muitos são projetos de longo prazo, que têm impactos na saúde global, não só aplicados ao ecossistema das operadoras ou cooperativas de saúde. Agora, além desse braço junto ao meio acadêmico, temos um braço junto às empresas de mercado para que elas possam participar e se desenvolver conosco.
É interessante como estamos aqui falando de inovação e futuro e isso conversa com a história da cidade. Belo Horizonte começa muito ligada a essa questão assistencial e à saúde, sendo uma cidade que recebia não só os pacientes, mas também os melhores médicos e cientistas. Hoje a gente vê diversas iniciativas tanto dentro do sistema público, como privado, e na academia buscando a inovação, fomentando debates, promovendo eventos. Essa é, na sua visão, uma das vocações de Belo Horizonte?
É muito interessante você colocar esse ponto porque eu vejo que não é um caminho sem volta e construído ao longo de muitos anos. Eu tenho plena convicção de que isso se encontra muito bem com a nossa função enquanto cooperativa, no nosso modelo econômico, que é de retornar para a sociedade aquilo que é o nosso investimento. Se conseguirmos desenvolver um modelo que possa ser replicado, por exemplo, na questão climática, vamos ajudar todo o sistema a se configurar de forma adequada para enfrentar uma epidemia ou enfrentar um evento severo, eu entendo que nós estamos trazendo um grande retorno. Esses são pontos importantes e, por isso, nós não podemos ficar restritos aos processos internos. A pandemia nos mostrou isso. Nós tivemos essa oportunidade com a telemedicina, mas é importante que a gente possa vir à frente trazendo mais, promovendo processos que possam ser replicados para benefício de toda a população. Somos responsáveis por 1,5 milhão de clientes em 34 municípios. A nossa responsabilidade é também ser um agente de transformação, um agente econômico que seja sustentável, que traga soluções que possam ser utilizadas pela comunidade. Eu vejo que o Horizontes Hub cai muito bem nessa oportunidade por ser um polo agregador de várias iniciativas que podem ser aproveitadas tanto no setor público quanto no setor privado com a mesma eficiência, com a mesma tecnologia e com a oportunidade de transitar dados. Temos muita ineficiência por conta dos dados fragmentados. Isso é uma grande discussão nacional e é claro que nós, enquanto a sexta operadora de plano de saúde do Brasil, não podemos abrir mão de estar nela. Eu vejo isso não só como uma necessidade, mas também com uma responsabilidade.
O mundo todo fala sobre o papel das empresas em relação à responsabilidade socioambiental e à governança. A Unimed, não só pelo número de clientes, tem um papel de ser exemplo e de puxar toda uma cadeia produtiva, certo?
É muito importante entender que essas iniciativas não são isoladas. Quando a gente discute governança, sustentabilidade financeira e ambiental, os impactos sociais daquilo que criamos ou até deixamos de criar, isso se soma a essa iniciativa. Recentemente a gente tem trabalhado de forma um pouco mais estruturada nas políticas ESG da cooperativa, trazendo também uma visão de mercado, mas também procurando amarrar esses três pontos: inovação, diversidade de pessoas – nas suas visões mais amplas – e as políticas de sustentabilidade. Elas caminham juntas. Buscamos aumentar isso mais ainda, deixando de ter polos de inovação para trazer a inovação como matricial para toda a Unimed-BH, para todos os nossos relacionamentos. Se não entendermos que diversidade, inovação e sustentabilidade caminham juntas, o progresso não acontecerá. Sendo mais claro, vou trazer um conceito que eu tenho trabalhado muito aqui dentro da Unimed, que é a inovação inclusiva. A inovação não pode ser uma característica da tecnologia da informação, ela não pode ser característica de só uma geração, não pode ser a característica só de um setor. Ela não pode ser agregada, segmentada ou apartada em apenas um hub ou centro de inovação, ela tem que estar presente na cabeça de todos. Tem que ser inclusiva para todos os colaboradores e, no nosso caso, para todos os médicos que compõem o ecossistema. Ser inovador é um pensamento do dia a dia. Às vezes, uma pequena mudança em um processo pode significar uma mudança gigantesca e se tornar um projeto muito maior.
