Após recorde em 2024, indústria de limpeza se prepara para retração histórica

Em um ano marcado por recordes, a indústria de limpeza estima ter encerrado 2024 com o maior índice de produção da história, após avanço de 13% no terceiro trimestre. Os resultados positivos são derivados da estabilização dos custos de produção, especialmente da matéria-prima, resultando no recuo de 3,06% dos preços para o consumidor final.
De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso de Doméstico e de Uso Profissional (Abipla), Paulo Engler, 2024 foi um ano de excelentes resultados, que superaram as próprias projeções da entidade. “Enquanto estimávamos um aumento de 3%, alcançamos entre 5% e 6%, configurando um recorde tanto em produção quanto em vendas”, avalia.
Os preços competitivos, especialmente de embalagens, contribuíram significativamente para o desempenho positivo. Matérias-primas cruciais como barrilha, palmiste, componentes de sabão em pó e resinas para embalagens — essas últimas homologadas unicamente nos Estados Unidos e na Indonésia — apresentaram bons preços no mercado externo, fortalecendo as margens de lucro das empresas.
Apesar do desempenho positivo, a categoria vem sofrendo com a elevação do custo de produção, como a da tarifa de energia elétrica e combustíveis, que registraram aumentos significativos nos últimos meses. Somado a isso, as frequentes altas do dólar impactaram os custos das matérias-primas importadas, tornando preocupante o cenário para os próximos anos.
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Outro desafio citado como prejudicial para o setor foi o aumento na alíquota de importação de resinas. Essa medida, decidida pelo Ministério da Indústria e Comércio, impactará os preços ao consumidor a partir de janeiro de 2025, especialmente em produtos como sabão em pó e água sanitária.
“Após a decisão do ministério, realizamos uma audiência pública respondendo como isso afetaria os nossos custos de produção. Levamos o que foi possível, mas a política de governo concluiu que o ideal seria aumentar e seremos prejudicados com isso”, destaca Engler.
Repasse de custos é inevitável e começa a partir de janeiro
Com o repasse inevitável para o consumidor, o setor encara com preocupação o futuro de algumas fábricas locais, especialmente de pequeno porte. A alta nos preços deve estimular ainda o retorno da informalidade e o uso de misturas caseiras, que representam riscos à saúde humana e animal.
Se concretizada, a retração deve ser mais acentuada do que a última, ocorrida em 2022, onde o mercado recuou 5,7%, assemelhando-se à última crise severa do mercado, que aconteceu há cerca de dez anos. “Vamos produzir menos porque certamente vamos vender menos. 2025 e 2026 serão dois períodos muito desafiadores, talvez os mais desafiadores dos últimos anos”, pontua o dirigente.
A combinação de custos elevados, somada a informalidade e a tributação crescente exigirá, segundo ele, um maior planejamento das empresas para mitigar os impactos e evitar quedas mais acentuadas.
Apesar disso, Engler destaca que Minas Gerais segue como o segundo maior mercado produtor e consumidor do Brasil para o setor. O Estado se destaca a nível nacional por condições favoráveis de energia elétrica e água, que tornam a indústria local robusta para enfrentar desafios.
“Minas Gerais abriga cerca de 700 fábricas da indústria de limpeza, incluindo marcas de renome com uma ampla variedade de preços. Esperamos que o cenário futuro seja o mais promissor possível e reforçamos a importância do consumo de produtos certificados, já que as misturas caseiras representam um risco a população, especialmente para crianças e animais”, finaliza.
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