Opinião

EDITORIAL | Desequilíbrio é planetário

O planeta acumulou, a partir de 2008, quando eclodiu a crise financeira que colocou a economia mundial muito próxima do colapso, dívidas que somam hoje US$ 247,1 trilhões. Este valor corresponde a incremento de 291% e representa mais que três vezes o valor de tudo que é produzido. Resumindo, estes dados significam, na opinião de um dos ex-presidentes do Banco Central Europeu, que o cenário hoje é tão arriscado quanto na quebra do banco Lehman Brothers, que marcou o início da crise de 2008. Assim como parece significar claramente que os erros e distorções então detectados não foram corrigidos e, pior, se agravaram.

Objetivamente este desequilíbrio estrutural sugere que a economia mundial se apresenta hoje ainda mais frágil, quadro que se completa, ou se amplia, por conta das incertezas no campo político, a partir dos Estados Unidos. Para completar, lembram estudiosos, apesar da situação crítica, do aumento do estoque da dívida, além de um limite razoável, a expansão média das bolsas de valores chega aos 36%, num evidente artificialismo que adiante pode tomar a forma de uma nova bolha. E num processo em que os riscos maiores estão reservados aos países mais pobres. No período estudado, as dívidas dos países desenvolvidos cresceram de 376,8% do Produto Interno (PIB) para 382%, enquanto nos países emergentes o salto foi de 147,3% para 211,1%.

Dinheiro farto e barato, mas a rigor sem lastro, produziu este quadro, em que durante anos as economias mais ricas trabalharam com juros negativos, desviando para a especulação financeira recursos que deveriam estar alimentando a produção, a geração de riquezas e o consumo. Uma fartura ilusória, que também aumentou a concentração da renda, o que significa dizer também que fez crescer a pobreza, produzindo uma conta que a rigor não tem como ser paga.

O fundamental a observar é, em primeiro lugar, que o reequilíbrio estabelecido em 2009 foi apenas ilusório, o mesmo se aplicando à recuperação anunciada na sequência. Tudo artificial, tudo literalmente sem lastro, com os países ricos e as lideranças mundiais rapidamente esquecendo o susto e, com a mesma velocidade, os discursos que falavam em mudanças, que condenavam o que eles mesmos chamaram de “especulação ensandecida” e prometendo que a sustentação do equilíbrio seria garantida com a valorização da produção e do comércio, acompanhada de medidas – inteligentes – destinadas a expandir a oferta de empregos, melhorar a distribuição da renda e, na ponta, possibilitar o crescimento do consumo. Em síntese, restabelecer as bases de racionalidade da economia.

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Absolutamente não foi o que aconteceu e, a julgar pelos relatos mais recentes e que parecem não ter sido considerados e tratados com a importância que merecem, estamos todos, mais uma vez, à beira do abismo. Triste destino.

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