Produção industrial de Minas Gerais recua 2,4%, maior índice em 14 meses

Sob impacto de juros elevados e turbulências no comércio internacional, a produção das indústrias em Minas Gerais recuou 2,4% em julho frente ao mês anterior. A queda é a mais acentuada em 14 meses no Estado e a primeira influência negativa no indicador geral, conforme aponta a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) Regional, divulgada na sexta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com retração de 8,3% em 2025, o segmento formado por máquinas, aparelhos e materiais elétricos foi a atividade com maior influência negativa. O setor, que produz eletrodomésticos, lâmpadas, pilhas, disjuntores, entre outros itens, segue pressionado por contextos que envolvem a elevada carga tributária e a dependência de componentes importados.
A queda na indústria em Minas Gerais também ocorreu na comparação com julho de 2024, cujo recuo foi de 0,7%, enquanto no Brasil houve aumento de 0,2%. Já no acumulado do ano, o setor industrial no Estado subiu 1,4%, taxa levemente superior ao avanço de 1,1% observado no País.
Responsável pela pesquisa, a analista Alessandra Coelho avalia que a redução em julho ocorre após um período de alta no mês anterior em um ano marcado altos e baixos na indústria estadual e nacional. Os efeitos, segundo ela, são decorrentes de um contexto econômico marcado pela elevada taxa de juros, hoje a 15% ao ano, encarecendo o crédito e dificultando o consumo e tomadas de decisão de investimentos.
No comércio internacional, o anúncio de aumento em tributações pelos Estados Unidos pode ter acarretado em maior insegurança por parte de empreendedores e investidores. “Dependendo do tipo de produto, o resultado observado em julho é uma defasagem de meses anteriores, mas certamente o anúncio de novas tributações gera insegurança”, acrescenta.
No acumulado dos últimos 12 meses, os segmentos com recuos mais acentuados foram de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-19,5%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (-10,8%). Bebidas (-9,2%) e produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-8,6%) também apresentaram queda no Estado.
Por outro lado, as maiores elevações ocorreram em celulose, papel e produtos de papel (14,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias” (8,5%) e máquinas e equipamentos (6,6%).
Tarifaço e juros elevados devem acentuar queda da indústria a partir do próximo mês
Na avaliação do economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Italo Spinelli, o comportamento da indústria mineira está alinhado ao desempenho nacional, embora apresente algumas particularidades. Os resultados em Minas, segundo ele, foram impactados porque setores importantes já estavam sendo afetados com barreiras comerciais mais elevadas, como o aço e biocombustível.
“A indústria metalúrgica e de produtos de metais estão sofrendo há um certo tempo e pode ser que nos próximos meses o reflexo do impacto tarifário será ainda maior”, destaca.
Nos próximos meses, o levantamento deve captar de forma mais clara os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil, em vigor desde agosto. Para Spinelli, o contexto tende a ampliar o impacto sobre os setores exportadores e pressionar ainda mais a produção da indústria local.
No cenário interno, mesmo com a redução de indicadores inflacionários, a expectativa gira em torno da manutenção dos juros elevados. “Esse cenário desestimula o crédito, o investimento produtivo e o consumo das famílias, sobretudo sobre bens duráveis e pode ser um fator limitador para expansão do setor, especialmente da indústria da transformação”, conclui o economista.
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