Preço do leite cai diante do aumento da oferta no campo

O retorno das chuvas elevou a disponibilidade e a qualidade de pastagens e favoreceu a produção de leite em Minas Gerais. A maior oferta impactou os preços pagos aos produtores. Assim, em novembro, referente à produção entregue em outubro, o valor do litro de leite caiu 2,25% para o pecuarista, com o volume negociado, em média, a R$ 2,92.

Conforme a pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a queda também foi observada na média nacional. O preço do leite captado em outubro e pago em novembro fechou a R$ 2,80 por litro, representando, assim, uma retração de 2,6% em relação ao mês anterior. O valor, contudo, ainda é 36,2% maior que o registrado no pagamento de novembro de 2023, em termos reais.

A pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, destaca que a desvalorização no preço do leite cru é explicada, sobretudo, pela expectativa de aumento da oferta. Isso porque o retorno das chuvas da primavera eleva a disponibilidade e a qualidade de pastagens, contexto que favorece a produção.

“Além disso, pesquisas do Cepea mostram que a demanda por insumos ligados à nutrição animal seguiu aquecida em outubro, o que têm mantido o ritmo de crescimento da oferta de leite cru”, prossegue.

Importações prejudicam cotação do leite no campo

Por mais um mês, o aumento das importações de leite também impactaram de forma negativa e fizeram com que os preços no mercado interno recuassem. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostraram que, em outubro, as compras externas subiram 11,6%, chegando a 208,5 milhões de litros em equivalente leite. O volume está 7,4% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.

Enquanto as importações estão em alta, os embarques de leite feito pelo Brasil caíram expressivos 65,9%. Ao todo, foram 4,6 milhões de litros equivalente, 46,6% menores na comparação anual.

A oferta de leite maior também interferiu no mercado spot, com as vendas entre as empresas feitas a preços menores. Conforme o Cepea, a tendência de desvalorização dos lácteos vem ocorrendo desde a segunda quinzena de outubro, ao passo que os estoques dos derivados têm crescido.

Com isso, o leite spot, em Minas Gerais, apresentou queda de 4,4% no preço médio na segunda quinzena de outubro, sendo negociado a R$ 3,15 por litro. O movimento de redução ganhou força também em novembro. A média mineira caiu mais 6% na primeira quinzena, e o litro cotado a R$ 2,96.

Conforme a pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, a estimativa é que haja novas quedas na cotação do leite nos próximos pagamentos: “Esse cenário de pressão sobre as cotações do leite cru, no campo, e para os lácteos, na indústria, deve permanecer até o final do ano. A dificuldade do setor não é lidar com a queda em si, mas com a falta de previsibilidade dos negócios”.

Tendência é de novas quedas

Ela explica que a instabilidade do mercado e a incerteza sobre o posicionamento de concorrentes têm elevado a cautela dos agentes e encurtado o horizonte da tomada de decisão. “Isso é ainda mais complicado nesse momento de alta nos custos de produção e de possível estreitamento de margens no campo, elevando a dificuldade dos agentes em mensurar o potencial de oferta e em determinar as variações nos preços”, disse.

Conforme a estimativa do Conselho Paritário entre Produtores de Leite e Indústrias de Laticínios de Minas Gerais (Conseleite-MG), para o pagamento de dezembro, referente à produção entregue em novembro, a previsão é de uma retração de 4,9% no valor do litro de leite.