Exportações mineiras para a China devem continuar elevadas

A incerteza sobre a política tarifária que o recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, efetivamente adotará, gera expectativas distintas para o comércio exterior de Minas Gerais entre os especialistas. Entre ganhos variados para o Estado, certo é que, no curto prazo, o cenário das exportações mineiras deste ano deve se manter o mesmo de 2024, até por questões de adaptação.
Em 2024, as exportações mineiras para a superpotência norte-americana cresceram 27,3% em relação ao exercício anterior, enquanto os embarques de Minas Gerais para a China diminuíram 4,9% na mesma base de comparação. Entretanto, o gigante asiático continua sendo o principal parceiro comercial do Estado, responsável por movimentar US$ 15,3 bilhões, enquanto as vendas para os EUA geraram US$ 4,6 bilhões.
A economista do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diana Chaib, afirma que, no momento, não há sinal que o comércio bilateral do Brasil com os EUA possa ser favorecido no governo Trump, o que pode fortalecer as exportações para outros parceiros comerciais, como a China.
Ela ressalta que a potência asiática continuará com destaque nas exportações de Minas Gerais em 2025, pela previsão de maior demanda chinesa pelo minério de ferro. “Podemos considerar que o fator gerador desse aumento da demanda da China é o aumento da oferta pelo Brasil e Minas Gerais”, disse a economista.
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Ela aponta que, no ano passado, a China vivia uma crise imobiliária que afetou a demanda interna pelo insumo mineral. “A crise segue, mas talvez perdendo um pouco de força quando comparada ao ano passado”, completa Diana Chaib.
A analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Veronica Winter, espera que as exportações mineiras para as duas potências aumentem em meio à disputa comercial entre os dois países. O foco das tarifas de Trump, aponta, é a China.
Desde o início, as tarifas que o presidente americano fala de impor ao resto do mundo – o que inclui o Brasil – são menores do que as possivelmente serão impostas aos chineses. “Temos a possibilidade de ganhar parte do mercado que a China tem nos EUA e também ganhar no mercado chinês, principalmente porque eles estarão com essa dificuldade com os norte-americanos”, explica.
O aumento das exportações de Minas Gerais para a China pode acontecer principalmente no caso da soja. É o segundo produto mineiro mais exportado para o país asiático e concorre no mercado chinês com a soja produzida nos EUA. A imposição de tarifas chinesas à soja americana, em resposta às sobretaxas de Trump, pode tornar a soja mineira mais competitiva.
Blefe de Trump e aço da China
Para o professor de economia do Centro Universitário Arnaldo Janssen, Alexandre Miserani, a motivação da política tarifária de Trump deve-se, em certa medida, pela hipótese dos países do Brics criarem uma moeda própria, que mexeria com toda a economia internacional.
Ele considera que a postura comercial pouco amistosa com o resto do mundo não encontra base na realidade dos EUA e em uma economia global em que os países são interdependentes. “Isso é uma forma do Trump – ele é um bom jogador – blefar bem”, declarou.
A proteção da indústria americana, buscada por Trump por meio das tarifas, também tem efeito limitado pelo alto custo de produção do país, que seria transferido aos preços dos produtos. “Essa questão é sempre uma incógnita e vai até onde o consumidor americano suportar”, disse Miserani.
Tanto o professor quanto a analista da Fiemg apontam que, mesmo com novas tarifas de Trump, o cenário das exportações mineiras em 2025 deve seguir a tendência de 2024, com crescimento do volume exportado aos EUA e redução, talvez estabilidade, do exportado para a China, já que as novas medidas necessitam de tempo para se consolidar no comércio exterior.
Miserani aponta que, em três anos de governo Trump, pode haver alguma modificação neste cenário, mas duvida que o Estado obtenha queda nas exportações para os EUA, principalmente pela pauta exportadora focada em commodities.
Já Verônica Winter afirma que, assim como no governo anterior de Trump, é possível que a China direcione para o Brasil suas exportações de aço, que seriam reduzidas para os EUA. “Passa a ser um ponto de atenção para os fabricantes, principalmente aqui em Minas, que tem uma grande relevância nesse mercado”, analisa.
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