Lideranças ampliam diálogo com setores de alto impacto

Muito mais do que conduzir empresas e profissionais para caminhos ecoconscientes, a liderança em prol da sustentabilidade também convive com dilemas éticos e morais, especialmente ao lidar com setores de alto impacto, como a mineração. Apesar de haver conflitos, lideranças mineiras fazem a diferença ao ampliar o diálogo em busca de soluções conjuntas para a construção de um futuro mais responsável, alinhado às premissas do ESG (Ambiental, Social e Governança).
Apenas em 2024, as mineradoras em Minas Gerais faturaram R$ 108,3 bilhões, correspondendo por 40% do faturamento nacional, e empregaram diretamente cerca de 223 mil pessoas no País, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A partir desse cenário, a aproximação com empresas de atuações consideradas ambientalmente controversas, parte da perspectiva da importância de conciliar a relevância do setor para o desenvolvimento econômico com responsabilidades socioambientais.
Após atuar durante anos em empresas mineradoras, a idealizadora e diretora da Bridge Gestão Social, Liliane Lana, decidiu imergir em serviços voltados para comunicação e desenvolvimento social. O setor que trabalhou por anos voltaria a procurar a profissional após o rompimento da barragem de Fundão, que ocorreu em 2015 na cidade de Mariana – tragédia que intensificou preocupações de mineradoras quanto à responsabilidade socioambiental.
Com o fortalecimento de comunidades locais em oposição aos serviços prestados nas cidades mineradoras, a diretora conta que executivos começaram a entender que precisariam responder a isso em outro nível de profundidade. “As comunidades ficaram muito mais conscientes quanto aos respectivos papéis e direitos. A partir de então, houve uma ruptura da postura passiva dos grupos diante do poder das organizações”, explica.
A partir de 2021, embalada pela conscientização observada na perspectiva da sustentabilidade, a profissional optou por ocupar o lugar do “S” do ESG, adotando a comunicação social coerente com a proposta do olhar de “ponte”: entendendo a perspectiva das lideranças, da comunidade e do negócio, o que até hoje tem favorecido a construção de diálogos bem-sucedidos. “Quando não contemplamos as necessidades da sociedade, a iniciativa tende a não ser positiva para as empresas”, destaca.
Atualmente, maior desafio citado é a atuação na construção de sentido para diferentes públicos em um mercado que ainda aprende a colocar em prática os conceitos ambientais, sociais e de governança. Na comunicação com acionistas, por exemplo, Liliane Lana destaca que o caminho é ainda mais longo, já que o grupo necessita primeiro entender o resultado gerado no negócio para que se sintam dispostos a investir.

Internamente, o cenário também exige atenção, tendo em vista que a formação tradicional ainda não prepara os profissionais para esse novo modelo de atuação. “Nosso desafio com os colaboradores dessas empresas é quebrar resistências e paradigmas. É preciso romper blindagens para que esse olhar também faça sentido no nosso trabalho”, explica.
Já nas comunidades impactadas por setores controversos, o obstáculo passa pela construção de confiança. Em muitos casos, a empreendedora relata que a desconfiança nas instituições, como prefeituras, secretarias, Ministério Público e organizações, é alta – reflexo de um longo histórico de desgaste. “Nesses territórios, o trabalho de engajamento precisa ser baseado na escuta, na presença contínua e, principalmente, na construção de vínculos verdadeiros com a população local”, argumenta.
A partir dessa necessidade, a empresa atua no desenvolvimento diagnósticos sociais, relatórios e recomendações, pautados nas ODS ligadas ao desenvolvimento local, oportunidades de trabalho e renda, preservação ambiental, construção de residência nas cidades, dentre outros. “Percebemos que as empresas olham cada vez mais para os riscos sociais dos projetos. A partir do momento que sensibilizam quando reconhecem o risco, nós construímos essa conexão”, acrescenta.
Como liderança à frente dos projetos, Liliane Lana deseja que o trabalho realizado em prol de empresas e sociedades mais responsáveis inspire outros profissionais a agirem em busca de um futuro melhor para as próximas gerações. “Vejo que muitas empresas estão falhando em tomar decisões que preservem futuro do planeta. O minério não é renovável, os recursos são finitos e se usamos se forma desmedida, haverá escassez”, destaca.