Falando sobre isso, nós ampliamos o programa “Juntos inovamos”. Ele é uma é uma oficina de inovação que aprimoramos ao longo do tempo e que estimula tanto cooperados quanto colaboradores a apresentarem novas ideias. Ele é muito voltado à realidade do negócio, numa visão de aprimoramento de processos e também de trazer novas ideias para diferentes processos assistenciais ou administrativos. Temos observado que à medida que ampliamos essa iniciativa, temos tido mais pessoas querendo discutir soluções. É por isso que eu falo que não existe inovação sem inclusão. Todos têm que fazer parte do processo e entender que esse é um caminho importante para o crescimento sustentável.
O senhor já falou um pouco sobre o conceito de “Consultório 2030”, que será o grande tema da sétima edição do Unimed Talks, que aconteceu ontem. Qual o principal desafio desse consultório do futuro, aliás, um futuro que já começou?
É facilitar o acesso do cliente ao sistema de saúde, mas não qualquer acesso, ao acesso de qualidade. Que a gente possa ofertar para os nossos clientes o acesso correto, com o profissional que ele efetivamente precisa e que isso seja uma boa experiência para ambos. Quando a gente fala de trazer tecnologia para essa interface – cliente, médico e sistema de saúde – nas suas várias dimensões e locais, estamos trazendo isso com a possibilidade de aprimoramento da relação entre eles.
O fato é que perdemos muito tempo com o computador, com o sistema, por mais que tenhamos evoluído. Isso é uma realidade do sistema no mundo todo. Então, é a tecnologia que tem que quebrar esses gaps. Queremos soluções tecnológicas que possam fazer com que a nossa missão maior possa ser cumprida. Não se trata de trazer tecnologia para substituir as pessoas mas, sim, para agregar e para trazer uma boa experiência para ambos.
O que mais o evento trouxe para os participantes?
Essa sétima edição do Talks foi bastante oportuna por três motivos: primeiro, por trazer essa novidade que é o Horizontes Hub. O segundo ponto ele vem junto com um recente reconhecimento como uma empresa inovadora pelo jornal “Valor Econômico”. Pelo quarto ano consecutivo nós estamos no ranking no segmento de operadoras de plano de saúde. E, por fim, pela nossa necessidade de trazer a inovação efetivamente para a realidade das pessoas.
Eu poderia falar de processos cirúrgicos muito avançados, de robôs que vão revolucionar a forma de atendimento médico, mas quero falar sobre o que a tecnologia pode fazer para mudar sua vida no seu cotidiano até chegar ao ponto em que teremos tantos dados e tão bem trabalhados que o sistema de saúde é que vai te procurar sabendo a sua necessidade, e não você ao sistema.
Como juntar conhecimento técnico e humanidade em um setor onde o fundamento é gente cuidando de gente.
Temos que entender que, independentemente de qualquer viés tecnológico, qualquer novo processo que possamos trazer para dentro da cooperativa, somos uma empresa de pessoas para pessoas. Se começarmos os nossos processos pensando dessa forma, porque nós estamos aqui, porque existimos, acho que nós vamos ser mais objetivos nesse propósito de cuidar da saúde.
Ao longo desses últimos anos a rede cresceu muito. Vocês, ao que parece, nunca tiveram medo de mudar, de adequar perfis de unidades, por exemplo. O que a gente pode adiantar para o futuro da Unimed-BH?
O hospital de Contagem está em franca evolução com a perspectiva da inauguração em 2026. Temos discutido parcerias com outras Unimeds. Recentemente nos reunimos com a Unimed Sete Lagoas, mas ainda estamos em processo de estudo para uma eventual sinergia. O nosso maior foco, porém, é a expansão em saúde digital. Ela não vai substituir a presencial, vai compor as estruturas.
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