Crédito verde impulsiona transição agrícola em Minas Gerais

A agricultura regenerativa é fundamental para o futuro do planeta, pois reconstrói a saúde do solo, aumenta a biodiversidade, captura carbono da atmosfera para mitigar as mudanças climáticas e melhora a qualidade e quantidade de alimentos. Ao adotar práticas como plantio direto, rotação de culturas e conservação da água, a agricultura regenerativa não só atende à crescente demanda por alimentos mais éticos e sustentáveis, mas também se torna uma estratégia essencial para a saúde do meio ambiente e a resiliência dos sistemas agrícolas.
Minas Gerais é um celeiro do agronegócio e também de desenvolvimento sustentável. Prova disso é que o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), sempre atento às tendências e demandas mundiais, estabeleceu, já há alguns anos, uma série de critérios e metas para nortear a injeção de recursos de fomento, entre eles o incentivo à agricultura de baixo carbono.
Em vistas de dar sua contribuição neste processo, a instituição financeira e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio da Embrapa Cerrados, lançaram, em 2022, o LabAgroMinas – um Programa cujo objetivo é fomentar uma agricultura de alta qualidade e competitividade associada à produção de ativos ambientais e de valor compartilhado.
Com vistas a dar sua contribuição a esse processo, a instituição financeira e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio da Embrapa Cerrados, lançaram, em 2022, o LabAgroMinas, programa cujo objetivo é fomentar uma agricultura de alta qualidade e competitividade associada à produção de ativos ambientais e de valor compartilhado.
A analista da Superintendência de Agronegócios do BDMG, Luisa Lembi, explica que a iniciativa foi estruturada com a participação de assistência técnica pública e privada e crédito diferenciado para estimular práticas agrícolas sustentáveis e climaticamente inteligentes.
“Vemos um desafio importante em Minas Gerais no que diz respeito à forma de produzir, associado à atividade agropecuária, que é muito tradicional e também extremamente relevante para nossa economia, mas que enfrenta desafios relacionados às mudanças climáticas. O BDMG, a partir de seu planejamento estratégico de longo prazo, quer auxiliar o setor a gerar um impacto ambiental positivo”, explica.
O próprio LabAgroMinas reconhece que, atualmente, não existe consenso único e formal, nem no Brasil nem no mundo, sobre o que exatamente configura agricultura regenerativa ou quais práticas a definem. No entanto, há convergências importantes entre as definições adotadas por diferentes instituições, movimentos e programas.
Apesar da ausência de um marco único, há práticas recorrentes amplamente reconhecidas como regenerativas. São elas:
- Uso de plantas de cobertura;
- Adição de matéria orgânica ao solo;
- Integração de árvores nos sistemas produtivos (agroflorestas ou SAFs);
- Rotação de culturas e consórcios;
- Uso reduzido de agroquímicos;
- Regeneração da microbiota e da estrutura do solo;
- Gestão hídrica eficiente;
- Bem-estar animal em sistemas integrados, como o ILPF.
Linhas de crédito verdes
Na prática, a atuação do BDMG neste projeto ocorre por meio de cooperativas de crédito, que financiam projetos de estruturação da fertilidade do solo, com uso de bioinsumos, remineralizadores e mix de plantas de cobertura, além da implantação de biofábricas, sistemas biodigestores e sistemas de compostagem.
Com essas linhas, os produtores conseguem investir no seu ativo mais relevante, o solo, e, a partir desse investimento, os benefícios são solos mais saudáveis, que permitem maior infiltração de água, plantas que crescem com mais saúde e resiliência a eventos climáticos extremos, alimentos de maior qualidade para o consumo e maior competitividade em mercados cada vez mais exigentes. Além disso, ao utilizar insumos locais e, muitas vezes, produzidos na própria propriedade, reduz-se a dependência de insumos externos e, com isso, caem os custos de produção.
São duas linhas disponíveis:
O BDMG Solo Mais tem como alvo os produtores rurais de Minas Gerais, pessoas físicas ou jurídicas, e podem ser financiados os seguintes itens:
- Insumos: remineralizadores de solo (pós de rocha), condicionadores de solo (calcário, gesso), fertilizantes naturais, bioinsumos, sementes de plantas de cobertura e sementes ou mudas de árvores;
- Equipamentos/implementos e sistemas de irrigação para projetos já enquadrados como regenerativos ou comprometidos com a transição;
- Assistência técnica;
- Capital de giro.
Já as condições são: taxa prefixada de 10,81% ao ano, prazo de 36 meses, com a primeira amortização 12 meses após a liberação do recurso e possibilidade de financiar até 100% do projeto.
