Florence criou a “photografie”
Cesar Vanucci*
“Hercules Florence conseguiu resultados superiores aos de Daguerre…” (“Wikipédia”, a enciclopédia livre)
Nesta breve recapitulação da história da arte fotográfica chegamos, finalmente, às pesquisas de Daguerre, na França, e aos experimentos de Hercules Florence, no Brasil. O sistema de Niépce foi apurado, através de método de revelação de chapa mais eficaz. O francês ficou célebre como o descobridor do princípio da fixação, ao conseguir, com técnicas que soube desenvolver, provas positivas mais perfeitas do que as produzidas até então. Era o ponto de partida de uma viagem infindável. Dali pra frente, as conquistas foram se acumulando, conforme registros extraídos da Wikipédia e da Enciclopédia Abril.
1. Em 1841, William Henry Fox Talbot substituiu a placa banhada em prata pelo papel. 2. O vidro voltou a ser temporariamente usado, em substituição ao papel, até que surgiu, em 1873, o celuloide. 3. Em 1882, George Eastman fabricou os primeiros modelos portáteis de aparelhos fotográficos. 4. Até 1887, só se obtinha fotografia com luz natural. Foi quando Gaedicke e Niethe apareceram com o chamado flash. Do estrondo produzido pela queima do pó de magnésio, até o clarão gerado eletronicamente, um bom caminho foi percorrido.
5. Em 1861, outro avanço: a primeira fotografia em cores. James Clerk Maxwell exibiu, orgulhoso, o fruto de pacientes investigações. Antes, o que havia, em matéria de imagem fixa policrômica eram as fotos em preto e branco, pintadas à mão por hábeis artesãos-fotógrafos, com retoques por vezes generosos, ao gosto do freguês retratado. 6. Em 1893, John July deu outro passo adiante. A foto em cores nascida de uma única projeção. No processo anterior de Maxwell eram necessárias três fotos para se elaborar a cena colorida desejada. A película em cores já seria conquista do século XX.
E depois? As passadas tornaram-se cada vez mais largas. As máquinas que permitem revelações instantâneas. As teleobjetivas. As microfotografias, os microfilmes, reduzindo ao tamanho de uma cabeça de alfinete, ou algo comparável, o conteúdo de milhares de livros. As fotos feitas pelos satélites, a milhares de quilômetros de altitude, captando detalhes que o próprio olhar humano não pode alcançar. Os registros fotográficos automáticos das naves que varam a imensidão cósmica e que remetem imagens desconcertantes obtidas a milhões e milhões de quilômetros. Os chips da mágica eletrônica moderna. As fotos colhidas com o manuseio de celulares. As câmeras sem filmes ainda não digitais. As câmeras digitais. Tudo isso e muita coisa portentosa, que a nossa inteligência talvez ainda não consiga imaginar em sua real proporção, representam o desdobramento prático das incipientes investigações daqueles momentos inaugurais da era fotográfica. Daquele esforço silencioso desenvolvido em laboratórios improvisados, dotados de toscos equipamentos, de homens como o franco-brasileiro Hércules Florence e o francês Louis Jacques Mandé Daguerre, autênticos contemporâneos do futuro, para quem as fronteiras do conhecimento estiveram sempre fixadas no infinito.
Sobre Antoine Hercules Romuald Florence, francês de nascimento, brasileiro de coração, residente em Campinas, onde se casou e teve, em duas uniões, vinte filhos, netos, bisnetos e, até, tataranetos, algumas coisas importantes restam ainda para ser contadas. O jornalista e professor Boris Kossoy, no livro “1833: A descoberta isolada da fotografia no Brasil”, editado em 1980 (editora “Duas Cidades”), fez exaustiva pesquisa sobre seu trabalho como inventor. Retirou-lhe o nome da penumbra do esquecimento, garantindo-lhe lugar de realce, ao lado de Daguerre, entre os personagens que disputam perante a história a paternidade da fotografia.
Florence nasceu em 1804, em Nice. Estudou artes plásticas. Veio para o Brasil em 1824. No Rio de Janeiro, trabalhou como caixeiro em casa comercial. Integrou, na condição de desenhista, expedição científica do naturalista russo Langsdorff. Em 1829, fixou-se em Campinas, São Paulo. Lançou ali um invento, a “Polygrafie”, criando seu próprio meio de impressão, já que não dispunha de um prelo. A partir desse invento, entregou-se a outros experimentos, chegando a um processo de gravação, por meio da luz, que batizou de “Photografie”. Isso, em 1832, três anos antes de Daguerre. Já em 1833, utilizava chapa de vidro em câmara escura. A imagem colhida era “capturada” em papel sensibilizado. O processo por ele bolado, considerado mais eficiente do que o de Daguerre, permaneceu oculto do conhecimento mundial por muitos anos. Mas, hoje, já existe algum reconhecimento internacional de seu papel como inventor. Para isso contribuíram muitíssimo a pesquisa e o livro de Kossoy.
* Jornalista ([email protected])
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