Economia

Diversidade incentiva inovação nas empresas

Diversidade incentiva inovação nas empresas
Tânia Cosentino disse que serão precisos 100 anos para que haja mesmo número de mulheres e homens nas companhias / Divulgação

Em meio a um debate global e irreversível sobre questões de gênero e etnia, os empresários brasileiros ainda parecem ignorar que a diversidade, mais do que uma forma de justiça social, é crucial para a sobrevivência das companhias, por oferecer justamente o que faz os negócios crescerem e sobreviverem: outras perspectivas de mundo. O tema foi debatido não só em painéis específicos do 19º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em São Paulo, nesta semana, mas em várias sessões, especialmente nas que abordaram inovação.

A primeira pesquisa Global Director Survery, realizada pela Global Network of Directors Institutes e divulgada em primeira mão durante o evento, revela que 72% dos respondentes brasileiros declaram que a diversidade de gênero foi pouco ou nada importante no recrutamento mais recente de candidatos, ao conselho de administração de suas empresas, enquanto no resto do mundo 49% tiveram esse posicionamento. Menos de 1% dos empresários brasileiros classificam a diversidade de gênero como extremamente importante, enquanto a média global foi de 16%.

Já no campo da diversidade étnica, nenhum respondente brasileiro considera a questão extremamente importante em suas contratações. O estudo foi realizado entre os meses de maio e junho deste ano, junto a 2.159 conselheiros de administração e profissionais de governança de 17 países, sendo que o Brasil representou 8% das respostas.

Vanguarda – O coordenador-geral do Capítulo Minas Gerais do IBGC, Enio de Melo Coradi, acredita que a tendência é a evolução, mas que ainda leva-se tempo para mudar toda uma cultura. “O ser humano está em processo de evolução frequente, mas a geração de cultura não acontece da noite para o dia, é um processo longo, uma jornada. Alguns países estão mais avançados que nós, porque começaram mais cedo, nós somos um país jovem, a própria democracia é algo recente. E o mineiro, especificamente, tem vários encantos e pontos positivos, mas a vanguarda não é um deles. A gente costuma ter um olhar mais desconfiado, conservador, mas as coisas estão mudando”, comenta.

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Alguns cases apresentados no congresso, no entanto, mostram que a mudança da percepção do empresariado brasileiro sobre a diversidade e inclusão não é só urgente para o mundo e os tempos atuais, mas necessária para a perenidade e o impulsionamento dos negócios.

Na sessão “Evolução da cultura organizacional e diversidade como diferencial competitivo”, a general Manager da PayPal, Paula Paschoal, explicou que o fator de competitividade nas empresas é maior quando há diversidade não só de gênero, mas de raça, de formação, de idade, de etnia: “Quanto mais pessoas de diferentes históricos e realidades estiverem no nosso grupo, mais vamos ter um ambiente melhor, produtivo e com receita muito maior do que se só estiverem ali homens brancos de 35 anos e com a mesma formação”.

Outra participante da sessão, a regional Communication and Public Affairs Officer da Toyota, Viviane Mansi, acredita que, mais do que ter pessoas diversas na empresa, é preciso incluí-las de fato nas decisões. “Temos que ampliar o diálogo de forma que mais gente participe, para não termos só a visão de pessoas que pensam igual. A mudança tem que acontecer no nível do comportamento e não no do resultado, afinal, todo CEO já sabe o resultado que ele quer ter. Mas o comportamento é justamente o que é difícil de se mudar e é por isso que os CEOs têm que estar abertos ao que é diferente do que eles pensam”, pontuou.

Já durante a sessão “Questões sociais e éticas relacionadas à governança”, o palestrante Alexandre Di Micelli, consultor, professor e pesquisador na área de governança corporativa e ética empresarial, acrescenta que a mudança da cultura na empresa tem que começar pelo alto escalão. “A mudança tem que ocorrer na cabeça das lideranças das empresas. O conselho tem que exibir a cultura que espera da organização, então, o primeiro passo está na escolha do líder da companhia, que é quem vai implementar essa mudança. Ele tem que aceitar a divergência de opiniões e ser a diversidade que espera que sua organização tenha”.

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Mulheres – Além disso, Di Micelli reitera que a inclusão de mulheres, por exemplo, nos altos cargos das companhias, significa lucro e idoneidade. “Há vários estudos que mostram que as mulheres têm comportamentos mais éticos e que claramente as empresas que têm mais diversidade de gênero na alta gestão alcançam desempenho financeiro e social maiores, além de menor índice de fraude. As empresas que estão interessadas em avançar devem considerar incluir o elemento diversidade. É muito claro que o sucesso empresarial do século XXI dependerá da capacidade das empresas terem ética, governança corporativa e um propósito além do lucro”, concluiu.

*A repórter viajou a convite do IBGC

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