EDITORIAL | Vazio que preocupa
Faltando apenas duas semanas para o primeiro turno das eleições gerais, as atenções prosseguem concentradas nas pesquisas de opinião que apontam os resultados previsíveis, principalmente para a Presidência da República. Na mesma proporção os ânimos se acirram, com os candidatos, quase sempre, trocando acusações – quando não ofensas – entre si, o que evidentemente empobrece o debate que deveria ser o ponto focal de todo o processo e expressão mais alta do exercício da democracia. Nesse ambiente, em que é também grande o descredito com relação à política e aos políticos, candidatos e eleitores parecem não se dar conta do tamanho dos problemas e dos desafios que o País tem pela frente.
Especialmente no que toca à recuperação da economia, evidente pré-requisito para as ações esperadas do poder público, os candidatos, todos eles, se mostram evasivos e superficiais, alguns reconhecendo que existiram problemas à frente, outros nem isso, mas todos prometendo que as correções devidas virão, com o País reencontrando a trilha do crescimento com toda a sua carga de efeitos positivos. Preocupa, e muito, tamanha superficialidade, até porque o debate, mesmo truncado, está também deslocado de seu leito natural, como se fosse possível esquecer que a governabilidade depende de uma coalisão parlamentar que prossegue distante do horizonte e da realidade palpável. Ou nos remete, forçosamente, às praticas em que a corrupção se nutre e a troca de favores anula, ao mesmo tempo, mérito e competência, reproduzindo dessa forma, como único resultado, as dificuldades que hoje os brasileiros conhecem tão de perto.
Não se pode admitir, principalmente nessa etapa final que antecede a votação, que se continue tentando ignorar as proporções do desequilíbrio fiscal que, prosseguindo ascendente e ao contrário do que o atual governo prometia, coloca o setor público muito próximo de uma situação de colapso, em que até mesmo serviços essenciais podem estar comprometidos. Esta é a realidade que candidatos fingem ignorar ou para a qual propõem soluções simplistas, dizem que corrigirão as mazelas que em alguns casos apontam até enfaticamente mas são sempre simplistas e superficiais, deixando de explicar sobre qual alicerce construirão a base política capaz de lhes dar suporte para decisões que serão necessariamente difíceis e amargas.
Tudo isso parece estar deixando no ar uma amarga sensação de vazio, uma desilusão que se traduz em falta de esperança e que pode ser percebida também nas pesquisas divulgadas, em que chama atenção o número de eleitores ainda indecisos, sem contar os que dizem que não votarão ou anularão seus votos, numa espécie de renúncia à cidadania.
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