Opinião

A conta que não é nossa

Há pouco mais de uma semana e por conta do anúncio, pela Petrobras, de nova majoração dos preços dos derivados do petróleo, o País voltou a viver o pesadelo de uma nova ameaça de greve dos caminhoneiros, com bloqueio de rodovias e todas as consequências já bem conhecidas. Felizmente eram apenas boatos ou, para usar a expressão mais moderna, fake news. Houve tempo e mais disposição e por certo seria interessante, além de extrema utilidade, averiguar de onde partiram conversas tão inoportunas. Se existem recursos técnicos que permitem rápida investigação a respeito, estranha-se que não haja a mesma disposição.

Constata-se, dessa forma, e à primeira vista, que o perigo não chegou a existir, embora seja evidente que, nesse particular, continuamos caminhando no fio da navalha, com riscos de enormes proporções, aliás bem evidenciados na corrida aos postos que voltou a acontecer.

Uma situação que poderia ser evitada, a partir da adoção de uma política de preços para os derivados do petróleo que fosse ao mesmo tempo mais racional, mais próxima portanto do interesse da economia e do interesse nacional e não alinhada, conforme vem acontecendo desde o ano passado, com a especulação promovida internacionalmente, justamente a partir da fixação dos preços do petróleo, ditados por conveniências que absolutamente não são as nossas.

É preciso relembrar para os mais desavisados o quanto a economia brasileira sofreu nos anos 70, no século passado, quando pela primeira vez a Organização dos Países Produtores de Petróleo, a então temida Opep, pela primeira vez mostrou suas garras. A partir daquele momento passou a ser política de Estado, para o Brasil, fazer todo esforço possível para elevar a produção interna de petróleo e, quase como um sonho, alcançar a autossuficiência para escapar da especulação internacional, patrocinada ou consentida pelos países ricos.

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Para o Brasil, hoje detentor de reservas medidas e comprovadas que já figuram entre as maiores do planeta e praticamente autossuficiente na produção de óleo cru, o sonho se realizou, embora ainda não tenha produzido plenamente os efeitos esperados. No período, e por razões que não encontram explicações, a capacidade de refino encolheu e ao mesmo tempo aumentou o consumo de refinados, que hoje são em parte importados. Nada porém que sustente a tese do alinhamento de preços com o mercado internacional, já que o País exporta óleo e assim se beneficia tanto das altas de preços quanto da valorização do dólar americano.

Definitivamente não é este o caminho para recuperar a Petrobras, cujos lucros acabam de bater recorde. Mas pode ser, e com toda certeza, o caminho para levar as dificuldades econômicas do País a um nível insustentável.

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