Opinião

EDITORIAL | Mudança nem nas aparências

Faz tempo que, no Brasil, o setor público gasta muito e gasta mal, sem ser preciso contar que nos seus cofres existem ralos em contínua atividade. Uma situação que ajuda a explicar a ineficiência crônica da máquina pública, o aumento contínuo e muito além do razoável dos tributos e a virtual institucionalização do balcão de negócios em que se transformaram os organismos públicos. De tudo isso restam, mais evidentes na atualidade, as ações do Ministério Público e da Polícia Federal, tendo como eixo grandes contratos e, em particular, a Petrobras.

A rigor, talvez se não pela escala, nada que efetivamente se possa rotular como novo. Até as reações de alguns políticos irados que vestiram camisas amarelas e foram para a rua condenar a corrupção, um deles hoje preso depois que foi encontrado, na Bahia, um apartamento transformado em espécie de cofre para guardar R$ 50 milhões em dinheiro vivo, tudo isso com fortes evidências de participação do hoje presidiário.

Com o passar do tempo – e a aproximação das eleições –, parece cada dia mais evidente que aqueles movimentos foram impulsionados muito mais pela ambição que propriamente por virtudes. Nada, afinal, parece ter mudado, se não a frustração daqueles que, de boa-fé, se exaltaram para condenar a rapina de que o Estado brasileiro foi vítima e hoje deveriam estar pelo menos constrangidos.

Como está se aproximando a hora de votar, é preciso ter tudo isso bem claro. Entendendo-se, inclusive, que aquilo que ganhou os holofotes é apenas parte do todo. Não são apenas os milhões de dólares depositados em paraísos fiscais ou as joias da esposa de um ex-governador e hoje presidiário que definem e medem a corrupção de que tanto se fala. Um pente-fino, para valer e absolutamente independente, revelaria facilmente que a rapina na verdade não foi estancada, talvez tenha se tornado apenas mais discreta. Que ninguém se engane, os drenos continuam abertos, às vezes tomando formas mais sutis, como no caso da repartição pública que consome quase todos os seus recursos com a folha de pagamentos, nada ou quase nada restando para investimentos.

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Quem, como a grande maioria dos brasileiros, continua acreditando que é preciso mudar, que tudo, absolutamente tudo, na esfera pública precisa ser tratado com mais cuidado. E tão longe quanto possível da ideia de que é preciso mudar sim, desde que seja para deixar tudo como está.

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