Opinião

EDITORIAL | Interesses a defender

O mercado, esta entidade que não tem cara nem endereço, mas certamente muito poder, reagiu bem aos resultados no primeiro turno das eleições, principalmente por conta da vantagem alcançada pelo candidato Jair Bolsonaro. Créditos, nesse particular, também para o economista Paulo Guedes, da escola de Chicago e apontado como ultraliberal. Faz sentido, mas sustos não deixaram de acontecer, por exemplo, quando Bolsonaro declarou, em entrevista, que seu programa de privatização terá limites, excluindo a área de geração da Eletrobras. Segundo o candidato que as pesquisas apontam como dono de maiores chances no segundo turno, não faz sentido entregar para estrangeiros áreas estratégicas.

O susto foi mesmo grande e a reação do mercado imediata, com as ações da Eletrobras levando um tombo que chegou aos 15%. Mais que sensibilidade ou razão, um recado impertinente e alguma dose de especulação. E, pelo menos para os mais atentos, sem motivo. O candidato, que talvez por conveniência alguns tentam pintar como alguém disposto a vender tudo que encontrar comprador, deixou bem claro que existem áreas sensíveis e também estratégicas, apontando como exemplo o petróleo. Para ele, atrair investidores para bons negócios está bem longe se se promover uma espécie de grande liquidação. Preservar o que convém e liquidar o que está sobrando como a estatal criada – e mantida até agora – para construir o trem-bala entre São Paulo e Rio de Janeiro.

De fato, não faz sentido produzir lucros para quem opera na Bolsa de NovaYork vendendo derivados de petróleo a preços da especulação internacional, impondo ao consumidor interno pressões que, já parece evidente, não poderão ser suportadas por muito tempo mais. Por mais que o “mercado” diga o contrário parece evidente, aqui também, que seus interesses estão em outra órbita, aquela que nutre a especulação e penaliza a produção, impondo desajustes que ajudam a explicar parte das dificuldades que o País enfrenta ou as dificuldades enfrentadas por indústrias que perderam a competitividade ou, no extremo, foram liquidadas no processo de desindustrialização que também rouba empregos empobrece a maioria e concentra renda.

As reações do mercado, que muitos ainda tomam como uma bula sobre a qual não compete discutir, na realidade e nesse particular contam pontos a favor do candidato. Afinal, não há como negar que ele está absolutamente certo quando diz que não podemos entregar nosso sistema elétrico a estrangeiros ou antecipa que a política de preços da Petrobras terá que ser revista, o que pode ser feito sem comprometimento de seu desempenho.

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