Além de lideranças ativas frente ao diálogo com mineradoras, a gestora reforça a necessidade de cobranças por novos olhares e investimentos que minimizem impactos. Dentre as alternativas mais viáveis, estão a implantação de novas tecnologias para minimizar os impactos, como a reciclagem e o reaproveitamento de materiais nos processos produtivos.
“É preciso que lideranças invistam em práticas melhores, ambiental e socialmente, que podem reduzir margem, mas vão sustentar negócios que queiram estar apoiados às premissas ESG”, reforça.
À frente do MM2032, Adriana Muls reforça urgência de debates rumo à nova economia
Desde 2017, a presidente e diretora editorial do Diário do Comércio, Adriana Muls, também passou a se dedicar à ampliação do diálogo com setores de alto impacto. Naquele ano, foi idealizado o Movimento Minas 2032, que nasce a partir da urgência de uma articulação entre os diversos setores da sociedade, com foco no futuro e tendo como premissa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
“O Movimento Minas 2032 parte, antes de tudo, de uma proposta de diálogo. Ele se propõe a dialogar e segue fazendo esse convite, especialmente às mineradoras, chamando-as para essa conversa em busca de mudanças e tentativas reais de transformação”, destaca Adriana Muls.
A partir dessa premissa, o projeto em ESG capitaneado pelo Diário do Comércio, em parceria com o Instituto Orior, propõe encontros com membros e lideranças em prol do bem comum. A articulação entre diferentes segmentos é vista como fundamental, integrando setores como indústria, comércio, agronegócio e mineração que buscam por avanços para se manterem competitivos.
Hoje, o Movimento Minas 2032 segue consolidado como um dos mais importantes e plurais indutores de conscientização do Estado. No entanto, o caminho rumo aos objetivos desejáveis continua desafiador e requer uma mobilização ainda mais comprometida por parte das empresas.
Passados dez anos desde que os ODS foram instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), e com apenas cinco anos até o prazo estabelecido, apenas 7% das 169 metas estão em situação satisfatória. “Isso mostra o quanto ainda temos a percorrer. É possível que os objetivos sejam revistos antes mesmo do prazo final, mas independentemente disso, o caminho a ser trilhado ainda é longo”, pontua Adriana Muls.
Os resultados, ainda aquém do esperado, reforçam a necessidade de novas reflexões, especialmente para lideranças quanto ao papel exercido na contribuição para contornar esse cenário. Questionamentos como: que tipo de contribuição a empresa oferece, que cultura dissemina dentro da organização e de que forma está alinhada com essa agenda, são apontados pela executiva como essenciais para uma liderança transformadora, especialmente em setores controversos.
Além de fomentar reflexões, a proposta do Movimento Minas 2032 faz um convite à ação, à mudança de culturas enraizadas e a transparência na construção de novos modelos, principalmente em setores estratégicos – não apenas como uma resposta ao compliance ou ao marketing, mas como um compromisso genuíno com o futuro. “Esses temas precisam ser ditos, discutidos, enfrentados e essa transformação só será verdadeira se vier de dentro, se a liderança compreender realmente o seu papel”, acrescenta Adriana Muls.
Por ser uma vocação econômica histórica de Minas Gerais, a executiva reforça ainda a necessidade de entendimento da mineração como um setor importante: que gera empregos, movimenta cadeias produtivas e fornece insumos essenciais para as pessoas. Como serviço essencial, a ampliação do diálogo com o segmento a partir da agenda 2030 também considera fatores como economia, gestão e negócios e encara a sustentabilidade, não como uma proposta externa, e sim, uma condição para a longevidade dos negócios, inclusive para evitar que tragédias como as de Mariana e Brumadinho se repitam.
Nesse percurso rumo a um futuro melhor para as atuais e próximas gerações, o trabalho promovido por lideranças em ESG como Liliane Lana e Adriana Muls se encontram e constroem pontes para reflexão, compartilhamento de análises, disseminação de informações relevantes com diferentes setores da economia mineira. “Quero usar minha voz para sensibilizar outras lideranças, mulheres, gestores e profissionais a olharem para essas pautas com mais profundidade. Estamos buscando novos modelos para uma nova economia e isso é urgente, complexo e exige articulação”, conclui Adriana Muls.
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