Artista plástica mineira cria tintas ecológicas utilizando resíduos de mineração

A artista plástica mineira Ana Elisa Murta desenvolveu uma tinta mineral ecológica que pode substituir as tintas convencionais à base de produtos químicos e causam danos à saúde e ao meio ambiente. O produto, que é atóxico, é fabricado utilizando resíduos da atividade de mineração, como mica, quartzo e hematita, produtos estes que, geralmente, são descartados como estéreis. As tintas podem ser utilizadas tanto para pinturas artísticas como na construção civil.
O projeto tem ganhado apoio de diversas mineradoras e a ideia da artista é utilizar as tintas – em parceria com as mineradoras e até mesmo o governo – para pintar grandes comunidades, trazendo conforto, saúde e estética.
Conforme Ana Elisa Murta, a tinta mineral foi desenvolvida após ela ter uma reação alérgica ao utilizar as tintas tradicionais no trabalho. Assim, partiu em busca de alternativas mais limpas e sustentáveis. Em um passeio à cidade do Serro, observou a diversidade de pigmentos presentes nas rochas e resolveu testar.
“Fiquei muito incomodada com a situação e resolvi estudar a composição das tintas que eu utilizava e buscar alternativas que não tivessem substâncias prejudiciais. Enquanto estava na cidade de Serro, me atentei às cores das rochas e a pigmentação em abundância. Então, comecei a produzir com esses pigmentos, ralando as rochas e misturando com óleo de linhaça”.
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Na região do Serro, há grandes mineradoras e uma das dificuldades para a produção das tintas era ralar as pedras. Então, Ana Elisa Murta entrou em contato com as empresas mineradoras, que possuem as pedras granuladas.
“Fui às mineradoras da região e pedi pigmentos para testar. Assim surgiu a ideia de usar os pigmentos dos rejeitos. Conseguimos desenvolver um produto de qualidade e utilizando recursos que não causam danos à saúde e nem ao meio ambiente”.
Tinta mineral ecológica agrega valor aos rejeitos da mineração
A iniciativa deu certo. Hoje, Ana Elisa Murta pinta quadros, painéis, faz exposições e oficinas de pintura divulgando a tinta mineral ecológica, que além de mais sustentável também mostra que o rejeito mineral tem alto valor agregado e pode deixar de ser um passivo para se tornar um ativo para as empresas do setor. O produto também pode ser utilizado como revestimento na construção civil, sendo aplicado sobre tijolos ou reboco.
A princípio, a ideia da artista plástica é utilizar as tintas em projeto ESG, mas ela não descarta de, no futuro, partir para uma iniciativa comercial. “Quero desenvolver um trabalho em parceria com as mineradoras e até mesmo o governo para pintar grandes comunidades, trazendo conforto, saúde e estética, contribuindo para que as comunidades fiquem mais bonitas, harmônicas”.
Além de reduzir o impacto ambiental da mineração ao utilizar os resíduos minerários, que normalmente são descartados como estéreis ou rejeitos, a artista também destaca que o custo para a produção é baixo.
“Quando pensamos em revestimentos, como o cimento queimado e o grafiato, o custo gira em torno de R$ 25 a R$ 35 o metro quadrado. Já o nosso produto sai a menos de R$ 20 o metro quadrado”.
O trabalho da artista vem chamando a atenção. Ela foi convidada para expor a arte no estande do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), durante a Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram), evento que aconteceu na semana passada e é um dos maiores encontros do setor mineral na América Latina.
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