Opinião

EDITORIAL | Para começar a melhorar

Pesquisas de opinião, faz tempo, situam as questões relacionadas à segurança pública entre as maiores preocupações dos brasileiros. Não sem motivos, evidentemente.

Assim é sintomático que na campanha eleitoral que começa a ganhar corpo o tema figure entre os mais debatidos, com os candidatos sem exceção e não raro impropriamente garantindo que tudo farão para devolver tranquilidade, no quesito segurança, aos brasileiros.

A abordagem da questão em termos efetivos e capazes de gerar os resultados esperados passa, necessariamente, por discussões mais sérias acerca dos sistemas judicial e carcerário, cujas falhas sabidamente ajudam a alimentar todo o processo. Não por acaso é sabido e dito até com alguma dose de naturalidade, como se fosse o esperado, que o crime organizado é comandado de dentro de penitenciárias, de onde, por mais incrível que possa parecer, ainda não se conseguiu banir a utilização de telefones móveis. São na verdade problemas que se acumulam para juntos produzirem a calamidade representada pela ocorrência de 63 mil homicídios no ano passado, conforme há pouco comentado nesse espaço.

O fato é que o confinamento, nas condições em que ocorre, como regra só contribui para agravar e ampliar a criminalidade, sem nada contribuir para a ressocialização. A população carcerária brasileira, estimada em algo próximo a 700 mil indivíduos, está entre as maiores do mundo e representa mais do dobro da capacidade do sistema. Em todos os sentidos, uma calamidade, inclusive quando se constata que o aumento da população carcerária não é acompanhada da redução da criminalidade. Poderia ser diferente, com uma mínima chance de recuperação para os apenados ou, pelo menos, reservando-lhes um tratamento mais humano.

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Uma questão, simplesmente, de racionalidade. Em Minas Gerais, por exemplo, as autoridades competentes informam que existem atualmente 71 mil detentos, dos quais nada menos que 58% são provisórios, isto é, aguardam julgamento definitivo. Nesse universo existem, com certeza, situações irregulares e detenções desnecessárias, o que significa que é perfeitamente possível aliviar o sistema, melhorando suas condições e elevando o conceito de justiça a um outro patamar. Em todo o País a proporção se repete ou é ainda pior, só contribuindo para piorar um quadro que já é muito grave, que em certa medida escapou por completo à capacidade de controle do Estado.

Atacar estas questões, o que não demanda gastos e pode significar economia, deveria estar entre as ações prioritárias, aumentando-se dessa forma a chance de que sejam produzidos os resultados que a população reclama e que os políticos mais uma vez prometem.

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