Brasil terá de negociar com os EUA

Genebra – Empresários estrangeiros e brasileiros sugerem que o Brasil se prepare para negociações bilaterais com os Estados Unidos (EUA) e alertam que as críticas feitas por Donald Trump contra as medidas protecionistas brasileiras devem ser vistas como uma estratégia da Casa Branca para negociar.
Na segunda-feira (1º), Trump atacou a relação comercial com o Brasil. Ao responder sobre o que considera relações comerciais injustas para os EUA, Trump disse que empresas americanas se queixam do Brasil como “um dos mais duros do mundo”.
John Denton, presidente da Câmara de Comércio Internacional (ICC, sigla em inglês), considera que o Brasil precisa se preparar para negociar com os americanos. “Todas as políticas de governo que não contemplem negociações bilaterais não estariam fazendo justiça aos cidadãos do país. Isso deve ser uma opção. E o País deve estar preparado”, afirmou Denton, que representa seis milhões de empresários em mais de cem países.
“Há uma visão generalizada nos EUA de que uma ação direta e bilateral é mais eficiente que a multilateral e, de uma certa forma, isso está se provando ser verdadeiro neste momento”, disse. Segundo ele, o governo Trump colocará em sua agenda todos os assuntos e setores que possam criar um déficit para a economia americana. “Ele acredita genuinamente que uma conversa bilateral tem mais chance de chegar a um resultado mais rápido. Seria um erro em Brasília pensar que essa não seria a estratégia usada”, alertou.
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Denton, porém, também defende que economias como a do Brasil e Índia “olhem para o futuro”. Caso contrário, ele acredita que as “tensões irão continuar”. Nos últimos anos, o ICC tem alertado que a economia brasileira é a mais protecionista entre os membros do G-20. “Alguns trens precisam começar a deixar a estação, como o da economia digital”, defendeu.
Presidente do escritório da ICC no Brasil e vice-presidente do Conselho de Diretores da Suzano Papel e Celulose S/A, Daniel Feffer vê os comentários de Trump como um sinal do que pode vir pela frente. “O que certamente Trump está fazendo neste momento é demonstrando o estilo dele de negociar perante o novo governo que vai chegar no Brasil”, declarou. “Está mostrando que é assim que a gente joga, põe o pé na porta e depois entra para conversar”, afirmou.
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Objetividade – Para o executivo, o Brasil terá de ser “muito objetivo” ao negociar com Trump. Mas também sugere que o País se lance em suas reformas.
“Se não houver agenda interna, você não vai para agenda externa preparado”, disse. “Para você se preparar para negociar com o Trump, tem que fazer a agenda interna, fazer a lição de casa para passar de ano, e não estamos fazendo a lição de casa”, alertou o executivo, em uma referência a reformas, melhor infraestrutura, acesso ao capital e redução de impostos.
Na avaliação de Feffer, Trump também tem suas dificuldades no comércio com o Brasil. “Vamos ter de mapear, como os subsídios americanos para diversos setores da indústria, explícitos ou não. Isso vai entrar na pauta”, destacou. De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria, 83,4% de tudo o que o Brasil hoje exporta para os EUA são bens industrializados. (AE)
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