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Mineira cria algoritmo para detectar fraudes em obras públicas

Método, baseado na Lei de Benford, ajuda a prevenir sobrepreço e má gestão de recursos públicos
Mineira cria algoritmo para detectar fraudes em obras públicas
Os estudos da auditora Flávia Ceccato Rodrigues da Cunha sobre a aplicabilidade da Lei de Benford na detecção de fraudes em obras públicas começaram em 2011 | Foto: Ana Antonelli

Metodologia desenvolvida pela auditora do Tribunal de Contas da União (TCU) e pesquisadora do Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), Flávia Ceccato Rodrigues da Cunha, que permite identificar fraudes e inconsistências em grandes planilhas orçamentárias, especialmente em obras públicas, ganhou mais dois reconhecimentos em 2025. Nacionalmente passou a integrar o RankBrasil e nos Estados Unidos, recebeu o Prêmio Golden Fellow pelo seu livro “Descobrindo a Inteligência Existencial: Ferramentas, Insights e Implicações”, consolidando sua trajetória como uma das vozes mais influentes na interseção entre ciência de dados e controle público.

O método, baseado na Lei de Benford, ajuda a prevenir sobrepreço e má gestão de recursos públicos. A Lei de Benford ou Lei do Primeiro Dígito, é um princípio estatístico que afirma que, em muitos conjuntos de dados reais (como populações, rios, finanças), o dígito “1” aparece como primeiro dígito com muito mais frequência (cerca de 30%) do que outros dígitos (como “9”, que aparece raramente, abaixo de 5%), seguindo uma distribuição decrescente. Essa lei, que contraria a intuição de que todos os dígitos teriam chances iguais, é usada como ferramenta poderosa em auditorias e investigações para detectar fraudes e anomalias em dados financeiros, fiscais e contábeis, pois dados manipulados ou inventados tendem a não seguir essa distribuição natural.

“A aplicação da Lei de Benford funciona como uma peneira estatística: ela destaca os pontos fora da curva e orienta o auditor a investigar onde podem estar os riscos de manipulação ou superfaturamento”, explica Flávia Cunha.

Os estudos da auditora sobre a aplicabilidade da Lei de Benford na detecção de fraudes em obras públicas começaram em 2011 quando fazia a pesquisa para o seu mestrado. De lá pra cá foram vários prêmios, participação em congressos, palestras e treinamentos desenvolvidos.

Entre as premiações recebidas pela auditora nascida em Belo Horizonte, estão uma menção honrosa no Prêmio SOF de Monografias, promovido pela Secretaria de Orçamento Federal e pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), em 2015. No ano seguinte, foi vencedora do Prêmio Reconhe-Ser do TCU, na categoria Ideia Inovadora.

Em 2015, a metodologia deu origem a um algoritmo e, agora, se transformou em uma ferramenta digital, ganhando uma camada de inteligência artificial. Antes operado em Excel, passa a ser baseado em JavaScript e é capaz de gerar relatórios automáticos e destacar inconsistências em segundos.

A expectativa é que a ferramenta digital seja utilizada pelo Tribunal de Contas da União e outros tribunais, mas ela não será aberta na internet.

“Após 10 anos consegui desenvolver a ferramenta em HTML e para isso precisei aprender a programar e a usar a inteligência artificial. O programa não ficará aberto na internet para evitar que fraudadores também o utilizem. Mas estou disposta a compartilhar meus conhecimentos com órgãos da administração pública que acharem que a pesquisa pode ser útil”, completa a pesquisadora do CPAH.

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