O BDMG Bioinsumos é voltado para produtores rurais – pessoas físicas ou jurídicas -, associações de produtores legalmente constituídas, cooperativas de produção, consórcios rurais ou condomínios agrários localizados em Minas Gerais. Os itens financiáveis são:
- Obras civis e de infraestrutura para a implantação de unidades de produção de bioinsumos, sistemas de compostagem e sistemas biodigestores;
- Equipamentos, instalações elétricas, eletrônicas, hidráulicas e de tratamento de efluentes para a produção de bioinsumos e biofertilizantes;
- Equipamentos laboratoriais;
- Mão de obra associada às obras civis e instalações;
- Assistência técnica;
- Capital de giro (até 20%).
Nesta linha, há duas modalidades: taxa prefixada de até 10,81% ao ano em 36 meses ou taxa pós-fixada à Selic + 3,5% ao ano em 60 meses.
Além disso, o projeto inclui capacitações gratuitas, que, nos últimos dois anos, reuniram mais de mil produtores e profissionais de assistência técnica interessados no processo de transição da agricultura convencional para a regenerativa.
Segundo a analista do BDMG, essa etapa funciona, inclusive, como instrumento de disseminação e conscientização dos produtores rurais acerca da agricultura regenerativa.
“Percebemos a necessidade de levar conhecimento para o produtor rural, para os profissionais de assistência técnica, os consultores e engenheiros agrônomos que estão no dia a dia do campo e até pegar na mão deles para fazer esses projetos acontecerem. Isso mexe com um paradigma: estamos propondo que mudem a forma de fazer seus negócios. O apoio técnico é crucial para conseguirmos alavancar o crédito e dar o suporte financeiro adequado ao produtor. Agora estamos realizando processos de mentoria também, voltados para projetos práticos e reais”, diz.
Por isso, neste ano, o LabAgroMinas traz novidades. Os produtores que contratarem financiamentos entre setembro e novembro também vão contar com mentoria de consultores especializados e suporte da Embrapa, visando não apenas refinar os projetos agrícolas, mas acompanhar sua implementação por cinco meses. Além disso, o BDMG está desenvolvendo um fundo mitigador de riscos.
“Trata-se de uma iniciativa dentro do Laboratório de Inovação Financeira do Finance in Common (FiCS Lab). Tudo isso visa driblar os desafios e barreiras que ainda existem. Agora temos esse fundo garantidor de crédito como mais um suporte para a transição do produtor rural. Esperamos que seja mais um alavancador do processo de transição”, explica.

Resultados no campo
Todas essas iniciativas já têm gerado resultados. Em maio, o banco venceu o prêmio internacional Alide 2025, da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras para o Desenvolvimento, na categoria “Produtos Financeiros”. A iniciativa premiada foi justamente o modelo de financiamento a produtores rurais mineiros via cooperativas, que inclui o programa LabAgroMinas.
Além disso, vários produtores mineiros já estão colhendo, literalmente, os frutos da iniciativa. Florimar Moreira Neto, por exemplo, percebe que, na sua lavoura de café em Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, os grãos estão mais sadios e resistentes às pragas.
“Peguei empréstimo para comprar uma colheitadeira de café, já que tinha muitas dificuldades para colher os frutos na hora adequada, prejudicando as safras atual e futura. Com a máquina, este ano colhi os frutos no momento certo. Além disso, prestei serviços para meus vizinhos, o que vai ajudar no pagamento da parcela do equipamento”, conta.
Segundo ele, com o procedimento, a qualidade do grão está melhorando. O solo está mais equilibrado e absorve melhor os nutrientes e a água. Com isso, gasta menos com insumos e produtos químicos.
“Hoje vendo minha produção para uma cooperativa. A meta é agregar valor ao produto, criar uma marca própria e colocá-la no mercado”, revela.
O acesso ao crédito por meio do BDMG também viabilizou o projeto do produtor Jan Luitje de construir um laboratório para multiplicar defensivos naturais em Unaí, no Noroeste de Minas. O holandês, que está no Brasil há 40 anos, produz milho, soja, arroz, beterraba, couve-flor, entre outros produtos, e conta que a biofábrica era um desejo antigo da família, que sempre buscou alternativas para a dependência dos defensivos químicos na Fazenda Agro Verde.
“Com o laboratório, controlamos as pragas com bioinsumos, que são mais eficientes e baratos. Além disso, entregamos produtos mais saudáveis aos consumidores. Reduzimos o uso de produtos químicos que, em excesso, causam desequilíbrio no solo. É impossível descartar 100% os químicos, mas queremos ser mais independentes em relação a eles”, explica.
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